No século I d.C, um grupo de judeus radicais, denominados Sicários, infiltravam-se em multidões para com a sua pequena adaga, a sica, uma espécie de punhal curvo, assassinar líderes ou civis que, na sua opinião, eram cúmplices da ocupação romana da Judeia. Ou seja, praticavam aquilo que hoje entendemos por atos terroristas.

O exemplo acima serve para demonstrar que terrorismo como o conhecemos e definimos hoje, existe desde tempos imemoriais. A expressão “terrorismo”, no entanto, foi cunhada apenas durante a Revolução Francesa,  e, curiosamente, com uma conotação positiva — o terror era exercido pelas facções mais radicais da mesma revolução — os jacobinos — para perseguir e eliminar aqueles que ameaçavam os célebres ideais Liberté, Egalité, Fraternité. É no chamado Período do Terror que são executados na guilhotina o rei Luís XVI e Maria Antonieta, entre milhares de outros.

No século XIX, o terrorismo emerge na Rússia pela ação de grupos anarquistas e revolucionários que agem contra o Estado — ao contrário do que se passava em França. O terrorismo passa, assim, a ser uma acção praticada de baixo para cima, contra os poderes instalados. O grupo Narodnaya Volya ou A Vontade do Povo é um dos mais ativos: após várias tentativas, consuma o regicídio do czar Alexandre II, recorrendo a engenhos explosivos, uma novidade à época.

São esses grupos os precursores do terrorismo enquanto veículo de comunicação e propaganda para uma causa, não só junto dos seus alvos mas também da opinião pública, aproveitando o surgimento, nesta época, do telégrafo, que ajuda a difundir as notícias com maior rapidez. Os ataques contra reis, imperadores e presidentes sucedem-se ao longo do início do século XX, em Portugal, Itália, França, Estados Unidos ou na Áustria — é o atentado que mata o arquiduque Francisco Fernando que espoleta a I Guerra Mundial, em junho de 1914.

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Ao longo do século XX serão grupos separatistas como o IRA, o Irish Republican Army da Irlanda do Norte, e a ETA, Euskadi Ta Askatasuna, no País Basco, em Espanha, a utilizar o terrorismo como braço armado da luta política pela independência dos seus territórios. Na Argélia, a luta anticolonialista da Frente de Libertação Nacional, cujas ações eram consideradas terroristas pelo governo francês da altura — à imagem do que sucede no caso de Portugal com as primeiras ações da FNLA e do MPLA em Angola —  leva sectores da extrema-direita francesa a contra-atacar com uma outra organização terrorista, a OAS (Organisation Armée Secrète), que perpetra diversos ataques, não só no Norte de África mas também em Paris, onde chegam, inclusive, a tentar assassinar o então Presidente da República, o General De Gaulle.

As motivações diferem, como se vê, mas para quem o pratica o terrorismo é sempre moralmente justificável em nome de uma causa. E à medida que o mundo se torna mais global e as notícias circulam sem fronteiras, a mensagem chega a um número cada vez maior de pessoas. E mais depressa.

A Al-Qaeda, primeiro, e o Estado Islâmico, depois, beneficiam deste novo mundo globalizado para consegui exponenciar o terror provocado pelos seus ataques. As imagens do ataque às Torres Gémeas, a 11 de setembro de 2001, correm mundo: milhões de pessoas assistem em direto à queda das torres. As medidas de segurança nos aeroportos de todo o mundo são apertadas a partir desse momento.

Já os atentados reivindicados pelo Estado Islâmico em diversas cidades europeias, a partir de 2015, criam uma percepção de constante ameaça, não só pela sua rápida difusão como pelos locais ou eventos escolhidos — concertos, zonas de bares e restaurantes, ruas pedonais e mercados. Tudo em nome, neste caso, do chamado jihadismo, um modo de luta (o significado original da palavra jihad) violento contra os inimigos do Islão, luta essa que os extremistas defendem que é necessária para impor a restauração da lei de Deus na Terra (sharia) e para defender a comunidade muçulmana contra infiéis e apóstatas (pessoas que deixaram a religião).

E é aqui que entra…. “A Unidade”.

É precisamente sob a ameaça do terrorismo islâmico que se debruça o novo thriller policial do AXN, “A Unidade”. Desenvolvido durante dois anos, com base em testemunhos inéditos de diversos profissionais de contraterrorismo, a série parte da detenção em Melilla, território espanhol do Norte de África, de um líder jihadista — o que torna Espanha um alvo apetecível para novos atentados.


Cabe então a uma unidade especial da polícia secreta espanhola assegurar que essa ameaça não se concretiza, sem que a população se aperceba dos riscos que corre. O desafio de conjugar a missão com as vidas pessoais acrescenta uma dose de realidade à série — os agentes são retratados como mulheres e homens de carne e osso que são, com problemas iguais aos de tantas outras pessoas.

Tal como os autores da série entrevistaram agentes infiltrados e acompanharam-nos, inclusive, em missões no terreno, também os atores principais estiveram em contato próximo com agentes. E foi nesses contatos que se inspiraram para dar pele a personagens como Carla (interpretada pela atriz Nathalie Poza), a comissária-chefe desta unidade, Marcos (Michel Noher) que é ao mesmo tempo o seu braço direito e ex-companheiro, o chefe de operações Sergio (Luis Zahera), os inspetores Miriam (Marian Álvarez) e Ramón (Carlos Blanco) ou a agente infiltrada Najwa (Fariba Sheikhan). A segurança de um país depende deles. O mesmo país que, no mundo real, foi lesto a reconhecer os méritos desta série, que acaba de ser distinguida com os prémios MiM de Melhor Série Dramática e Melhor Realizador, para Dani de La Torre, que além de realizar, escreveu também o argumento em conjunto com Alberto Marini. Um argumento verossímil, sustentado em modus operandi reais, com muito trabalho de pesquisa envolvido, mas que, pese tudo isso não passa de ficção. Excelente ficção.