Correu, nadou, pedalou. Fez milhares de quilómetros nos Estados Unidos. Não para ter uma medalha, não para bater recordes, não para subir a um qualquer pódio. Apenas para ver Rick sorrir. Dick Hoyt, o pai que ultrapassou todos os limites pelo bem-estar e felicidade do filho nascido tetraplégico e com uma paralisia cerebral morreu aos 80 anos.

A Team Hoyt tornou-se durante 32 anos num dos ícones da maratona de Boston e por isso não admira que tenha sido a organização da prova a comunicar a sua morte, depois de uma insuficiência cardíaca, nesta quarta-feira.

A ligação entre pai e filho através do desporto surgiu quando Rick tinha 10 anos. Sem conseguir falar, a criança comunicava através do sorriso e a família tinha dificuldades em compreendê-lo. Até que um dia, em 1972, a Universidade Tufts, do estado do Massachussetts, desenvolveu um computador para Rick conseguir ultrapassar esta barreira. Quando experimentou a máquina, a primeira coisa que disse foi “vão Bruins!”, numa alusão à equipa de hóquei no gelo de Boston.

Ao perceber a paixão (até então desconhecia) do filho pelo desporto, Dick percebeu que podia utilizá-la para incentivar e dar qualidade de vida a Rick. Daí até à primeira corrida, em 1977, foram cinco anos. O pai decidiu pendurar as botas de guarda nacional e calçar as sapatilhas e juntos correram as cinco milhas de uma prova dedicada a um evento de caridade, com o pai a empurrar a cadeira de rodas onde ia o filho.

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No final da prova, Rick disse ao pai que durante aquelas 5 milhas não se tinha sentido incapacitado. E assim nasceu a “Team Hoyt”.

Quando o meu pai e eu estamos lá fora numa corrida, um elo de ligação especial forma-se entre nós”, disse Rick Hoyt em 2009 ao The New York Times.

A partir deste momento, a dupla participou em mais de mil corridas, incluindo 32 participações na Maratona de Boston, da qual se tornaram numa das imagens de marca, pela perseverança e resiliência demonstradas. Em 1992 chegaram mesmo a correr a maratona da Marinha em menos de 3 horas, conseguindo assim a melhor marca do escalão de Dick (50-59 anos).

A “simbiose” entre os dois tinha-se tornado mais forte do que nunca.

Tu és o corpo e eu sou o coração”, dizia sempre Rick ao pai, de acordo com o seu outro irmão Russ, citado pela Boston 25 News.

O exemplo do esforço e dedicação do pai pela vida do seu filho culminou em dois grandes acontecimentos: a vitória no “ironman” e a viagem de bicicleta de 6.000 quilómetros pelos Estados Unidos da América.

A equipa desafiou todas as barreiras e conseguiu bater o desafio atlético mais difícil do mundo, percorrendo mais de 270 quilómetros a correr, a pedalar e a nadar. Para cumprir essa proeza, Dick utilizou um bote de borracha para transportar o filho durante os 53 quilómetros de natação.

Na parte do ciclismo, a Team Hoyt utilizou uma bicicleta “tandem”, de dois lugares, para percorrer uns incríveis 180 quilómetros. Mas a dupla não se ficou por este registo, participou em mais 5 provas “ironman” e conseguiu atravessar os Estados Unidos da América de uma ponta à outra, percorrendo mais de 6.000 quilómetros de bicicleta em cerca de 45 dias, em 1992.

Dick Hoyt tornou-se numa figura mediática, dando vários discursos inspiracionais antes e depois de se retirar de vez das corridas. Em 2013, foi-lhe dedicada uma estátua onde aparece com o filho junto à linha da meta da Maratona de Boston, onde dezenas de pessoas se juntaram para o homenagear. Os tributos à sua morte voltaram agora, encabeçados pelo da Associação Atlética de Boston (BAA), que organiza a maratona:

É com tremenda tristeza que tomamos conhecimento da morte do ícone da Maratona de Boston, Dick Hoyt. Dick personificou o que significa ser um Maratonista de Boston, terminando 32 corridas com o filho Rick. Temos os seus muitos familiares e amigos nas nossas orações”; diz a publicação.