Um programa de saúde mental destinado a falantes de português disponibilizado no oeste de Toronto “estará em risco”, alertou uma deputada canadiana, mas o hospital e o governo garantem a “continuidade de serviços”.

Marit Stiles, deputada provincial eleita na Davenport pelo NDP (esquerda), naquele que é o maior distrito eleitoral no Canadá com portugueses, manifestou-se preocupada após ter sido informada da situação por instituições comunitárias e por médicos que operam junto da comunidade portuguesa de Toronto.

“Há uns anos, membros da comunidade de língua portuguesa na Grande Área de Toronto juntaram-se a profissionais de saúde mental para resolver a falta de serviços desta natureza disponíveis em língua portuguesa. Foi criado um programa de saúde mental comunitário, mais recentemente desenvolvido com muito sucesso no UHN (Sistema de Saúde Universitário) do Hospital do Oeste de Toronto”, escreveu a deputada, numa carta endereçada à ministra da Saúde do Ontário, a conservadora (direita) Christine Elliott, a que a agência Lusa teve acesso.

A deputada descreveu que a Clínica Portuguesa de Saúde Mental e de Toxicodependência disponibiliza essencialmente três serviços básicos, a assistência geral composta por um serviço de tratamento e de consulta, um serviço de dependências e de adições, e um serviço intensivo na gestão de casos para pessoas com doenças mentais graves, com os clínicos que falam português a trabalhar sob a supervisão de um psiquiatra.

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O “problema deve-se ao facto de esse clínico estar de saída da UHN e realocar a prática para a comunidade” no final de junho de 2021.

“Ao que tudo indica, o programa tem sido extremamente bem-sucedido, atendendo de 500 a 600 novos pacientes por ano, criando mais de 1.000 utentes anualmente. Infelizmente, sabemos que a clínica está a ser fechada”, lamentou, chamando a atenção de que a unidade de saúde já não está a encaminhar novos utentes para aquele programa.

“Embora tenha sido informada que o hospital ainda pode acomodar pacientes que falam português, estou profundamente preocupada com o facto de que esse serviço essencial não será oferecido à comunidade no seu idioma. Se o problema é que muitos pacientes estão a ser encaminhados, certamente a solução é aumentar os recursos e verbas para o programa, e não encerrá-lo”, advertiu.

Entretanto, o gabinete de comunicação do centro hospitalar, refere, em comunicado que os clínicos de saúde mental que falam português “continuam disponíveis e vão continuar a prestar cuidados na sua própria língua a doentes portugueses que necessitem de avaliação, diagnóstico e terapia de saúde mental”, permanecendo a trabalhar em parceria com o médico de família do utente para “apoiar os serviços de saúde mental mais adequados às suas necessidades”.

“Sabemos que os médicos da comunidade valorizam os serviços de saúde mental e vícios prestados na UHN e estamos confiantes de que a Clínica de Saúde Mental Comunitária, a funcionar em parceria com os médicos de famílias e agências comunitárias de saúde mental, atenderá às necessidades dos pacientes de uma variedade de origens culturais que vivem no oeste de Toronto, incluindo a comunidade portuguesa”, garantiu aquela unidade hospitalar.

A deputada da Davenport salientou que a clínica comunitária não é a mesma destinada exclusivamente à comunidade de expressão portuguesa, e pede à ministra provincial que não permita o “fim do programa”, pois a “meio de uma pandemia o apoio à saúde mental é cada vez mais importante”, com o número de casos de pessoas que sofrem e procuram ajuda a aumentar a “cada dia que passa”.

“Em nome da minha comunidade e da comunidade de língua portuguesa em Toronto, peço-lhe que analise imediatamente esta situação e garanta que a Clínica Portuguesa de Saúde Mental está financiada e operacional. Se o Sistema de Saúde Universitário não puder acomodar a clínica, peço que outro local seja identificado. A comunidade não pode perder este serviço essencial”, apelou.

Entretanto, o gabinete da ministra Christine Elliott diz que o governo provincial “está totalmente comprometido com um apoio culturalmente seguro à saúde mental e à dependência dos habitantes do Ontário de todas as idades”.

“No início do ano passado, o Ontário lançou o Roteiro para o Bem-Estar: Um Plano para Construir o Sistema de Saúde Mental e de Dependências. Para habilitar o caminho para o bem-estar, o nosso governo está a investir 3,8 mil milhões de dólares canadianos (2,5 mil milhões de euros) em 10 anos para criar novos serviços e expandir programas. Embora o ministério regule e financie hospitais públicos, os hospitais são corporações independentes governadas pelo seu conselho de administração”, explica-se na nota.

No comunicado enviado por correio eletrónico, o governo provincial garantiu que “tem estado em comunicação com o hospital” e assegurou que os apoios culturalmente apropriados “vão continuar conforme sejam necessários”.