O Lar Nossa Senhora das Dores, Vila Real, chamou a atenção para o impacto da Covid-19 nestas instituições e, um ano depois, a segurança é a regra, o rastreamento é mensal e as visitas fazem-se através de um vidro.

O surto de novo coronavírus detetado em 22 de março de 2020 naquela instituição particular de solidariedade social (IPSS) atingiu cerca de 100 pessoas, entre idosos (72) e funcionários.

No lar, localizado no centro da cidade de Vila Real, prefere-se falar do presente e do futuro, e dos “cuidados rigorosos” que são cumpridos para manter a segurança dos utentes e de quem lá trabalha.

“Muito cuidado e tentativa que todos nós tenhamos noção que os cuidados são aqui dentro e são lá fora”, afirmou a diretora técnica do Lar Nossa Senhora das Dores, Maria do Carmo Varejão.

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A responsável apontou o constante uso de equipamento de proteção individual, o trabalho em espelho, o rastreio mensal e as visitas feitas à distância, através de um vidro.

Talvez esta seja uma das consequências mais dolorosas da pandemia e que, há um ano, impede o toque, o abraço ou o beijo entre os idosos e os seus familiares.

A maior parte dos residentes, segundo Maria do Carmo Varejão, tem consciência de que é tudo “por uma questão de segurança” e lá dentro, onde os jornalistas não puderam entrar, “faz-se o máximo” para encurtar o distanciamento familiar, nomeadamente através de videochamadas e a realização de diversas atividades.

Os procedimentos foram impostos por causa da pandemia de Covid-19 e são comuns aos de muitas outras estruturas residenciais para idosos.

Mas, para o presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, o surto no Lar Nossa Senhora das Dores foi “precursor de um caminho que obrigou o Estado central a organizar-se e a criar regras”.

“Ficou ali claro que Portugal não estava preparado, não sabíamos o que fazer confrontados com uma situação daquelas”, afirmou o autarca socialista.

Naquela semana de março de 2020, mês em que foram detetados os primeiros casos Covid-19 em Portugal, após muitas hesitações e recuos, os utentes da IPSS foram sendo retirados para o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), para o Hospital Militar do Porto e, a grande maioria, para o hospital de Vila Real do grupo privado Trofa Saúde.

Após a evacuação mediática do edifício, com filas de ambulâncias e muitos operacionais envolvidos na ação, o lar foi descontaminado pelo Exército e o regresso dos utentes foi feito de forma faseada, após a sua recuperação.

O último regressou 90 dias depois e, associados à Covid-19, verificaram-se oito óbitos.

“Foram dias de grande intensidade, mas também de grande aprendizagem. Aprendemos a fazer, fazendo”, afirmou Rui Santos.

O autarca referiu que quando a câmara foi chamada a intervir dentro do lar estavam “sete ou oito funcionários”, também eles infetados, a tratar de todos os idosos.

“A memória mais vincada que tenho é um apelo que me fizeram, à janela da instituição, de ajuda para sair. Isso sensibilizou-me e trouxe-me uma responsabilidade acrescida no sentido de ajudar quer os utentes, quer os funcionários”, contou.

Rui Santos disse que se conseguiu uma “boa solução”, com os dados que tinham e com o que se sabia à época.

Antes da evacuação do lar, um grupo de voluntários do Exército e da Cruz Vermelha entrou no edifício para ajudar no apoio aos idosos.

“Olhando para trás, julgo que fizemos bem, que tomamos as atitudes certas, radicalizámos o discurso, fizemos um braço de ferro até com o Governo, mas esse foi o caminho adequado para tranquilizar as famílias e salvar vidas. Era isso que estava em causa”, salientou.

E hoje, salientou, tomaria “exatamente a mesma decisão”. “Se não tirássemos de lá os idosos não tínhamos quem tratasse deles”, referiu.

Atualmente, o lar possui 60 utentes e 62 funcionários no ativo. Na IPSS já todos foram vacinados contra a Covid-19.

“Estamos com menos 20 residentes do que aquilo que tínhamos para podermos ter áreas de isolamento”, explicou Maria do Carmo Varejão.

Menos utentes significam menos mensalidades, no entanto, o número de funcionários mantém-se, os gastos diários em proteção “aumentaram muito” e, tudo isto, segundo a responsável, tem “um impacto enorme na vida financeira da instituição”.

Desde o início da pandemia foram contabilizados 3.942 casos positivos de infeção pelo novo coronavírus e 62 óbitos no município de Vila Real. Na sexta-feira havia 15 casos ativos.

Rui Santos adiantou ainda que, no concelho, foram administradas 8.000 doses da vacina contra a Covid-19 e lembrou que este foi o primeiro município do país a montar um centro de vacinação.

A pandemia teve impactos a nível da saúde e económicos. Comparando os meses de fevereiro de 2020 e 2021, há, segundo o autarca, “mais 45 desempregados”.

“E há, sobretudo, uma grande incerteza em relação ao futuro. Este é um daqueles anos que nunca mais esqueceremos na vida”, frisou.