A derrota frente ao Arsenal foi como um murro no estômago para o Benfica, que chegou à Grécia sem dúvidas de que seria capaz de ultrapassar os ingleses na Liga Europa mas acabou vergado a uma derrota consentida na parte final quando tinha a eliminatória na mão, mas a equipa deixou então alguns sinais de retoma que só não tiveram uma outra repercussão pelo resultado. Nos encontros seguintes, as melhorias confirmaram-se. Mais do que isso, a equipa voltou a ser consistente. Consistente em termos defensivos (não sofreu qualquer golo), consistente na forma de criar oportunidades no último terço, consistente no controlo dos momentos do jogo, consistente até no plano físico. Em termos práticos, além da confirmação da presença na final da Taça de Portugal, os encarnados ganharam apenas dois pontos aos três primeiros classificados mas houve uma recuperação que estava agora à prova.

“É muito importante podermos ganhar em Braga porque ainda acreditamos no primeiro lugar. Ganhando amanhã [domingo] passamos o terceiro, vamos tentar recuperar até chegar atrás do primeiro e depois ver o que pode dar, se ainda temos possibilidades de chegar ao primeiro lugar, sabendo, que jornada a jornada, vais tendo cada vez menos hipóteses. Sabemos que temos de melhorar mas ainda faltam muitas jornadas e no futebol tudo pode acontecer”, destacava Jorge Jesus na véspera do encontro no Minho, falando antes de saber que Sporting e FC Porto tinham voltado a ganhar esta ronda, colocando ainda mais pressão sobre o derrotado dessa partida.

Do lado do Sp. Braga, Carlos Carvalhal perspetivava “um grande jogo de futebol”, passando ao lado de uma série de nove vitórias e um empate nos últimos dez jogos em casa e das duas vitórias já conseguidas na presente temporada frente aos encarnados. “São duas equipas boas, bem organizadas e com ideias de jogo definidas. Vamos a jogo com vontade de competir e de vencer, sabendo que vamos defrontar um dos adversários mais difíceis da competição, que está numa curva de ascensão. Também temos estado em bom plano, com vitórias e golos, por isso espera-se um bom jogo. Cada jogo depende da atitude dos jogadores, do comportamento coletivo e individual, da concentração e dos níveis de controlo emocional. Depende de muita coisa para vencer o jogo, o grau de confiança mais alto que o normal, porque todos nós acreditamos que podemos vencer outra vez”, frisara.

Mesmo com a expulsão do Fransérgio a marcar de forma indelével o rumo dos acontecimentos, o jogo foi mesmo bom. Não foi “grande” porque a última meia hora já teve um Benfica mais a gerir os momentos da partida com uma vantagem de dois golos mas mostrou que, quando estão bem, são duas das melhores equipas do Campeonato. No entanto, até mesmo antes do vermelho, o Benfica foi melhor. Com um esquema tático diferente que recuperou a linha de três que jogara contra o Arsenal, com dinâmicas diferentes que deram outra vida a Weigl, Adel Taarabt e sobretudo Waldschmidt, com movimentações já conhecidas mas com outra definição. ” Quando o Rafa souber definir o último passe dele, o da decisão, passará a ser um jogador de top. Ele já é um grande jogador, aí é top”, tinha dito Jorge Jesus após a vitória frente ao Rio Ave. Esta noite, Rafa foi mesmo de top. Na eficácia, na qualidade do último passe, na capacidade de saída, na velocidade nas transições. E terminou como o melhor em campo no dia em que cumpriu o 200.º jogo na Liga entre Sp. Braga e Benfica, os clubes que o levaram à Seleção.

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O encontro começou com as equipas a utilizarem o mesmo esquema tático mas com movimentações e dinâmicas distintas e um pormenor que mostrou desde início a qualidade do jogo: a vontade de ter bola, de avançar com bola e de reagir da melhor forma à perda da bola. Waldschmidt, numa boa zona de pressão feita logo à entrada da área dos minhotos, conseguiu ainda intercetar um passe de Matheus para Tormena mas o guarda-redes foi a tempo de corrigir o erro numa saída aos pés do alemão (3′). Pouco depois, o mesmo Waldschmidt, arrastando-se mais para a esquerda para deixar espaço Grimaldo para entrar na zona entre lateral e central (um movimento semelhante ao que deu ao espanhol o golo no Dragão), lançou o número 3 dos encarnados mas Matheus fez bem a “mancha” (10′). O Sp. Braga tinha qualidade no jogo em posse, nunca abdicava de sair a construir a partir de trás mas o Benfica era o conjunto com mais e melhores soluções no último terço e o único a conseguir criar oportunidades.

Por mais do que uma vez os minhotos tinham bolas que a maioria das equipas iria varrer para a frente mas que colocavam no chão sempre à procura de referências que pudessem lançar a transição mas Weigl e Taarabt tinham conseguido ganhar a zona do meio-campo e davam margem para Waldschmidt brilhar na zona entre a linha de três defesas e a dupla Al Musrati-Fransérgio, onde nasceu mais uma jogada de perigo com o alemão a receber e lançar Seferovic nas profundidade antes de ser rasteirado por Matheus já na área, o que valeu uma grande penalidade que seria depois anulada por posição irregular do suíço (24′). Também nas segundas bolas havia um Benfica melhor e mais intenso, sendo que o Sp. Braga deixou uma primeira ameaça pouco depois da meia hora com Ricardo Horta a explorar bem a profundidade mas a cruzar atrasado para corte providencial de Otamendi (32′).

O encontro encaminhava-se para o intervalo mas em menos de dez minutos tudo mudou de figura e de uma forma radical: na sequência de um livre lateral, Seferovic cabeceou para defesa por instinto de Matheus (39′); Fransérgio, no mesmo minuto, viu o segundo amarelo num lance em que chegou atrasado a uma bola ganha por Rafa perto da sua área mas que poderia dar uma transição perigosa e foi expulso com muitas queixas dos minhotos pela questão do critério na amostragem de cartões (Ricardo Esgaio antes e Weigl depois tiveram infrações também para cartão alinhando pelo mesmo diapasão mas escaparam); Helton Leite fez bem a “mancha” no único erro de Otamendi durante o jogo, naquela que foi a oportunidade mais flagrante dos arsenalistas no decorrer da primeira parte; Rafa, após mais uma grande saída que encontrou Seferovic mais na esquerda a soltar-se de Tormena e a lançar o avançado vindo de trás, marcou o golo inaugural da partida no terceiro minuto de descontos.

Carvalhal teria de reformular o posicionamento da equipa jogando apenas com Ricardo Horta e Lucas Piazón na frente tendo ainda o apoio de João Novais e das duas unidades que faziam os corredores laterais, Esgaio e Galeno, ao passo que Jesus preparava a formação encarnada para uma segunda parte com mais posse e sabendo que um segundo golo “matava” o encontro. No entanto, fruto da pressão possível dos elementos mais adiantados, uma falta em zona frontal deu oportunidade a João Novais para testar a sua meia distância que ficou muito perto do empate, com a bola a bater com estrondo na trave de Helton Leite (50′). O aviso estava deixado, não só pela “bomba” do médio que entrara para equilibrar a equipa após a expulsão de Fransérgio mas também pela forma como a equipa minhota tentava pressionar tendo menos um. No entanto, o segundo golo mudou mesmo as contas.

Já depois de um remate com perigo de Rafa que passou perto do poste da baliza de Matheus, o Benfica explorou uma tentativa de saída dos arsenalistas para fazer o 2-0 numa jogada com tanto de simples como de bonita, prática e eficaz: Seferovic foi a referência no primeiro passe, a bola entrou em Rafa, o suíço procurou a profundidade com uma linha de passe ao mesmo tempo que Waldschmidt abria outra na direção contrária e não falhou na cara de Matheus após assistência do avançado que foi desta vez chamado por Fernando Santos à Seleção (57′). Com mais uma unidade em campo e dois golos de vantagem, os lisboetas tinham o jogo na mão e podiam ter outra gestão.

Dez minutos depois, o mesmo Seferovic teve um grande cabeceamento a ir buscar a bola atrás no movimento mais natural após cruzamento de Taarabt da direita mas Matheus fez uma grande intervenção a evitar males maiores. Carvalhal ainda lançou Sporar para ter outro tipo de referência na frente mas até pelo desgaste físico acumulado pela intensidade do jogo e pela inferioridade numérica já não houve o Sp. Braga tão capaz de responder ao atraso no marcador a não ser em lances de bola parada, sempre aproveitados para criar perigo junto da baliza de Helton Leite apesar de mais uma grande exibição defensiva da equipa, que deixou apenas por uma vez Sporar aparecer em boa posição para marcar na área antes da melhor intervenção do guarda-redes brasileiro (80′).