O Bloco de Esquerda questionou esta segunda-feira o Governo português sobre a disponibilidade para colaborar com Moçambique na coordenação da ajuda humanitária na região de Cabo Delgado devido aos “ataques de grupos insurgentes que têm provocado uma profunda instabilidade” naquela zona.

Numa pergunta, enviada através do parlamento sobre a ajuda humanitária em Cabo Delgado, destinada ao ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, o BE quer saber se o Governo considera “urgente o auxílio humanitário a Moçambique”.

“O norte da província de Cabo Delgado, em Moçambique, tem sido fustigado por ataques de grupos insurgentes que têm provocado uma profunda instabilidade na região. Desde 2017 que existem atentados que instalam na região um verdadeiro clima de guerra civil, mostrando-se o governo moçambicano incapaz de controlar a situação”, refere.

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Assim, os deputados bloquistas Alexandra Vieira e Pedro Filipe Soares, pretendem saber se o executivo português, no âmbito das relações bilaterais, está disponível para colaborar com o governo moçambicano na coordenação da ajuda humanitária na região de Cabo Delgado e quando prevê que essa ajuda possa começar.

“No âmbito das relações multilaterais e na qualidade de Presidente do Conselho da União Europeia, que diligências está o governo português a encetar para colaborar com o governo moçambicano na resolução do conflito”, questiona ainda.

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O BE pergunta ainda ao ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros qual a disponibilidade de Portugal “para co-coordenar e colocar no terreno a ajuda humanitária”, pretendendo saber para quando está prevista uma intervenção humanitária internacional.

“Os efeitos desta crise têm sido devastadores para as populações. Além das mortes violentas e do recrutamento forçado de jovens, os ataques já provocaram a deslocação de mais de 700 mil pessoas em direção à capital da província, Pemba, das quais, estima-se que 300 mil sejam crianças“, pode ler-se na mesma pergunta.

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Esta situação, de acordo com o BE, “tem sido noticiada em todo o mundo e as organizações não governamentais no terreno têm denunciado o desastre humanitário que está a ocorrer”.

“Além da insegurança das populações que são forçadas a deslocarem-se, nos acampamentos em redor da capital tudo falta: água, alimentos, medicamentos, escolas, abrigos contra as intempéries. A fome poderá vir a ser sentida por mais de um milhão de pessoas, pois afeta também as comunidades que recebem as pessoas deslocadas”, relata.

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Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), os deslocados devido aos ataques armados em Cabo Delgado, norte de Moçambique, chegam agora a quase 700.000 e os números “continuam a aumentar”.

O alto comissariado tem assinalado que persiste um défice de 11 milhões de dólares (9,2 milhões de euros) para a operação no norte de Moçambique.

A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes.

Algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo “jihadista” Estado Islâmico entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.