É apenas uma impressão, uma tendência, uma espécie de reflexo instintivo. No entanto, quando existe a realização de uma prova de ciclismo e quando é dia de contrarrelógio, todos os pormenores contam. Até ao ponto intermédio, João Almeida foi sempre o grande destaque entre os corredores que estavam na estrada – mas isso podia significar apenas o estatuto que ganhou nos últimos meses no pelotão internacional. No entanto, e a partir daí, não só havia essa imagem do português como abriam também uma pequena janela com Rohan Dennis, que tinha o melhor tempo da etapa até esse momento. Depois rodou. Para Jai Hindley, para Richard Carapaz, para Geraint Thomas. Não foi suficiente para ultrapassar o australiano mas, naquele momento, dava liderança virtual.

Ciclista Rui Costa revela que foi atropelado por moto da corrida na Volta à Catalunha

A Volta à Catalunha não começou da melhor forma para os corredores portugueses, com Rui Costa, da Team UAE Emirates, a ser atropelado por uma mota, a ficar muito maltratado da perna e a ser obrigado a desistir ainda antes de terminar a primeira etapa de 178km realizada em Calella. João Almeida, esse, andou sempre no grupo que juntava todos os “tubarões” e que entre ataques, contra ataques e mais ataques nunca teve ninguém que agarrasse na corrida, conseguindo apenas diminuir o fosso criado para os quatro fugitivos que terminaram na frente com 16 segundos (mais as respetivas bonificações): Andreas Kron (Lotto-Soudal), Luis León Sánchez (Astana), Rémy Rochas (Cofidis) e Lennard Kämna (Bora). Que, em condições normais, iriam cair na classificação, à exceção do espanhol que poderia ainda conseguir um tempo suficiente para ficar nos lugares cimeiros.

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Antes de duas etapas duras de montanha, as mais complicadas a subir na prova deste ano, havia o contrarrelógio de 18,5km em Banyoles que serviria para fazer uma primeira divisão entre candidatos. Estava longe de qualquer contorno decisivo mas todos os segundos seriam discutidos ao limite para criar vantagens numa guerra que tinha várias equipas na luta entre Team UAE Emirates, Ineos, Bora ou Deceuninck Quick-Step, entre outras. Foi por isso também que, na última reta, João Almeida baixou a cabeça e deu tudo para acabar da melhor forma. E acabou tão bem que superou mesmo em menos de um segundo o registo do americano Brandon McNulty.

Rohan Dennis venceu o contrarrelógio com 22.27, menos cinco segundos do que Rémi Cavagna, companheiro de João Almeida na Deceuninck, e menos 28 do que o português, que superou McNulty por menos de um segundo. Steven Kruijswijk, da Jumbo, acabou na quinta posição a 33 segundos do vencedor, seguindo-se Richie Porte (35s), Adam Yates (35s), Josef Cerny (38s), Stefan de Bod (39s) e Geraint Thomas (47s). Na classificação geral, Almeida fica na frente com o mesmo tempo de McNulty, com três segundos de vantagem sobre Sánchez, cinco sobre Kruijswijk, seis sobre Porte, sete sobre Adam Yates e 19 sobre Thomas, oitavo atrás de Stefan De Bod.

De acordo com o Eurosport, que volta a seguir mais uma prova do World Tour, João Almeida é apenas o segundo português a liderar a Volta à Catalunha depois de José Freitas Martins, que liderou por um dia após a vitória no prólogo em 1974 e conseguiu mais tarde acabar no pódio na corrida de 1975 depois de terminar a Volta a Portugal de 1972 no segundo posto e de 1973 na terceira posição. Também em 1975, o corredor português nascido em Fafe, que esteve em equipas holandesas e espanholas, acabou a Vuelta no oitavo lugar da geral.