O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, prometeu esta terça-feira que até final do ano todos os brasileiros serão vacinados contra a Covid-19, garantindo que 2021 será “o ano da vacinação dos brasileiros”.

“Quero tranquilizar o povo brasileiro e afirmar que as vacinas estão garantidas. Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve, retomaremos nossa vida normal”, afirmou Bolsonaro num discurso transmitido pelas televisões. Somos incansáveis na luta contra o coronavírus. Essa é a missão e vamos cumpri-la”, acrescentou.

Bolsonaro prometeu ainda que “em poucos meses” o Brasil será auto-suficiente na produção de vacinas e garantiu que haverá doses para vacinar os brasileiros todos os anos.

“Não sabemos por quanto tempo teremos que enfrentar essa doença mas a produção nacional vai garantir que possamos vacinar os brasileiros todos os anos, independentemente das variantes que possam surgir”, garantiu o Chefe de Estado brasileiro.

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Com uma postura mais comedida do que o habitual, o Presidente brasileiro vincou que os seus maiores desafios são o “vírus e o desemprego”, garantindo que o seu governo nunca deixou de “tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia”.

As declarações de Bolsonaro, que se apresentou como um defensor da importância da vacinação, contrastam com as suas afirmações e ações ao longo do último ano, quando não só criticou a vacina como incentivou os brasileiros a não usarem máscara, desvalorizando a gravidade da pandemia.

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Conforme recorda o G1, em dezembro do ano passado, Bolsonaro disse que não tomaria a vacina, chamando “idiota” a quem o vê como mau exemplo, e afirmou que não seria responsável caso alguém que tomasse a vacina se transformasse num “jacaré”.

No seu discurso, Bolsonaro disse ainda que intercedeu pessoalmente junto da Pfizer para garantir a entrega de 100 milhões de doses da vacina até setembro deste ano. O que o Presidente brasileiro ocultou foi que o seu Governo recusou, no verão passado, 70 milhões de doses oferecidas pela mesma farmacêutica que poderiam ter chegado ao Brasil em dezembro.

Além disso, o Chefe de Estado brasileiro congratulou-se por o Brasil ser o quinto país que já administrou mais vacinas em todo o mundo, com “mais de 14 milhões de vacinados e mais de 32 milhões de doses de vacinas distribuídas”.

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No entanto, de acordo com os números da Our World in Data, o Brasil ocupa o 58.º lugar no ranking de vacinas administradas por cada 100 mil habitantes.

Segundo os dados do consórcio de jornais brasileiros, citados pelo G1, 6,04% dos brasileiros foram vacinados até à passada terça-feira, o que representa 17,1 milhões de doses aplicadas (12,7 milhões receberam a primeira dose e 4,3 milhões a segunda).

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O discurso de Bolsonaro coincidiu com o pior dia para o Brasil desde o início da pandemia, com o país a ultrapassar a barreira dos três mil mortos (3.251) num só dia, numa altura em que faltam camas nos cuidados intensivos e meios para responder ao agravamento da pandemia.

Desde o início da pandemia, o Brasil regista mais de 12 milhões de casos de infecção por SARS-CoV-2 e 298.676 pessoas morreram devido à Covid-19 no país.

Nos últimos sete dias, de acordo com os números do Our World in Data, o Brasil ocupa a 9.ª posição, com 11.92 mortes por cada milhão de habitantes. Em termos globais, desde o início da pandemia, o país ocupa a 21.ª posição em termos de mortes por cada milhão de habitantes.

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A crise sanitária no país levou o Senado brasileiro a aprovar uma moção, na terça-feira, a pedir ajuda à comunidade internacional na vacinação contra a Covid-19, alertando que o Brasil pode ser “um risco real para o mundo”.

O pedido de ajuda para enfrentar a “situação dramática” no Brasil destina-se às Nações Unidas, à Organização Mundial de Saúde, à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), ao G20 (grupo das economias mais poderosas do mundo), aos parlamentos de países com relações diplomáticas com o Brasil e aos laboratórios produtores de vacinas.

Os senadores brasileiros demonstraram particular preocupação com o desenvolvimento de novas variante do Coronavírus que se estão a converter numa “ameaça global”. Além disso, o Senado alerta que o processo de vacinação no Brasil está a ser lento e que está em risco devido à elevada procura de vacinas a nível mundial, afirmações que contrastam com as promessas feitas por Bolsonaro no mesmo dia.

Devido à sua gestão da pandemia, que 54% dos brasileiros considera que é má ou péssima, segundo a última sondagem da Datafolha, a popularidade de Bolsonaro tem vindo a cair, o que é apontado como um motivo para o Presidente brasileiro estar a tentar mudar o seu discurso, que, até agora, tinha sido de desvalorizar a gravidade da pandemia e descredibilizar as vacinas e as medidas de confinamento.

Bolsonaro tem também os olhos postos nas eleições do próximo ano, temendo que a reeleição lhe possa chegar, um cenário que começa a ganhar força com a entrada em cena de Lula da Silva, que, livre das condenações na Lava Jato, é apontado como um forte candidato à Presidência em 2022.