Ativistas dos direitos humanos bielorrussos denunciaram esta quarta-feira que as autoridades do país estão a intensificar a repressão contra as vozes dissidentes e detiveram esta quarta-feira dezenas de pessoas, na véspera de um protesto convocado a nível nacional.

A oposição bielorrussa está a convocar para quinta-feira manifestações que pretendem assinalar o Dia da Liberdade, o aniversário da declaração de independência do país em 1918. De acordo com o centro de direitos humanos Viasna, a polícia deteve esta quarta-feira pelo menos 42 pessoas em 10 cidades bielorrussas.

No início desta semana, a polícia deteve Mikalay Kazlou, o líder do Partido Cívico Unido (oposição), e Andzelika Borys, da direção da União de Polacos na Bielorrússia.

Andzelika Boris foi acusada de organizar uma reunião não autorizada e condenada a 15 dias de prisão, medida que a sua organização denunciou como “um ato de intimidação da minoria polaca“. A Bielorrússia atravessa uma crise política desde as eleições de 09 de agosto, que segundo os resultados oficiais reconduziram o Presidente Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos, para um sexto mandato, com 80% dos votos.

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A oposição denuncia a eleição como fraudulenta e reivindica a vitória nas presidenciais. Desde então, milhares de bielorrussos têm saído regularmente às ruas por todo o país para exigir o afastamento de Lukashenko, manifestações reprimidas com violência pelas forças de segurança da Bielorrússia.

A principal figura da oposição, Svetlana Tikhanovskaia, que recentemente esteve em Portugal e que procurou refúgio na capital lituana, Vilnius, exortou os bielorrussos a regressarem às ruas e a lançarem, na quinta-feira, uma nova onda de protestos contra Lukashenko.

As autoridades bielorrussas estão a proibir qualquer manifestação. O chefe da agência de segurança da Bielorrússia, que ainda tem a designação da era soviética (KGB), já veio advertir contra “as tentativas de desestabilizar a situação no país”. Já o Ministério da Justiça da Bielorrússia anunciou, por sua vez, que decidiu retirar a licença de exercício de profissão a um advogado que tem defendido vários opositores e jornalistas, identificado como Siarhej Zikratski.

As organizações de defesa dos direitos humanos apontam que o regime de Lukashenko já deteve mais de 33 mil pessoas desde que os protestos começaram na Bielorrússia, denunciando ainda que milhares terão sido vítimas de atos de violência. A União Europeia (UE) não reconhece os resultados das eleições bielorrussas de agosto e o Conselho Europeu decidiu prorrogar até fevereiro de 2022 as sanções aplicadas aos apoiantes do regime de Lukashenko.

Ainda a propósito dos protestos agendados para quinta-feira, a Amnistia Internacional manifestou preocupação face às manobras mais recentes das autoridades e exortou os diplomatas estrangeiros destacados na Bielorrússia a acompanharem as iniciativas e a monitorizarem possíveis atos de violência por parte da polícia.

O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas apelou esta quarta-feira à realização de “eleições livres e justas” na Bielorrússia e pediu ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos que investigue os abusos naquele país.

A resolução adotada no Conselho “condena as graves violações dos direitos humanos que continuam [a ser praticadas] na Bielorrússia, no âmbito das eleições presidenciais de 2020, incluindo a negação sistemática dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, as prisões e detenções arbitrárias de membros da oposição, de jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação, de ativistas dos direitos humanos e de cidadãos em geral”.

O texto, proposto pela UE, apela ainda a Minsk para que garanta a realização de “eleições livres e justas” e inicie um “verdadeiro diálogo” com a oposição política.