O ministro da saúde alemão, Jens Spahn, era visto como uma estrela em ascensão dentro do partido de Angela Merkel (CDU). Chegou mesmo a ser o político mais popular na Alemanha no final de 2020, superando inclusive a chanceler, sendo que muitos elogiaram principalmente a gestão da pandemia no país. No entanto, o político de 40 anos que confessara um dia querer candidatar-se a chanceler está agora debaixo de fogo, devido a três escândalos que poderão colocar em risco o seu futuro político.
O primeiro caso que abalou a popularidade do ministro foi o conhecido “jantar de 9.999 euros” divulgado pelo Der Spiegel no final de fevereiro, mas que remonta a 20 de outubro. Na manhã desse dia, Jens Spahn participou num programa de televisão no canal ZDF, transmitindo a mensagem de que os comportamentos individuais eram importantes para controlar a pandemia — e que era necessário reduzir os contactos fora do agregado familiar ao mínimo. À noite, organizou um jantar em Leipizig com uma dezena de empreendedores da região da Saxónia. Ainda que no menu constasse filet mignon e vinho tinto, o preço do jantar dificilmente explicava que a quantia de 9.999 euros tivesse sido transferida para as contas da secção do partido em Borken, na região da Vestfália do Norte, da qual o ministro fazia parte.
Markus Jasper, o secretário da secção de Borken da CDU, acabou por confirmar ao jornal Tagesspiel que foi uma doação, mas não avançou com a identidade de quem é que ofereceu o dinheiro. “Não podemos revelar a identidade devido à lei proteção de dados em vigor”, defendeu-se. E o caso ainda levantou mais controvérsia, por causa ao valor envolvido (9.999 euros), dado que todas as doações a partidos políticos na Alemanha acima de 10 mil euros não podem permanecer no anonimato.
Mas esta não foi a única implicação do jantar. A 21 de outubro, Jens Spahn testou positivo à Covid-19, mas o ministro garantiu que nenhum dos participantes ficou infetado. “Eu ficaria muito arrependido se tivesse infetado alguém sem saber”, afirmou, acrescentando que tal “não aconteceu, devido às medidas de precaução que foram tomadas”.
O caso das máscaras
Nem um mês depois do escândalo do jantar, o nome do ministro aparece associado a uma nova polémica. Em abril de 2020, o ministério da Saúde alemão escolheu, como intermediária para a compra de 570 mil máscaras FFP2 na Ásia, a empresa Hubert Burda Media GmbH, da qual o marido de Jens Spahn, Daniel Funke, é conselheiro. Este facto levantou suspeitas sobre um possível favorecimento — é que, ainda para mais, a Burda não era uma empresa de saúde, dedicando-se à área da comunicação.
Em abril de 2020, a diretoria da Hubert Burda Media ofereceu ao Ministério da Saúde para ajudar na aquisição de máscaras quando o governo federal estava a procurar com urgência por máscaras de proteção”, afirmou Paul-Bernhard Kallen, diretor-executivo da Burda.
Segundo o Der Spiegel, o valor da transação ascendeu aos 900 mil euros. A empresa garantiu, no entanto, que Daniel Funke nunca se “envolveu” nem “esteve informado” sobre o negócio. Além disso, a Burda afirma que nem sequer obteve qualquer lucro dele — apenas pretendia ajudar o país num momento difícil, tal como a Volkswagen ou a Lufthansa fizeram.
A compra da mansão em Berlim
No segundo semestre de 2020, o ministro da Saúde também foi bastante criticado pela compra de uma mansão, juntamente com o marido, por 4 milhões de euros no centro de Berlim..
O caso levantou polémica devido ao avultado empréstimo que Jens Spahn pediu à banco Sparkasse Westmünsterland para pagar a casa. O governante já tinha trabalhado enquanto membro do conselho de administração na instituição financeira entre 2009 e 2015, o que aumentou as suspeitas sobre um possível favorecimento do banco ao seu ex-funcionário.
As polémicas ajudaram a que, três meses após ser considerado o ministro mais popular, fosse visto como o principal responsável pelo processo de vacinação mais lento e pela crise gerada pela pandemia, segundo uma sondagem do Der Spiegel de março. Jens Spahn perdeu 65 pontos em termos de popularidade. E este estudo ainda nem sequer incluiu a recente polémica relacionada com a compra de máscaras.