A navegação no Canal de Suez está “temporariamente suspensa” até se conseguir desencalhar o navio porta-contentores que está a bloquear o tráfego marítimo desde quarta-feira de manhã, anunciou na quinta-feira a Autoridade Egípcia do Canal de Suez. As autoridades egípcias reabriram, entretanto, nesta sexta-feira, uma passagem antiga do canal para desviar algumas embarcações, dá conta a BBC, mas reabrir o via principal poderá levar semanas, apesar de as equipas que estão no local estarem a trabalhar incansavelmente para desencalhar o MV Ever Given.

O navio, do tamanho de um arranha-céus, parou o Canal de Suez, no Egito, quando, na noite de terça para quarta-feira, se atravessou devido a ventos fortes, sendo que, segundo as autoridades, já obrigava à paragem de 150 outros navios na quinta-feira.

Navio gigante fica encalhado no Canal de Suez e cria engarrafamentos

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O bloqueio do Canal está a provocar uma retenção de mercadorias avaliada em 9.600 milhões de dólares diários (8.100 milhões de euros), informou esta sexta-feira a Lloyd’s List. Esta publicação especializada, fundada em Londres em 1734, calcula que o tráfego até ao ocidente através deste Canal tem um valor diário de 5.100 milhões de dólares (4.322 milhões de euros) enquanto em direção a oriente está avaliado em 4.500 milhões de dólares (3.800 milhões de euros).

Nesta sexta-feira, pelo menos 237 navios, incluindo 24 petroleiros e 41 porta-contentores continuam a aguardar a possibilidade de cruzar o Canal, por onde circula mais de 10% do comércio marítimo mundial e 25% dos contentores, indicou a Lloyd’s List.

O presidente da Autoridade do Canal do Suez, Osama Rabie, anunciou esta sexta-feira que os trabalhos para retirar a areia da proa do porta-contentores Ever Given estão concluídos em 87%, após a retirada de cerca de 17 mil metros cúbicos de areia.

O porta-contentores da companhia taiwanesa Evergreen e com bandeira panamiana mede 400 metros de comprimentos e tem uma capacidade para 224 mil toneladas de carga.

A Autoridade, que na quinta-feira suspendeu temporariamente a navegação por via marítima, está a contar com o apoio da empresa japonesa Shoei Kisen, proprietária do barco, e da multinacional Bernhard Schulte Shipmanagement, gestora da mercadoria. A autoridade gestora também informou que recebeu uma oferta dos Estados Unidos para ajudar nos trabalhos, apesar de os analistas preverem que as obras poderão prolongar-se por semanas.

Na quinta-feira de manhã estavam “13 navios da rota norte [vindos do Mediterrâneo] parados em áreas de espera”, disse o porta-voz da Autoridade Egípcia do Canal de Suez (SCA), George Safwat. Os esforços para libertar o ‘Ever Given’, usando dragas, escavações e até a maré alta, ainda não conseguiram empurrar o porta-contentores para o lado, o que já custou milhões de euros a transportadoras de carga.

A empresa japonesa Shoei Kisen Kaisha, que anunciou ser proprietária do porta-contentores, admitiu que vai ser “extremamente difícil” desencalhá-lo e apresentou um pedido de desculpas por escrito pelo incidente.

“Estamos determinados a continuar o trabalhar arduamente para resolver a situação o mais rapidamente possível”, referiu a Shoei Kisen Kaisha. “Gostaríamos de pedir desculpas a todas as partes afetadas por este incidente, incluindo os navios que viajam e planeavam viajar pelo Canal de Suez”, disse.

As autoridades recomeçaram, na manhã da quinta-feira, a trabalhar para libertar o navio, depois de pararem durante a noite, disse uma autoridade egípcia do canal. O responsável, que falou sob condição de anonimato porque não estava autorizado a falar com jornalistas, disse que os trabalhadores esperam não ter de descarregar os contentores do navio, já que isso levaria dias.

Segundo a empresa que gere o Ever Given, a Bernhard Schulte Shipmanagement, a tripulação de 25 membros do navio está segura e, de acordo com a Shoei Kisen Kaisha, já em terra, na Índia. O navio tinha dois pilotos da autoridade do canal do Egito a bordo para guiá-lo quando encalhou, cerca das 07h45 de terça-feira, referiu a Bernhard Schulte Shipmanagement.

O acidente provocou um aumento do preço do petróleo Brent no mercado de futuros de Londres, devido aos receios em relação ao abastecimento internacional, ultrapassando já os 53 dólares por barril. De acordo com o jornal de transporte marítimo Lloyd’s List, por cada dia que o Canal de Suez estiver fechado perde-se mais de 7,6 mil milhões de euros em mercadorias que deveriam estar a passar pelo canal.

O encerramento pode afetar os embarques de petróleo e gás do Médio Oriente para a Europa, que dependem do canal para evitar ter de contornar o continente africano. Um quarto de todo o tráfego diário do Canal de Suez são porta-contentores como o ‘Ever Given’, disse o jornal.

Este foi o segundo grande acidente com o ‘Ever Given’ nos últimos anos. Em 2019, o navio bateu num pequeno barco atracado no rio Elba, cidade portuária alemã de Hamburgo, um acidente explicado pelas autoridades com o vento forte que se fazia sentir.

O Canal do Suez, inaugurado em 1869, garante a passagem de 10% do comércio marítimo internacional, o que significou, em 2020, a passagem de cerca de 19 mil navios. O estreito marítimo é uma fonte de rendimentos essencial para o Egito, que recebeu, no ano passado, 4,7 mil milhões de euros em taxas.

Artigo atualizado às 16h08 do dia 26 de março com as informações desta sexta-feira.