Cerca de mil de cidadãos de origem uigure manifestaram-se esta quinta-feira frente ao consulado da República Popular da China em Istambul contra a visita do chefe da diplomacia chinesa à Turquia. Os manifestantes empunhavam cartazes independentistas uigures ou com inscrições com as frase: “A China tem de parar com o genocídio” e “China fascista, fecha os campos [de trabalhos forçados]”.

A minoria muçulmana uigure, de língua turcomana, é originária da província de Xinjiang, noroeste da República Popular da China. Várias organizações não-governamentais acusam o regime de Pequim de perseguição contra a minoria uigure e mostram-se contra os campos de trabalhos forçados que segundo relatórios internacionais encerram milhares de pessoas da minoria muçulmana.

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Pequim rejeita as acusações, afirmando que as instalações são “centros de formação profissional”.

De acordo com estimativas, cerca de 50 mil uigures estão refugiados na Turquia. Apesar do apoio que afirma prestar aos refugiados, o regime de Ancara tenta preservar as relações económicas com Pequim e está, neste momento, dependente da vacina chinesa contra o SARS-CoV-2.

O Presidente turco, Recep Erdogan, que em 2009 denunciou um “genocídio” contra os uigures, mantém atualmente “em surdina” as críticas contra Pequim.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Wang Yi, foi recebido quinta-feira em Ancara pelo homólogo turco, Mevlut Cavusoglu, e deve encontrar-se ainda com o chefe de Estado, Erdogan.

“Não estou contente. Por que motivo a Turquia recebeu o ministro dos Negócios Estrangeiros?”, questionou Abdullahtif Ragip, 62 anos, que se manifestou quinta-feira em Istambul frente ao consulado de Pequim.

A China “está a fazer muito mal ao Turquemenistão Oriental”, o nome que os ativistas uigures utilizam para se referirem à província chinesa de Xinjiang, acrescentou o manifestante.

Os uigures exilados na Turquia receiam também que Ancara venha a ratificar um tratado sobre extradições com a República Popular da China, firmado em 2017, no âmbito do processo de aquisição de vacinas chinesas contra a Covid-19.

A Turquia mantém que não vai extraditar membros da minoria muçulmana, mas vários refugiados, assim como organizações não-governamentais, acusam as autoridades turcas de terem expulsado uigures de “forma discreta” para a República Popular da China.