É a primeira cidade a fazê-lo — e poderá vir a abrir caminho a outras. Evanston, no estado norte-americano do Illinois, aprovou um programa para o pagamento de indemnizações aos residentes afroamericanos pela discriminação e “opressão histórica” de que foram alvo as suas famílias durante décadas.

Ao todo, e durante dez anos, serão atribuídos a estas famílias 10 milhões de dólares (cerca de 8,4 milhões de euros, à taxa de câmbio atual) pela câmara municipal local, que tem 75 mil habitantes — 16% dos quais são negros. A tranche inicial é de 400 mil dólares (cerca de 339 mil euros) e terá como destino necessidades habitacionais, desde reparações em casas ao pagamento de hipotecas. É a resposta que a cidade encontrou para as políticas habitacionais discriminatórias de que foram alvo muitas famílias afroamericanas.

A primeira parte dessa tranche é constituída por 25.000 dólares (cerca de 21 mil euros). Para serem elegíveis, os candidatos têm de provar que habitavam com, ou são descendentes de, um residente afroamericano, que tenha vivido em Evanston entre 1919 e 1969 e sido alvo de discriminação devido às políticas habitacionais da cidade. O programa será, em parte, financiado por donativos e pela receita de um imposto, aprovado recentemente, de 3% sobre a venda de canábis para uso recreativo.

Evanston é a primeira cidade dos EUA a aprovar um programa de compensações monetárias deste género para “encarar” a “opressão histórica” e a “exclusão”. “Tivemos de fazer algo radicalmente diferente para encarar a divisão racial que vivemos na nossa cidade”, disse à CNN Robin Rue Simmons, vereador e responsável pela iniciativa. Por exemplo, os residentes negros não podiam ser proprietários nem arrendar lojas em Evanston.

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Há outras cidades dos EUA que ponderam seguir os passos de Evanston: como Amherst (Massachusetts), Providence (Rhode Island), Iowa City (Iowa) e Asheville (Carolina do Norte). Embora as reivindicações de compensações à comunidade afroamericana já circulassem na opinião pública, os protestos contra a violência policial — que tiveram como rastilho as mortes de Breonna Taylor, baleada pela polícia enquanto dormia em casa, e de George Floyd, asfixiado por um agente — trouxeram a questão para o centro do debate, aponta o La Vanguardia.

Dreissen Heath, ativista e membro do Human Rights Watch, uma ONG de defesa dos direitos humanos, defende que as soluções como as de Evanston, embora sejam importantes, não substituem os “danos causados a vários níveis” na comunidade afroamericana.

No início do ano, o departamento do Xerife do Condado de Los Angeles adotou uma medida semelhante: o pagamento de 14 milhões de dólares (cerca de 11,8 milhões de euros) como compensação pela detenção ilegal de mais de 18.500 imigrantes do México, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Equador.