Os esforços para desencalhar o super cargueiro Ever Given, que está desde o dia 23 de março a bloquear totalmente o Canal do Suez, reforçaram-se este sábado e já se fala da possibilidade de regressar à normalidade este fim de semana. Pelo menos, segundo a CNN, que escutou um experiente comandante de navio habituado a navegar neste canal marítimo, que pertence aos quadros da Autoridade do Canal de Suez (ACS), e que confia que a situação se poderá resolver em breve.

Desde que este gigantesco navio — que é tão comprido quanto o Empire State Building, em Nova Iorque — encalhou, alegadamente por ter sido surpreendido por uma tempestade com ventos de 40 nós, uma série de dragas têm trabalhado sem parar para retirar grandes quantidades de areia e lama junto da proa do navio (que, já agora, tem 224.000 toneladas). Segundo a fonte citada por aquele meio, o desalojar do barco poderá acontecer já este sábado graças a uma confluência de fatores: a quase conclusão do trabalho de dragagem, a maré alta (prevista para as 22 horas locais, 20h em Portugal) local e a chegada de poderosos navios rebocadores.

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Uma equipa de especialistas da empresa holandesa SMIT Salvage e da japonesa Nippon Salvage foi destacada para ajudar a ACS a devolver a flutuabilidade do navio encalhado, explicou também entretanto a empresa Evergreen Marine, proprietária do barco que está a impedir a passagem de centenas de outros navios cargueiros e, com isso, a bloquear grande parte do comércio mundial. As autoridades locais também anunciaram a remoção de quase 20 mil metros cúbicos de areia.

Ainda este sábado, o presidente da ACS, Osama Rabie, deu uma conferência de imprensa onde detalhou alguns pormenores sobre a operação de resgate que está em curso, cenário que descreve como sendo “tecnicamente difícil” por envolver “muitos fatores”. “Estamos perante uma situação difícil e complicada, trabalhamos em solo rochoso, as marés estão muito altas, já para não falar da enorme dimensão do navio e a quantidade de contentores que ele transporta”, disse.  

Na passada sexta-feira o navio estava a responder bem aos esforços para desencalhar, situação que ainda fez com que se acreditasse numa possível resolução ainda nessa noite. No entanto, a mudança de marés obrigou à paragem dos trabalhos. Cerca de nove mil toneladas de água utilizada como lastro no Ever Given já foram retiradas do navio, disse Rabie, e 14 rebocadores estão a trabalhar sem parar durante os momentos de maré alta. As equipas de resgate chegaram a conseguir reiniciar momentaneamente o leme e as hélices do navio, na noite da passada sexta-feira, mas a chegada da maré baixa paralisou tudo outra vez.

A remoção de alguns dos contentores do Ever Given continua a ser uma possibilidade, contudo, é um cenário mal visto pelos especialistas, que esperam conseguir evitá-lo — a dificuldade técnica de o fazer demoraria imenso tempo.

Fotos. Navegação no Canal do Suez fica suspensa até navio ser desencalhado

Uns 321 navios estão atualmente à aguardar pela resolução desta situação, para que possam prosseguir com a sua rota. Sobre o que terá causado o “despiste” do Ever Given, Rabie disse que ainda não há certezas. “Existem muitos fatores ou razões: ventos rápidos e a tempestade de areia podem ter sido os culpados, mas não a razão principal”, afirmou. A hipótese de erro técnico ou humano continua em cima da mesa. “Vão haver mais investigações”, reforçou. Países como os Estados Unidos, a China, a Grécia e os Emirados Árabes Unidos já se ofereceram para ajudar a desalojar o navio.

A alavanca que pode ser a solução

Se não existir um desfecho positivo em breve, a resolução do problema poderá ficar adiada até ao “início da próxima semana”, segundo Peter Berdowski, da Boskalis, uma empresa irmã da SMIT Salvage que prestou declarações ao noticiário holandês “Nieuwsuur” na sexta-feira.

Berdowski disse que uma análise mais detalhada da situação mostrou que a popa do navio “não está totalmente enterrada no barro” das margens do canal. É precisamente isso que permitirá aos rebocadores aproveitar a “força da alavanca” causada pela situação, puxando pela popa do navio, explicou. Espera-se, diz o especialista, que o poder de tração dos rebocadores combinado com o trabalho de dragagem, uma maré alta de 40 a 50 centímetros (esperada para a próxima semana) e a força da alavanca gerada pela popa do navio relativamente solta seja o suficiente para resolver o impasse.

Se mesmo isso falhar, a próxima e inevitável etapa seria a remoção de até 600 contentores do navio. Berdowski avançou que em paralelo aos esforços que estão a ser feitos para soltar o navio, as autoridades já estão a procurar um guindaste que possa ser mobilizado para o retirar dos contentores.