Bernardine Evaristo, autora de Rapariga, Mulher, Outra, vai publicar um livro de memórias. Manifesto aborda a viagem da escritora desde “as margens até ao palco principal”, que atualmente ocupa. Mais do que um relato autobiográfico, o livro é, tal como o título indica, uma espécie de manifesto literário, onde Evaristo defende a importância de contar histórias “nunca contadas”, premissa que sempre fez questão de seguir.

“Um manifesto urgente sobre nunca desistir”, o livro de não ficção descreve como a autora britânica de origem nigeriana nunca deixou que os obstáculos se intrometessem no seu caminho, como “se rebelou contra o mainstream e o seu compromisso de longa data com a exploração imaginativa de histórias ‘nunca contadas’. Baseando-se nas suas próprias experiências, oferece uma contribuição vital para a conversa atual em torno de questões sociais como a raça, classe, feminismo, sexualidade e envelhecimento”, refere a informação disponibilizada pela Hamish Hamilton, que o irá editar no Reino Unido a 7 de outubro.

Os direitos foram adquiridos nos Estados Unidos da América pela editora Grove Atllantic. Não há ainda informação sobre a publicação do livro em Portugal.

“Estava a trabalhar nele há algum tempo”, admitiu Evaristo que, apesar das dificuldades, nunca pensou “seriamente” em desistir e deixar de ser escritora. “Queria escrever um livro de não ficção que olhasse para como a minha vida, as minhas origens e a minha visão política moldaram a minha criatividade e trouxeram-me a este lugar na minha carreira”, afirmou, citada pelo The Guardian. “É sobre como a minha vida e as minhas escolhas moldaram a minha criatividade e determinação para continuar em frente”.

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A autora de 62 anos disse que escreveu um livro a pensar no “leitor comum”, em “qualquer pessoa que se interessa em olhar para como criamos as vidas que queremos para nós próprios, o que pode significar quebrar com as convenções e as tradições e fazer escolhas que podem levar à realização criativa mas não ao sucesso financeiro”. “Também gosto da ideia de que, através da minha experiência, as pessoas que lutam pelas suas carreiras, nas artes, nas suas vidas, possam ter alguma esperança.”

Evaristo era, até há bem pouco tempo, uma desconhecida no mundo das letras. Apesar das várias décadas de carreira literária, tinha apenas alcançado um parco sucesso. Tudo mudou em 2019, quando foi nomeada para o Booker Prize pelo romance Rapariga, Mulher, Outra. Acabou por vencer, partilhando o prémio com a canadiana Margaret Atwood. Foi a primeira vez que o Booker foi atribuído a duas obras em simultâneo e Bernardinho Evaristo foi a primeira mulher negra a recebê-lo.

“A vitória de 2019 de Bernardino Evaristo, a primeira de uma mulher negra, foi um momento revolucionário para a cultura britânica e para ela. Ao fim de três décadas como escritora pioneira, professora e ativista, ela saiu das margens para o palco principal, ocupando finalmente um lugar de destaque. A sua viagem foi longa, mas ela conseguiu vencer e fazer história”, destacou o diretor editorial da Hamish Hamilton, Simon Prosser, que descreveu Manifesto como “um livro único sobre permanecer fiel a nós próprios e à nossa visão”. “É sobre ser imparável — no nosso ofício, no nosso trabalho, nas nossas vidas. É o manifesto de Bernardino Evaristo sobre nunca desistir.”

Um novo romance e uma coleção de ficção curta também a caminho

Além da publicação de Manifesto, Evaristo acordou também com Hamish Hamilton, atualmente parte do grupo Penguin Random House, a publicação de um novo romance e da primeira coletânea de ficção curta, noticia a The Bookseller. Ainda não foram divulgadas datas para o lançamento das duas obras.

Bernardine Evaristo integra atualmente o júri do Women’s Prize for Fiction, ao qual preside. A longlist de 16 obras foi revelada em meados de março e inclui pela primeira vez uma autora transgénero. A shortlist do prémio que tem por objetivo reconhecer a ficção escrita por mulheres será divulgada a 16 de abril e a obra vencedora a 7 de julho.