No último trimestre de 2020 reduziu-se para cerca de metade o volume total de créditos em moratória na zona euro, mas a Autoridade Bancária Europeia (EBA) vê maiores riscos naquelas moratórias que ainda permanecem ativas. Esta é a mensagem principal transmitida esta quarta-feira num comunicado emitido pela entidade que decide sobre o enquadramento regulatório das moratórias em Portugal e em toda a zona euro.

“Os empréstimos sob moratória [enquadrada nos requisitos da EBA] praticamente caíram para metade no quarto trimestre, baixando de cerca de 590 mil milhões de euros no terceiro trimestre para cerca de 320 mil milhões no quarto trimestre”, afirma a EBA – do que se depreende que estão em Portugal quase 15% das moratórias que existem em toda a zona euro.

A EBA alerta, porém, que as moratórias que restam terão um maior risco associado porque a proporção de créditos em moratória que, no quarto trimestre, estavam marcados como “stage 2” no balanços dos bancos era de 26,4% – ao passo que se olharmos para as moratórias que foram terminadas entre o terceiro trimestre e o quarto trimestre, essa proporção é de 20,1%. Stage 2 são os créditos onde os bancos identificam alguma deterioração das condições financeiras do cliente, em comparação com aquilo que havia no momento em que o crédito foi concedido (o que contrasta com o stage 1, onde não se identifica qualquer deterioração das condições financeiras da empresa ou família).

A percentagem de créditos em moratória marcados como stage 2 (os 26,4%) também é, por outro lado, “quase o triplo do rácio que existe nos empréstimos totais (9,1%), outro indicador de que a pressão e a incerteza são claramente maiores nos créditos que permanecem em moratória. São números que “indicam que os empréstimos que ainda estão sob moratória são aqueles onde se concentram os maiores riscos daqui para a frente”, diz a EBA.

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O Observador debruçou-se sobre esta distinção entre empréstimos em stage 1 e em stage 2 na banca portuguesa, notando que os bancos portugueses estão entre os que têm maior proporção de crédito em moratória na Europa mas estão, ao mesmo tempo, entre os sistemas bancários que atribuem menor risco a essas moratórias.

Moratórias bancárias. Vai ficar (quase) tudo bem, garantem os bancos

O governador do Banco de Portugal avisou esta terça-feira, na véspera de ser votada uma proposta do PCP para prolongar as moratórias bancárias, que “não está, neste momento, colocada a hipótese de a Autoridade Bancária Europeia (EBA) prolongar o enquadramento” transitório que foi criado, a nível europeu, para permitir que os bancos não considerassem os créditos em moratória como créditos em incumprimento ou em reestruturação.

Como nada leva a crer que esse enquadramento vá ser prolongado, não é desejável, considera Mário Centeno, que Portugal queira avançar com uma iniciativa que deixe o país “isolado” no contexto europeu e que, na realidade, vá originar uma “armadilha” para famílias e empresas – já que pode haver uma “marcação massiva” de créditos como problemáticos e, por essa razão, colocar em risco o acesso futuro destes clientes a serviços bancários.

Centeno avisa. Prolongar moratórias “isola” Portugal na banca europeia