O Conselho de Administração da Lusa mantém-se “em funções” até à aprovação do plano de atividades e eleição dos novos órgãos sociais da agência de notícias, disse esta quinta-feira o presidente cessante, Nicolau Santos, numa mensagem aos trabalhadores.

Nicolau Santos, tal como o administrador da RTP Hugo Figueiredo, foram os nomes escolhidos pelo Conselho Geral Independente (CGI) para integrar a nova administração da RTP.

O mandato dos atuais corpos sociais da Lusa, iniciado em 21 de março de 2018, terminou no final do ano passado, embora o Conselho de Administração ainda se mantenha em funções até à aprovação das contas e à eleição dos novos órgãos sociais”, adianta Nicolau Santos.

A eleição dos órgãos sociais da Lusa e a aprovação do Plano de Atividades e Orçamento (PAO), que constavam na ordem de trabalhos da assembleia-geral (AG) da agência de notícias, foram adiados na passada sexta-feira para uma nova reunião de acionistas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Num balanço sobre o mandato, o presidente da Lusa recorda o plano estratégico assente em sete eixos: melhorar a notoriedade da marca, recompor a rede interna e externa dos delegados e correspondentes, aumentar a produção editorial em África e a presença em Macau e China continental, melhorar as condições de trabalho na sede e no exterior e o rendimento líquido dos trabalhadores; requalificar e renovar a redação, acabar com as desigualdades de género; inovar em mercados, clientes, métodos de trabalho e desenvolver novos produtos editoriais; e avançar na desmaterialização de processos administrativos.

“No que toca à notoriedade da marca, ela foi conseguida pela liderança no combate à desinformação e às erroneamente designadas fake news, com a realização de conferências em Lisboa, em conjunto com a agência espanhola Efe, na cidade da Praia, em Cabo Verde, juntamente com o Governo daquele país, e em Maputo, Moçambique”, salienta, recordando ainda “uma grande conferência para assinalar os 20 anos da passagem de Macau para a soberania chinesa”.

Sobre a recomposição da rede de correspondentes, “que estava muito depauperada na sequência da crise 2011-2015″, Nicolau Santos destaca a “contratação de 20 jornalistas para reforçar a cobertura do país, pagos à peça ou avençados, e sete para ocupar posições chave internacional”. Para os quadros jornalísticos, entraram sete pessoas, além da diretora de informação e do diretor-adjunto, acrescenta.

Em termos editoriais, foram reforçados “com meios técnicos e pessoal as delegações de Luanda, Maputo e Cabo Verde e, por essa via”, aumentado “o fluxo noticioso desses país, que interessa também particularmente à República da China“.

Em Pequim temos um delegado bilingue e iniciámos os procedimentos necessários para abrir mais duas delegações na China, o que, todavia, não foi possível de realizar, cremos que devido à paulatina mudança de atitude e política deste país, que poderá aliás ter reflexos a médio prazo na nossa atividade”, salienta Nicolau Santos.

A Lusa apostou “em diversas candidaturas internacionais que permitiram obter financiamento externo na casa de meio milhão de euros para projetos em diversas áreas da empresa, do editorial à comercial”.

Destaca “os primeiros passos para que o seguro de saúde seja alargado às delegações internacionais, nomeadamente nos países africanos de língua oficial portuguesa” e está também “a ser trabalhado a obtençãao do estatuto de cooperante” para os delegados da Lusa no estrangeiro. Nicolau Santos reitera a necessidade de “uma aprovação mais atempada dos orçamentos” da Lusa.

“Como é óbvio, este atraso na aprovação do orçamento leva a que se torne muito difícil a sua execução integral ou quase” e “como quando isso acontece a Lusa é obrigada a devolver a parte da indemnização compensatória que não foi aplicada no ano, não podendo o saldo transitar para o ano seguinte, o resultado é a progressiva dificuldade da empresa em desenvolver projetos editoriais e, sobretudo, tecnológicos, que são essenciais para responder às exigências cada vez maiores dos seus clientes”.

E alerta: “O que está em cima da mesa é o risco da empresa se tornar tecnologicamente obsoleta nos próximos anos, caminhando para uma situação irremediável de decadência e irrelevância”.

Além disso, a Lusa “não pode ser obrigada a cumprir orientações do Estado sem que lhe sejam atribuídos os correspondentes meios financeiros para o fazer“, numa alusão à regularização dos trabalhadores precários, “que levou à integração de mais 23 pessoas nos quadros da empresa” e do processo de avaliação dos trabalhadores, “que não se tinha realizado durante nove anos”, o que conduziu que a “folha salarial da agência aumentasse em mais de um milhão de euros”. Defende que “é urgente a criação de condições para que se verifique na prática uma autonomia de gestão e na estabilidade de financiamento”.

No ano passado, a Lusa “mais uma vez atingiu resultados positivos, confirmando a tendência iniciada em 2016, apesar do aumento em gastos com pessoal derivados do descongelamento do AE [Acordo de Empresa] de cerca de 1,2 milhões de euros e que não foram compensados pelo acionista Estado”, refere. As receitas próprias subiram 0,5% para 3,8 milhões de euros.

No que respeita ao investimento em 2020, este “atingiu 666 mil euros face a 2019, sendo que no triénio 2018/20 cresceu 173% face à média do verificado entre 2009 e 2017, possibilitando alguma recuperação e modernização tecnológica e ao nível de infraestruturas de apoio”.

Nicolau Santos termina a missiva, “agradecendo a todos os trabalhadores da Lusa pelo exemplo de profissionalismo, competência e dedicação de que têm dado provas ao longo desta pandemia”.