O primeiro lote de vacinas contra a Covid-19, um total de 24 mil doses, chega a Timor-Leste na próxima segunda-feira, através de um voo fretado pela UNICEF, segundo documentos a que a Lusa teve acesso.

As vacinas serão transportadas para Díli num voo “charter” contratado pelo Fundo da Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que está a apoiar Timor-Leste no transporte das vacinas, e que será operado pela My Indo Airlines, uma empresa de transporte de carga com sede em Jacarta e que opera, entre outros locais, também a partir de Singapura.

Um pedido para a aterragem do voo, com origem em Singapura e esperado em Díli cerca das 13h00 locais (05h00 em Lisboa), foi já formulado pela transportadora aérea ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, segundo os documentos vistos pela Lusa.

Fontes do Ministério da Saúde explicaram à Lusa que um segundo carregamento é esperado em maio.

O objetivo das autoridades timorenses é iniciar o programa de vacinação, numa primeira fase para trabalhadores da linha da frente, no dia 07 de abril, que assinala o Dia Mundial de Saúde.

Esta quinta-feira, a ministra da Saúde, Odete Belo, e outros membros do Governo, participam num evento simbólico de entrega de arcas que vão ser usadas para as vacinas pela UNICEF ao Serviço Autónomo de Medicamentos e Equipamentos de Saúde (SAMES), a farmácia central timorense.

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A data da chegada das primeiras vacinas tem sido repetidamente adiada, devido a atrasos na confirmação da sua disponibilidade por parte do produtor.

O voo de segunda-feira ocorre depois de um complexo processo inicial para a obtenção das vacinas iniciais através do mecanismo Covax (20% do total), com vários carregamentos que serão administrados em Timor-Leste de acordo com uma lista de prioridades.

No caso de Timor-Leste, a produção de vacinas é feita na Coreia do Sul, pela empresa SK Bio, com o parceiro logístico a ser a UNICEF, que organiza o transporte para Díli.

A 29 de janeiro, o mecanismo Covax indicou à Organização Mundial de Saúde (OMS) quando os países poderiam começar a receber as vacinas aprovadas para uso de emergência pela agência das Nações Unidas.

A 15 de fevereiro, a AstraZeneca informou que as vacinas de Timor-Leste seriam alocadas aos produtores na Coreia do Sul, com a plataforma Covax a confirmar que o país receberá as primeiras 100 mil vacinas assim que a produção estiver a ocorrer.

Depois foi necessário confirmar a Timor-Leste os primeiros carregamentos, tendo as autoridades timorenses que cumprir um conjunto de requisitos.Entre esses requisitos contam-se licença de importação, autorização e outros acordos legais, iniciando depois o processo de aquisição, que neste caso não tem custos para o país.

As doses necessárias para vacinar os primeiros 20% da população serão fornecidas através do mecanismo internacional Covax, destinado a apoiar os países com mais carências e vulnerabilidades.

Timor-Leste recorrerá à vacina AstraZeneca, por ser considerada “a vacina mais apropriada” para o país, dado que pode ser preservada em frigoríficos, entre dois e oito graus centígrados.

Dentro do primeiro grupo de 20% da população a ser vacinada, a prioridade será para funcionários da linha da frente, especialmente na zona da fronteira terrestre, para equipas que estão diretamente envolvidas no combate à Covid-19, maiores de 60 anos e pessoas com comorbilidades.

Cerca de 100 mil doses serão para 50 mil pessoas na linha da frente, mais 160 mil para as 80 mil pessoas com comorbidades e maiores de 60 anos e 260 mil doses para outros grupos prioritários e vulneráveis.

Depois disso, o Governo estima que serão necessárias mais de 2,3 milhões de doses para um universo de 1,17 milhões de pessoas, das quais 542 mil têm menos de 17 anos.

O roteiro de vacinação aprovado pelo Governo destaca a “oportunidade para aproveitar a disponibilidade do Governo australiano em financiar a aquisição de vacinas para 80% da população até ao final do ano de 2021, início de 2022”. No texto considera-se importante “planear a vacinação alargada a toda a população”, dado a pandemia continuar a ser “uma grande ameaça à saúde pública nacional, internacional e global”.

Ainda que por fases, “a cobertura de vacinação para 100% da população contribuirá para a minimização de custos operacionais”, com “menos interrupções em outros serviços essenciais de saúde devido à mobilização de pessoal”.

E assinala-se que “já existe um sistema de aprovisionamento de vacinas no país, através do Acordo de Cooperação entre o Ministério da Saúde e a UNICEF e Contrato Marco entre SAMES (farmácia central) e a UNICEF para aquisição de vacinas”.

No que se refere ao financiamento dos 80% restantes – com um custo estimado de 15,4 milhões de dólares (12,9 milhões de euros) -, o roteiro prevê três cenários, com valores diferentes de apoio do Governo australiano, entre 10 e 2,7 milhões de dólares (8,5 a 2,3 milhões de euros), sendo que o resto seria colmatado pelo Governo timorense.