Já foi levantando o bloqueio ao Capitólio dos Estados Unidos. Todo o complexo esteve fechado esta sexta-feira devido a uma “ameaça de segurança externa”, depois de um carro ter invadido a entrada principal e ter atingido dois polícias. O ataque, que a polícia recusa chamar terrorista, fez duas vítimas mortais: um dos dois polícias feridos e o atacante.

Vários meios de comunicação norte-americanos, como a CNN e a NBC, avançam que o atacante é Noah Green, um homem de 25 anos do estado do Indiana. De acordo com a CNN, duas horas antes do ataque Noah Green fez uma série de publicações no Instagram com links para vídeos de discursos líder da Nation of Islam, um grupo político e religioso islâmico, fundado em Detroit, no Michigan, com o objetivo de melhorar a condição social, económica e de consciência espiritual dos afroamericanos. Numa das legendas do vídeo, podia ler-se: “O governo dos Estados Unidos é o inimigo n.º 1 do povo negro”.

Por volta das 13h02 locais, o carro avançou contra a entrada da Constitution Avenue, atingiu dois polícias e acabou por ir contra a barreira de segurança. De acordo com a Polícia do Capitólio (USCP), após este embate, o atacante saiu do carro a segurar uma faca e foi contra os agentes. Segundo explicou a polícia na conferência de imprensa, “não obedeceu às ordens verbais” e “começou a atacar os polícias do Capitólio” — o que levou a polícia a imobilizá-lo com um tiro. Foi depois transportado para o hospital, onde acabaria por morrer. Não é claro quantos polícias o atacante esfaqueou e se o polícia morreu na sequência do atropelamento ou do esfaqueamento.

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A Polícia do Capitólio divulgou uma fotografia do polícia que morreu, no Twitter. William Billy Evans foi membro da Polícia do Capitólio durante 18 anos. “Começou o seu serviço no USCP a 7 de março de 2003 e era membro da Unidade de Primeiros Socorros da Divisão do Capitólio”, lê-se no comunicado. O segundo polícia encontra-se “estável”, segundo escreve a CNN.

Para já, a polícia afasta a hipótese de terrorismo: “Não parece estar relacionado com terrorismo. Mas, obviamente, continuaremos a investigar para ver se há algum tipo de ligação nesse sentido”, disse um dos agentes na conferência de imprensa.

Segundo a Fox News, assim que o incidente ocorreu, soou um anúncio que se ouviu em todo o complexo: “Devido a uma ameaça de segurança externa nenhuma entrada ou saída é permitida no momento em qualquer edifício do complexo do Capitólio. Vocês podem mover-se pelos prédio, mas fiquem longe de janelas e portas externas. Se você estiver do lado de fora, procure cobertura”.

Noah Green terá doado mil dólares ao Nation of Islam, semanas antes do ataque. Tinha-se despedido “em busca de uma jornada espiritual”

De acordo com a CNN, nas semanas anteriores ao ataque, Noah Green tinha publicado no seu Facebook — numa página que a polícia confirmou pertencer ao atacante — uma imagem do que parecia ser um certificado que reconhecia uma doação de 1.085 dólares para o Nation of Islam. Noutras publicações, afirmava que Louis Farrakhan, o líder do Nation of Islam, o tinha salvo “depois das terríveis angústias” que teria sofrido “da CIA e do FBI, agências governamentais dos Estados Unidos da América”. Em resposta a um comentário, Green explicou que sofreu “múltiplas invasões em casa, intoxicações alimentares, agressões, operações não autorizadas no hospital, controlo da mente”.

“Para ser honesto, esses últimos anos foram difíceis, e os últimos meses foram mais difíceis”, escreveu num dos posts. “Fui testado em alguns dos maiores e inimagináveis ​​testes da minha vida”, acrescentava. Green dizia que estava desempregado depois de se ter despedido “em parte devido a angústias, mas, em última análise, em busca de uma jornada espiritual”. As contas nas redes sociais de Noah Green foram entretanto desativadas.

Segundo a CNN, o atacante tinha-se licenciado em Finanças, em 2019, na Christopher Newport University, na cidade de Newport News no estado da Virginia. Numa biografia publicada no site da universidade, era dito que Green nasceu em Fairlea, em West Virginia, e que a “pessoa na história que ele mais gostaria de conhecer é Malcolm X”.

Pouco depois de terminada a conferência de imprensa, o bloqueio foi levantando. Nos altifalantes do Capitólio foi anunciado isso mesmo, tendo sido pedido que as instruções da polícia continuem a ser cumpridas. Também no Twitter, a polícia do Capitólio confirmou esta informação. “No entanto, a zona em redor da cena do crime continuará restrita”, lê-se no Twitter.

O Departamento da Polícia de Washington D.C. chegou a fechar várias ruas nas imediações do Capitólio. Os militares da Guarda Nacional dos Estados Unidos também estiveram a reforçar a segurança da zona, como mostram alguns vídeos divulgados.

A chefe da Polícia do Capitólio descreveu este momento como “extremamente difícil”, especialmente depois do ataque no dia 6 de janeiro, em que pelo menos cinco pessoas, incluindo um polícia do Capitólio, morreram e cerca de 300 pessoas foram acusadas por diversos crimes associados ao ataque. “Tem sido um ano extremamente difícil e desafiador para nós, mas vamos superar isso”, rematou Yogananda Pittman.

Presidente dos EUA “devastado” após ataque no Capitólio

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, já tinha adiantado que o presidente norte-americano estava “a par” do incidente no Capitólio. Biden não se encontra na Casa Branca: por volta das 12h53 locais chegou a Camp David, a residência onde vai passar o fim de semana da Páscoa, no condado de Frederick, no estado de Maryland — a pouco mais de 100 quilómetros do Capitólio.

Mais tarde, em comunicado, Biden disse ter ficado “devastado” e ordenou que as bandeiras nos edifícios públicos federais sejam colocadas a meia haste. “Jill e eu estamos devastados por saber do ataque violento num posto de controlo de segurança no Capitólio dos EUA”, lê-se no comunicado onde Biden diz ainda: “Sabemos como são tempos difíceis para o Capitólio, para todos aqueles que lá trabalham e para aqueles que o protegem”.