Algo está errado, no mercado de transferências do futebol, quando nem o Manchester City tem margem orçamental para contratar um avançado. Se é certo que o recente desabafo de Pep Guardiola pode ser bluff e que a possibilidade de os citizens entrarem na luta por Haaland ou Harry Kane está sempre em cima da mesa, também é certo que o desabafo de Pep Guardiola não deixava de ser um alerta.
“Podemos não contratar ninguém para a próxima temporada. Temos jogadores suficientes e alguns interessantes nas camadas jovens. Depois, com a atual situação, é provável que não contratemos nenhum avançado. Com estes preços, não vamos contratar nenhum avançado. É impossível, não podemos pagar. Todos os clubes estão a lutar financeiramente e nós não somos uma exceção. Temos o Gabriel Jesus, temos o Ferran Torres, que jogou de forma incrível esta época naquela posição. Nós jogamos muitas vezes com um falso ‘9’”, disse o treinador espanhol, questionado sobre o assunto na sequência da saída já confirmada de Agüero, no final da temporada. Uma saída que foi uma “decisão difícil”, disse Guardiola, e que torna ainda mais difícil a eleição de um eventual substituto.
“Sabemos o quanto é importante e o que foi para este clube. Quero ser muito claro. Vamos procurar um substituto para Agüero, mas parece quase impossível que alguém iguale os números que teve aqui. É insubstituível. São 360 jogos, mais de 250 golos e muitos títulos. É uma lenda, o melhor avançado que já tive neste clube. Mas ele também é insubstituível na cabeça dos nossos adeptos, da nossa gente, dos jogadores que trabalharam com ele. É um ser humano fantástico. Penso que se a sua mente se mantiver agressiva, ele pode prolongar a carreira por mais dois, três, quatro ou cinco anos. Tem sentido de golo, qualidade e inteligência. Estas características não são fáceis de encontrar”, explicou Guardiola, na antecâmara da visita ao Leicester que marcava o regresso da Premier League depois dos compromissos das seleções.
Assim, o treinador do Manchester City abordava o confronto com o terceiro classificado da liga inglesa com a memória de que, já a meio da semana, recebe o Borussia Dortmund nos quartos de final da Liga dos Campeões. Talvez por isso, Guardiola deixava muitos dos habituais titulares (que estiveram também ao serviços das suas seleções) no banco: Stones, Sterling, Gündoğan, Bernardo Silva, João Cancelo e Phil Foden eram todos suplentes, assim como Ferran Torres. Kyle Walker, Laporte, Rodri e Mahrez entravam todos no onze, onde se mantinha Rúben Dias e onde estava também Agüero. O avançado argentino era titular na conclusão de uma semana muito emotiva, onde começou a despedir-se do clube que representou na última década, onde foi elogiado por tudo e todos e onde o seu futuro começou a ser discutido, com a possibilidade de uma ida para Barcelona ser nesta altura a hipótese mais forte.
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Do outro lado, Ricardo Pereira começava no banco e a equipa de Brendan Rodgers tinha a oportunidade de se colar ao Manchester United (que só jogava este domingo com o Brighton) e fugir ainda mais do Chelsea, que horas antes tinha perdido pela primeira vez sob o comando de Thomas Tuchel. Na memória, tanto do Leicester como do Manchester City, estava o escandaloso resultado da primeira volta — quando os foxes humilharam os citizens no Etihad por 2-5.
Dentro de campo, o City colocou a bola dentro da baliza logo nos primeiros instantes, com um remate de fora de área de Fernandinho (5′). O lance acabou por ser anulado devido ao fora de jogo de Agüero, que apesar de se ter desviado da bola acabou por limitar a visão do guarda-redes Kasper Schmeichel. O avançado argentino protagonizou a oportunidade seguinte dos citizens, com um pontapé por cima depois de um erro do Leicester na saída a jogar (19′), e a equipa de Guardiola dominou quase por completo toda a primeira parte, disputada praticamente na íntegra no meio-campo defensivo dos foxes.
De Bruyne acertou na barra de livre direto (23′), Mahrez obrigou Schmeichel a uma enorme defesa (41′), De Bruyne atirou ao lado logo depois (41′) e Gabriel Jesus, já perto do fim do primeiro tempo, atirou ao lado depois de uma boa investida pela esquerda (44′). A dada altura, a equipa de Guardiola chegou a ter uns escandalosos 90% de posse de bola, já que o Leicester tinha os setores totalmente encostados à grande área, com os elementos do ataque e do meio-campo a funcionarem apenas como primeiras linhas defensivas. Ainda assim, o City chegou ao intervalo sem vantagem e ainda apanhou um susto — num lance completamente isolado, Ayoze isolou Vardy e o avançado bateu Ederson (45+1′), mas a jogada foi anulada por fora de jogo do inglês.
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Nenhum dos treinadores mexeu ao intervalo e a verdade é que Ederson foi forçado à primeira intervenção na partida logo nos instantes iniciais da segunda parte, com um remate de Tielemans de fora de área (48′). A lógica parecia manter-se, com o Manchester City a dominar o jogo e a procurar atacar a partir da linha do meio-campo, mas o Leicester demonstrava-se ligeiramente mais solto, com maior propensão para separar os setores e aplicar alguma pressão alta. O objetivo, de forma notória, era provocar o erro da equipa de Guardiola na saída de bola — algo que aconteceu com Fernandinho, que perdeu a posse no meio-campo e deu origem a outra oportunidade de Tielemans, que viu Rúben Dias desviar um remate que seguia certeiro para a baliza de Ederson (51′).
O minuto decisivo, porém, caiu do outro lado — e através de um protagonista bastante improvável. Numa jogada de insistência que teve tentativas iniciais de Mahrez e Agüero, a bola acabou por sobrar para Mendy, que apareceu tombado na esquerda já no interior da grande área; num gesto técnico assinalável, o lateral puxou para dentro e rematou de pé direito, em arco, surpreendendo Schmeichel e abrindo o marcador (59′). Guardiola reagiu à vantagem ao trocar Agüero por Sterling, para procurar o segundo golo, e o Leicester foi assumindo naturalmente um papel de maior preponderância na partida, com a equipa a subir no relvado e a aproveitar uma calculista redução de ritmo por parte do City.
A cerca de 20 minutos do apito final, Brendan Rodgers lançou Ricardo Pereira e James Maddison para os lugares de Albrighton e Iheanacho, numa clara tentativa de ter bola. O balde de água fria, porém, já pouco tardaria: De Bruyne, com um passe extraordinário, lançou Gabriel Jesus na profundidade; o brasileiro solicitou Sterling, que tinha tudo para marcar mas preferiu evitar três defesas e devolver a Jesus, que completava 24 anos este sábado e atirou para dentro da baliza (74′). Até ao fim, Mahrez ainda desperdiçou o terceiro golo, com um remate cruzado que passou ao lado depois de mais um passe brilhante de De Bruyne (78′), Guardiola ainda lançou Ferran Torres e Foden mas as redes das balizas já não voltaram a abanar.
O Manchester City venceu o Leicester, abriu 18 pontos de vantagem para o terceiro classificado e está cada vez mais perto de garantir a conquista da Premier League, estando agora dependente do que faz nas próximas jornadas e do comportamento do Manchester United, que este sábado ficou provisoriamente a 17 pontos de distância para a liderança. Guardiola conduz nesta altura um autocarro que anda com o gasóleo de De Bruyne, que tem Gabriel Jesus como uma das figuras da finalização e que teve Mendy como motor de arranque numa partida onde o golo não estava a aparecer — tudo isto quando ainda está a discutir todos os títulos que tem à disposição.
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