As quezílias entre os dois deputados do Chega/Açores estão longe de abrandar e o clima está cada vez mais tenso. As eleições regionais foram marcadas para o próximo dia 1 de maio e José Pacheco acusa Carlos Furtado de falta de transparência em todo o processo, enquanto o líder demissionário diz tratar-se de uma acusação “muito injusta”. O secretário-geral admite mesmo desistir da corrida eleitoral. Num ponto estão de acordo: tudo isto está a prejudicar o Chega a nível regional.

A questão estava longe de estar resolvida, mas agravou-se no final da semana passada quando o presidente do Chega/Açores solicitou uma reunião da direção na quinta-feira para aprovar a data das eleições. Tal como o Observador tinha noticiado, Carlos Furtado admite que o adiamento do ato eleitoral para depois das eleições autárquicas esteve em cima da mesa, houve uma “troca de opiniões” mas as direções nacional e regional acabaram por chegar à conclusão de que as eleições se deviam realizar o mais rápido possível.

Fechado esse ponto, o líder regional acordou com a direção nacional o dia 1 de maio — por ser a data possível em que podiam estar presentes elementos da equipa de André Ventura ou o próprio — e convocou uma reunião para aprovar a data a nível regional. “A reunião foi marcada no seguimento da informação que tive por parte da direção nacional de que haveria disponibilidade para 1 de maio. Recebi a informação na quinta-feira às 13h30 e às 14h30 todas as pessoas da direção que foram contactadas já tinham a mensagem a dizer que era preciso reunir de urgência”, explica Carlos Furtado ao Observador. José Pacheco não respondeu, não atendeu telefonemas e teve até de ser substituído no momento de dar início à reunião por videochamada. A data em causa foi aprovada por “unanimidade das pessoas que estavam presentes”.

O secretário-geral do Chega/Açores, contactado pelo Observador, confirmou a ausência e disse ter sido de “má-fé” marcar “uma reunião para as 21h00 de quinta-feira santa, em que há compromissos familiares e religiosos”. “Acho que é de bom tom primeiro telefonar às pessoas a perguntar se estão disponíveis”, apontou o deputado, que considera que “não havia urgência nenhuma na reunião”. “Quando queremos fazer as coisas com transparência não se marca para um dia de festa uma reunião”, insistiu.

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José Pacheco foi ainda mais longe nas acusações ao colega de bancada no Parlamento açoriano: “Não querem que eu esteja nas reuniões, é muito fácil. Assumir as coisas com tiques de ditador é que não. Já me fartei do ‘eu quero posso e mando’”.

Aos olhos de Carlos Furtado, trata-se de acusações “extremamente injustas”, tendo em conta que José Pacheco “nunca atendeu o telefone nem devolveu a chamada”, pelo que não era possível ter-lhe comunicado a data da reunião. O líder regional demissionário diz até que os militantes só iriam ser informados quando fosse também decidida a data da Convenção nos Açores, mas acabou por haver uma publicação nas redes sociais devido às acusações do secretário-geral.

Carlos Furtado esclareceu que “André Ventura está perfeitamente a par da situação e tudo decorreu com normalidade”, contudo acredita que esta situação é “prejudicial ao partido, aos elementos do partido e não contribui em nada para a dignificação e credibilização do Chega”. “Lamento que o deputado esteja a fazer uma espécie de política de terra queimada, porque é um projeto que é preciso credibilizar todos os dias, tem sido feito um trabalho regional e nacional para a credibilização deste partido”, afirmou o líder regional, que tem medo que estas quezílias “desencorajem” a entrada de novos militantes.

Foi também por esta razão que Furtado lutou para que as eleições internas acontecessem antes das autárquicas, já que “o trabalho é um trabalho olhos nos olhos” e, acrescentou, “não se pode ir trabalhar para um projeto autárquico e convidar pessoas no pressuposto que depois de outubro pode ser outro o presidente do partido”.

José Pacheco concorda que a situação está a “prejudicar demasiado” o Chega e admitiu ao Observador desistir desta corrida eleitoral. O secretário-geral vai ainda reunir com a equipa que o acompanha mas assegurou que “estão em cima da mesa várias opções”. “Se é para andar neste tipo de trapalhada se calhar não vale a pena, não alimento esse tipo de lodo. Isto já dura há meses e não vou continuar nem a branquear nem a alimentar. Ou isto tem um ponto final ou não vale a pena”, referiu.

Apesar dessa possibilidade, José Pacheco deixa claro que não abandona o partido e que vai cumprir o mandato de deputado pelo Chega até ao fim.

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