O Fórum para a Competitividade reviu esta segunda-feira em alta a estimativa de evolução da economia portuguesa no primeiro trimestre, apontando agora para uma quebra homóloga entre 3,5% a 5,5% e uma variação em cadeia entre -1% e -3%.

Como seria de esperar, devido ao severo confinamento decretado, os dados de janeiro e fevereiro foram bastante negativos, em particular nas vendas a retalho, serviços e turismo. No entanto, dados de elevada frequência de março sugerem uma apreciável recuperação, pelo que somos forçados a uma visão um pouco menos pessimista sobre a evolução do PIB [Produto Interno Bruto] no primeiro trimestre”, lê-se na nota de conjuntura de março.

A anterior estimativa do Fórum para a Competitividade era de uma variação homóloga do PIB entre -5,5% e -8,5% no primeiro trimestre e de uma queda em cadeia entre 3% e 6%.

Relativamente ao segundo trimestre, o Fórum estima que “deverá ser já de alguma recuperação“, quer porque “deverá haver um forte alívio do confinamento e restrições que vigoraram durante quase todo o primeiro trimestre”, quer porque “o trimestre homólogo foi o de maior quebra da pandemia, com queda do PIB trimestral de 13,9%”.

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Ainda assim, avisa que “o enquadramento externo é ambivalente” e, se “em geral tem havido claras revisões em alta do PIB a nível mundial, auxiliadas de forma importante pelo pacote orçamental americano”, a nível da zona euro “estes efeitos têm sido muito mais limitados ou mesmo inexistentes, havendo mesmo casos, como a Alemanha, de revisões em sentido contrário”.

“Aliás — adverte o Fórum — o agravamento das condições da pandemia na UE [União Europeia], em contraciclo do que se passa em Portugal, poderão mesmo ditar novos confinamentos, com impactos claros nas nossas exportações e turismo”. Por outro lado, “não se pode também pôr de lado uma inversão dos dados sanitários portugueses, que ainda há apenas dois meses eram dos piores da UE“.

“No cômputo geral, estamos agora um pouco menos pessimistas em relação à evolução da atividade ao longo de 2021, mas a elevada incerteza leva-nos a manter as previsões anteriores”, remata. No passado dia 2 de fevereiro, o Fórum para a Competitividade reviu em baixa as previsões económicas para este ano, passando a apontar para uma variação do PIB entre -4% e +1%.

Fórum para a Competitividade prevê manutenção de elevados níveis de poupança

A taxa de poupança das famílias subiu no quarto trimestre de 2020 para máximos desde 2002, mas o Fórum para a Competitividade avisa que esta “poupança forçada” pela pandemia poderá não se traduzir significativamente em despesa extra em 2021.

“Em Portugal, não se deve esperar que a poupança forçada de 2020 se transforme de forma expressiva em despesa extra em 2021, devendo ser necessário aguardar pelo próximo ano para detetar efeitos mais visíveis”, sustenta o diretor do gabinete de estudos do Fórum, Pedro Braz Teixeira, na nota de conjuntura de março daquela entidade, divulgada.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), no quarto trimestre de 2020 a taxa de poupança das famílias subiu para 12,8%, face a 7,1% no trimestre homólogo (média dos quatro trimestres anteriores), o valor máximo desde 2002. Conforme nota Pedro Braz Teixeira, “a poupança aumentou em presença de um aumento modesto do rendimento disponível de 1,0% (devido às ajudas públicas), com uma quebra inédita de 5,0% no consumo privado”.

Já o investimento dos particulares “foi ligeiramente superior ao do ano anterior (8.756 milhões face a 8.666 milhões de euros), não tendo sido afetado pela pandemia”.

“Isto significou que praticamente todo o crescimento da poupança se traduziu num aumento da sua capacidade de financiamento, que subiu de forma muito expressiva de 3.170 milhões em 2019 para 11.998 milhões de euros em 2020”, salienta, questionando “o que se vai passar com estes 8.828 milhões de euros de aumento da capacidade de financiamento, que correspondem a 4,4% do PIB [Produto Interno Bruto] de 2020”.

A este propósito, o Fórum para a Competitividade refere que “o que terá estado por trás deste aumento da poupança foram os sucessivos confinamento e restrições à despesa (turismo, restauração, vestuário, etc.)”, sendo que essas restrições prolongaram-se no primeiro trimestre de 2021 “e ainda continuam, não sendo claro o momento do seu fim”. “Ou seja — acrescenta — poderemos assistir ainda a, pelo menos, níveis elevados de poupança, mesmo que já não suba muito mais.

Adicionalmente, Braz Teixeira recorda que “as famílias apresentam níveis elevados de endividamento, que atingiram um novo máximo de cinco anos, e que muitas também têm empréstimos com moratórias”, pelo que “um destino possível da poupança extra da pandemia poderia ser a amortização de dívidas”.

Da análise do diretor do gabinete de estudos do Fórum resulta, contudo, que “os agregados familiares que mais terão poupado seriam, à partida, aqueles com uma posição mais desafogada, com maior património e com menor propensão ao consumo a partir do rendimento disponível”. “Ou seja, é mais provável que esta poupança não seja consumida, até porque os níveis de aforro estavam historicamente muito baixos” e, “mesmo a parte que venha a ser consumida, talvez nem o seja em grande medida em 2021”.

Isto porque, por exemplo, com as limitações às viagens internacionais a prolongarem-se, previsivelmente, até pelo menos parte do verão, “é pouco provável que as famílias consigam fazer as despesas de lazer normais no corrente ano, quanto mais compensarem parte do que não gastaram em 2020”.

É mesmo mais provável que ao longo de 2021 se mantenham taxas de poupança elevadas”, reitera Braz Teixeira, reforçando a ideia de que “este aumento da poupança está relacionado com os limites à despesa, em particular os associados às viagens internacionais, ainda muito restringidas”.