As cheias que assolaram Timor-Leste no fim de semana causaram pelo menos 34 mortos, devido ao mau tempo, em todo o país, com 13 na capital e 12 na zona de Manatuto, segundo um balanço ainda provisório desta terça-feira, disse à Lusa fonte da Proteção Civil. A mesma fonte assinalou que há várias pessoas dadas como desaparecidas, pelo que o balanço final ainda não está completo. O anterior balanço, de segunda-feira, apontava para 28 mortos, e mais de sete mil desalojados em Díli.

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) já apelou à comunidade internacional para que ajude Timor-Leste.

No caso de Díli, os dados preliminares referem que se registaram seis mortos em Comoro — uma das zonas mais afetadas devido à subida significativa do rio —, três em Beduku, três em Hera, no limite oriental da cidade, e um em Bebora. No resto do país, e além dos 12 mortos em Manaturo, registaram-se sete mortos em Ainaro, um em Baucau (Baguia) e outro em Aileu.

As cheias em vários pontos do país provocaram milhares de deslocados, com muitas casas destruídas, danos avultados em infraestruturas — com pontes e estradas destruídas. Houve ainda danos significativos em várias escolas e outros edifícios públicos, com equipas no terreno a avaliar os estragos.

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Só em Díli há já mais de 3.500 pessoas alojadas temporariamente em 11 locais, para onde estão a ser canalizadas ajudas públicas, mas também o apoio de muitas empresas e cidadãos privados, com uma extensa onda de solidariedade que continua a ampliar-se.

Estão em curso várias campanhas de recolha de fundos no exterior para adquirir produtos em Timor-Leste e distribuir pelas famílias mais afetadas. Falta comida, água, outros bens essenciais e também material para que as pessoas possam começar a reconstruir as casas. Muitos residentes portugueses em Díli, como noutros locais do país, estão envolvidos no apoio humanitário, participando voluntariamente a preparar alimentos quentes e a entrega de víveres em vários locais.

Esta terça-feira, o Ministério da Agricultura vai fazer uma distribuição adicional de comida, a juntar-se aos esforços já em curso desde domingo por parte do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, de várias embaixadas, do Ministério da Solidariedade Social e ainda do Ministério da Administração Estatal.

O primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, acompanhado do vice-primeiro ministro, José Reis, e do ministro das Obras Públicas, Salvador Soares, visitaram esta terça-feira vários locais em Díli, onde as infraestruturas foram significativamente afetadas.

Há danos graves em estradas, derrocadas de terra e lama em vários pontos da capital, a queda de diques de ribeiras e ainda muita água em várias zonas da cidade, incluindo edifícios públicos. O serviço de eletricidade tem sido intermitente em vários locais e há zonas da cidade que estão há mais de 24 horas sem luz, apesar de um esforço significativo da Eletricidade de Timor-Leste (EDTL) para se recuperar progressivamente o serviço. O lixo acumula-se por toda a cidade, apesar de já ter sido efetuada alguma limpeza, com montes de terra e lama em vários locais, incluindo a Ponte de Santa Ana, a estrada ao lado da Ribeira Halilaran, o Largo de Lecidere e a zona de Taibessi.

São considerados locais de intervenção urgente várias pontes, incluindo a que liga à zona do Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV) e as que cruzam a ribeira de Maloa, o Palácio Presidencial, e toda a zona ribeira do rio de Comoro, entre outros. A Ribeira de Hudilaran, por exemplo, está praticamente tapada de terra, com danos na ponte do seminário menor de N.ª Senhora de Fátima, que está em risco de cair.

Informações de segunda-feira apontam que a Secretaria de Estado da Proteção Civil irá funcionar como centro operacional de recolha de apoio humanitário e o vice-primeiro-ministro e o ministro das Obras Públicas apelaram também ao contributo de entidades do setor privado que possuam máquinas para apoiar nas ações de limpeza.

“As autoridades durante o dia de ontem mobilizaram esforços para providenciar abrigo e apoio alimentar aos desalojados e iniciaram as intervenções nas infraestruturas com o objetivo de restabelecer a mobilidade viária e o fornecimento de energia elétrica com segurança e garantir a reparação de sistemas de abastecimento de água danificados, e, efetuar os trabalhos urgentes de limpeza de drenagens, normalização e desassoreamento de ribeiras”, explica uma nota do executivo de segunda-feira.

O governante explicou que, entre as várias medidas acordadas, a comissão deliberou permitir a abertura das lojas de material de construção — fechadas com base nas regras de confinamento obrigatório — para que as famílias afetadas pelas cheias possam recuperar as suas casas.

Durante a reunião, o primeiro-ministro agradeceu o contributo que tem sido dado pelos envolvidos na resposta às inundações, incluindo as organizações religiosas, parceiros de desenvolvimento, organizações da sociedade civil e cidadãos em geral. Por outro lado, orientou os membros da Comissão Interministerial para a Proteção Civil e Desastres Naturais “para que impulsionem as medidas de apoio às populações afetadas e as ações de limpeza e de levantamento dos danos nas infraestruturas com vista a rápida normalização da mobilidade viária e dos sistemas de abastecimento de energia elétrica, água e saneamento”.

No domingo o Presidente Francisco Guterres Lú-Olo, numa mensagem dirigida à população de Timor-Leste, falou em “calamidade” e apelou ao governo para identificar com precisão danos e mortes.

CPLP apela à comunidade internacional para ajudar Timor-Leste

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da qual Timor-Leste é Estado-membro, apelou na segunda-feira à comunidade internacional para que ajude o país no atual momento de calamidade. Numa carta dirigida à ministra dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, Adaljiza Magno, a que a Lusa teve acesso, o secretário- executivo da organização escreve que “a CPLP manifesta a sua solidariedade para com as famílias enlutadas, apela ao apoio da comunidade internacional e saúda os esforços de resgate e assistência já em curso” no país.

No documento, Francisco Ribeiro Telles apresenta condolências às autoridades e ao povo de Timor-Leste, “pelas trágicas cheias que afetaram o país ontem [domingo], dia 4 do corrente, e que resultaram já em mais de duas dezenas de vítimas, milhares de desalojados e avultados prejuízos materiais”. Mas, salienta: “Estamos confiantes de que a resiliência e determinação características do povo timorense permitirão superar esta calamidade”.

UE manifesta “apoio total” e disponibiliza-se para prestar “mais assistência”

A União Europeia (UE) disse na segunda-feira “apoiar plenamente” o “Governo e o povo de Timor-Leste” e disponibilizou-se para prestar “mais assistência”, após as cheias deste fim de semana.

A UE apoia plenamente o Governo e o povo de Timor-Leste após as cheias devastadoras que afetaram Díli e outras partes do país. Os nossos pensamentos vão para aqueles que perderam as suas casas e os seus meios de subsistência. Oferecemos as nossas condolências às famílias das vítimas”, lê-se numa nota publicada pela porta-voz do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE), Nabila Massrali.

Segundo a porta-voz, a UE está a “monitorizar de perto” a situação no país, tendo já ativado o Serviço de Gestão de Emergência do Copernicus — que fornece informação geoespacial através de mapas satélite –, mostrando-se também “pronta para fornecer mais assistência” através do Mecanismo de Proteção Civil da UE — que prevê uma ajuda que pode ir do fornecimento de alimentos, equipamento ou abrigos ao destacamento de equipas de peritos — caso esta seja “solicitada”.

“A UE e Timor-Leste têm uma parceria de longa data. Num espírito de solidariedade, iremos apoiar Timor-Leste à medida que as pessoas afetadas pelas cheias se esforçam por reconstruir as suas vidas e os seus modos de subsistência”, frisa a porta-voz do SEAE.

Nabila Massrali salienta ainda que as “cheias catastróficas” ocorrem numa altura em que o país está a “trabalhar arduamente para conter a propagação da Covid-19 entre a sua população”, acrescentando assim uma “pressão considerável tanto sobre os recursos como sobre o povo timorense”.

“A UE continuará também a ajudar Timor-Leste na sua batalha contra a Covid-19, inclusive como um dos principais contribuintes para a iniciativa Covax”, aponta a responsável.

Ferro Rodrigues manifesta solidariedade e “profunda consternação”

O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, também manifestou esta segunda-feira solidariedade ao seu homólogo timorense pelas consequências das cheias e a disponibilidade do parlamento português para colaborar na retoma da atividade normal do parlamento de Timor-Leste.

De acordo com uma nota colocada no site da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues endereçou à tarde de segunda-feira uma carta ao presidente do Parlamento Nacional da República Democrática de Timor-Leste, Aniceto Guterres Lopes, através da qual transmitiu solidariedade e “profunda consternação”, em seu nome e do parlamento português.

Acompanho, com grande preocupação, a situação que se vive em Timor-Leste, em resultado das chuvas intensas que, desde há dias, se têm sentido e das trágicas consequências que estas têm comportado para vários municípios do país, muito em especial para Díli, causando a morte de dezenas de cidadãos e um número ainda indeterminado de feridos, bem como a destruição de muitas habitações e infraestruturas, incluindo estradas e pontes, a par de outros avultados prejuízos materiais”, refere a missiva.

A segunda figura do Estado acrescenta que estas cheias poderão ainda trazer “dificuldades acrescidas” no combate à Covid-19 em Timor-Leste.

“No momento em que a prioridade está no apoio às famílias das vítimas e no realojamento dos milhares de timorenses afetados pelas inundações, quero transmitir a Vossa Excelência a mais profunda solidariedade, bem como a disponibilidade da Assembleia da República em colaborar com o Parlamento Nacional da República Democrática de Timor-Leste em tudo quanto seja necessário para a retoma da sua normal atividade”, acrescenta Ferro Rodrigues.

O presidente do parlamento português manifesta ainda, em seu nome e da Assembleia da República, as condolências ao seu homólogo timorense e às famílias das vítimas.

ONU transmite pesar e aponta dez mil afetados pelas cheias em Timor-Leste

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) menos dez mil pessoas foram afetadas pelas cheias deste fim de semana de Timor-Leste.

A ONU em Timor-Leste está profundamente triste com a perda de vidas e destruição de infraestruturas causadas pelo desastre natural”, declarou o coordenador residente da organização, Hemansu Roy Trivedy, citado esta segunda-feira pelo porta-voz do secretário-geral da ONU, numa conferência de imprensa em Nova Iorque.

Segundo o porta-voz de António Guterres, Stéphane Dujarric, “dados preliminares indicam que pelo menos dez mil pessoas foram afetadas em oito municipalidades, com a capital, Díli, sendo a mais afetada” pelas chuvas torrenciais, dilúvios e inundações desde sábado. “Já foram registados danos em casas, estradas e pontes; famílias ficaram sem abrigo e pessoas ficaram desaparecidas”, declarou ainda o porta-voz.

A ONU está a cooperar com o Governo de Timor-Leste para auxílio, depois de o país ter sido atingido pelas “piores cheias e deslizamentos de terra dos últimos anos”. A assistência da ONU foi materializada com a entrega de suprimentos, como kits sanitários, tapetes de plástico e mantas para os necessitados.

A Cruz Vermelha indonésia mobilizou pessoal para apoiar as evacuações e prestar serviços de primeiros socorros”, indicou ainda a ONU.

O Escritório da ONU para Coordenação de Assistência Humanitária (OCHA) continua a monitorizar a situação e “até agora [segunda-feira], não houve pedidos oficiais para assistência internacional”, declarou Stéphane Dujarric.

Artigo atualizado às 7h58 do dia 6 de abril com a atualização do número de mortes.