A Irlanda do Norte tem estado a ferro e fogo desde o fim de semana com violentos protestos por todo o território. A madrugada desta terça-feira não foi exceção: em Derry, um carro foi destruído e em Carrickfergus, perto de Belfast, a polícia envolveu-se em confrontos com os manifestantes.

Desde a noite de sábado que 30 agentes ficaram feridos e vários carros foram roubados e incendiados. Darrin Jones, superintendente-chefe da polícia da Irlanda do Norte, descreveu a violência como sendo “totalmente inaceitável” e que era “crucial transmitir a mensagem que estes comportamentos não podem ser toleráveis”. “As pessoas merecem sentir-se seguras nas suas casas e andar nas ruas sem sentir medo”, acrescenta.

A idade dos manifestantes é algo que está a surpreender as autoridades: “É chocante que alguns dos envolvidos nos distúrbios sejam crianças, alguns com 12 anos, misturados com outros até aos 18 anos”, revelou Darrin Jones.

Os protestos começaram, de acordo com a CNN, após ser conhecida uma decisão judicial em que os líderes do partido nacionalista Sinn Fein (a favor da união entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda) foram absolvidos por terem alegadamente desrespeitado as restrições impostas pelo confinamento ao comparecerem num funeral de um antigo líder do Exército Republicano Irlandês (IRA, acrónimo em inglês), Bobby Storey.

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A este motivo vieram ainda juntar-se as tensões criadas pelo Brexit. Segundo o Protocolo da Irlanda do Norte acordado entre o Reino Unido e a União Europeia (UE), não haverá controlo alfandegário nas fronteiras terrestres das duas Irlandas. No entanto, a UE vai fiscalizar todos os produtos oriundos da Grã-Bretanha que passem pelo Mar da Irlanda, mesmo que sejam destinados à Irlanda do Norte. Esta parte do acordo desagrada particularmente aos unionistas, que se reveem na identidade britânica e que rejeitam qualquer interferência da UE.

Sammy Wilson, líder do Partido Democrática Unionista, revelou à CNN que esta parte do acordo com a UE “rompe todas as promessas que se fizeram às pessoas da Irlanda do Norte” de que “haveria um acesso sem limitação aos mercados da Grã-Bretanha”.

As duas Irlandas estiveram em conflito desde meados da década de 60 até à década de 90. Enquanto os nacionalistas irlandeses, de maioria católica, eram a favor da união com a República da Irlanda, os unionistas, maioritariamente protestantes, insistiram na importância da manutenção da relação com o Reino Unido. Em 1998, os dois países assinaram um acordo de paz, mas o Brexit veio reavivar os fantasmas com a discussão de novas fronteiras entre os dois territórios.