Depois de conceber um berlina de luxo eléctrica que bate tudo o que existe no mercado, da potência (mais de 1200 cv) à autonomia (837 km em EPA, pelo que é de prever um pouco mais em WLTP), passando pela velocidade máxima (322 km/h) e capacidade de aceleração (0-100 km/h em menos de 2,1 segundos), a Tesla dotou o Model S com duas soluções que são meramente estéticas e que não só não juntam um quilómetro à autonomia, como não retiram um único décimo ao tempo necessário para ir de 0-100 km/h. Porém, são as mais faladas. Referimo-nos ao volante que é só metade – e que, para funcionar de forma minimamente interessante, necessita de uma direcção extremamente directa – e ao facto de o modelo ter prescindido da tradicional alavanca ou comando que permite engrenar a marcha-atrás, quando quem vai ao volante decide que essa é a melhor opção.

O construtor norte-americano avança que o seu carro vai ser tão “inteligente” que vai ser capaz de adivinhar que o condutor quer engrenar D (drive) ou R (reverse), mas é bom que a Tesla se prepare para uma guerra, ou melhor muitas, pois mesmo quando um condutor está estacionado a apenas dois palmos do fundo da garagem, com a opção lógica a ser a marcha-atrás, haverá sempre quem prefira o andar para a frente, para avançar um pouco mais, mais que não seja para fechar o portão sem bater na traseira.

Potencialmente, todos estes casos vão dar origem a reclamações sem necessidade e tudo porque alguém decidiu fazer desaparecer a alavanca da transmissão, que nos eléctricos oferece bastante menos opções. No seu lugar surge, num cantinho do ecrã central táctil, um pequeno botão com a forma de um Model S visto de cima, que o condutor tem de fazer “swipe” para cima ou para baixo depois de lhe colocar o dedo em cima. Parece muito avançado e moderno, mas será prático ou funcional?

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É certo que a Tesla está a avançar rapidamente com o sistema autónomo, mas ainda não há legislação para o suportar e não deverá existir tão depressa. Sobretudo na Europa, com os concorrentes europeus a movimentarem-se para que isso não aconteça até que também eles estejam prontos para oferecer um sistema equivalente (ou quase).

Provavelmente para fazer companhia à alavanca da transmissão, desapareceram também os indicadores de mudança de direcção, vulgo piscas. É certo que não faltam os condutores que raramente os utilizam, mas a realidade é que são obrigatórios e ajudam a evitar acidentes. Também aqui a marca americana afirma que o carro tem a capacidade de se habituar ao condutor e perceber para onde ele deseja ir. Isto partindo do princípio que o sistema de navegação está programado (existe a possibilidade de controlar os piscas através do ecrã central). E se o condutor não activou a navegação e está apenas a dar voltas ao quarteirão, à espera que surja um lugar para estacionar? Não seria mais simples manter os piscas, a alavanca e o volante mais ou menos redondo, deixando para os condutores que gostam de arriscar a possibilidade de optar pelos comandos mais arrojados?