O alegado insulto racista de Juan Cala a Diakhaby na primeira parte do encontro entre Cádiz e Valencia, que fez com que os visitantes se retirassem de campo antes de regressarem um quarto de hora depois mas sem o central francês, continua a dar muito que falar em Espanha, não só no mundo desportivo mas também na política, e com versões completamente distintas apresentadas esta terça-feira pelos dois intervenientes num caso que irá passar também para a Justiça, com o central do Cádiz a adiantar que irá avançar com ações legais.

Jogadores do Valencia abandonaram relvado por alegado insulto racista, voltaram mas Diakhaby recusou continuar a jogar

“Quero falar sobre o que se passou em Cádiz no domingo. Hoje estou mais tranquilo e quero falar. Em Cádiz no domingo há uma jogada onde um jogador me insulta. As palavras são ‘Negro de m****’. O jogador disse-me isso e é intolerável. Todos viram as minhas reações. Não se pode passar na vida normal nem no futebol, que é um desporto de respeito”, começou por dizer o jogador num vídeo gravado em casa com pouco mais de dois minutos.

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“Os meus companheiros e eu decidimos ir para o balneário, que foi uma boa decisão e logo aí um jogador deles perguntou a um nosso se o Cala pedisse desculpa, se voltaríamos ao campo. Eu e os meus companheiros dissemos que não. As coisas não são assim, não podes fazer algo e passar assim com um pedido de desculpa. Hoje sinto-me bem mas doeu-me muitíssimo. É a vida, acontecem coisas assim. Espero que a Liga faça alguma coisa, soluções, que encontre provas para que tudo fique claro. Quero agradecer ao Valencia, aos meus companheiros e treinadores, pela solidariedade e pelo apoio que me têm dado”, acrescentou o central francês.

No entanto, a versão apresentada por Juan Cala, que compareceu numa conferência de imprensa para esclarecer o sucedido, é bem diferente e o jogador assumiu mesmo que irá avançar com processos, ao mesmo tempo que fez questão de lamentar aquilo que considera ser um linchamento mediático que chegou até à política.

A foto, a conferência agendada e os comunicados: o day after do alegado caso de racismo com Diakhaby em Espanha

“Tudo começou num canto a favor do Valencia em que o jogador Diakhaby caía em cima de mim. Levo com uma cotovelada, reclamo falta e ele diz-me para levantar. Depois vem o golo, o cartão e a jogada em que numa falta a favor tenho outro lance de jogo com o jogador, levo um golpe e reclamo outra vez. Disse ao jogador ‘Deixa-me em paz’, há um desentendimento e o jogador acusa-me de lhe ter chamado ‘Negro de m****’. Monta aquilo depois de levar o amarelo e depois vivemos aquela cena no campo. Nunca lhe chamei isso, é bastante claro. Tudo o que diz é falso. Se algum jogador do Cádiz disse que ia pedir desculpa, deixo o futebol. Isto é um linchamento mediático”, salientou o jogador dos visitados, que manteve as críticas ao que aconteceu durante e depois do jogo.

“Depois de ver o vídeo do presidente do Valencia ao lado do seu jogador, espero que tenha ido às autoridades fazer uma denúncia de mim porque eu vou fazer. Não se pode acusar assim alguém sem poder demonstrar isso. Vou avançar com ações legais contra todas as pessoas que intentaram contra a minha honra, o meu advogado já se encontra a recolher todas as informações para avançar com esses processos. Aqui há duas vítimas: um jogador que é acusado e outro que acredita que terá sido vítima de um insulto racista. Se nos tivessem deixado a falar com o árbitro, tudo se tinha solucionado mas montou-se um circo. Estou em choque”, apontou o central do Cádiz.

“O que quer Diakhaby? Não sei. Nem sei se me percebeu mal. Eu tentei fazer ver que não tinha dito aquilo mas depois vi logo os jogadores do Valencia a juntarem-se e aconteceu aquilo. Encontro com ele? Não teria nenhum tipo de problema em sentar-me com ele mas depois deste linchamento sem provas… Todas as pessoas me julgaram sem ouvirem a minha versão, todas as pessoas comentaram para ganhar protagonismo, para ganhar votos. Estamos a lesar o futebol espanhol com este circo, não há racismo no futebol espanhol. Recuso que se diga isso. Existem jogadores negros em todas as equipas, estão mais do que integrados. Recebi centenas de mensagens, tenho de agradecer a todos aqueles que me apoiaram neste momento complicado em que fui colocado em ponto de mira de um linchamento. Estive em dez equipas, partilhei o balneário com jogadores de todas as cores e todos eles me escreveram. Não há nenhum companheiro ou ex-colega que me possa acusar daquilo que estão a acusar e se houver um que o possa fazer, que peço que o diga”, completou, assumindo várias ameaças nas redes sociais.