O presidente do instituto Camões, João Ribeiro de Almeida, disse esta quarta-feira que o próximo programa de cooperação com Moçambique, a assinar até final do ano, deverá ser marcado pela crise em Cabo Delgado, defendendo o reforço da ajuda.

Vamos começar a negociar o programa estratégico de cooperação com Moçambique para os próximos cinco anos e não poderemos ficar, obviamente, alheios ao que se está a passar [em Cabo Delgado], quer na vertente humanitária quer na vertente da ajuda ao desenvolvimento”, disse João Ribeiro de Almeida.

O presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, que falava esta quarta-feira perante os deputados da Comissão dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas da Assembleia da República, adiantou que Portugal está a recolher junto das autoridades moçambicanas informações sobre o que serão as suas prioridades, conjugando-as depois com as prioridades portuguesas de apoio à saúde e educação.

João Ribeiro de Almeida, que assumiu a liderança da agência pública de cooperação há cinco meses, manifestou a intenção de ir “o mais longe possível” neste programa para garantir que, ultrapassada a questão da segurança, as populações, nomeadamente os jovens, possam ficar em Cabo Delgado “com empregos dignos e estabilidade”.

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O grande problema histórico no norte de Moçambique é o total abandono e ausência de Estado em toda a fronteira porosa com a Tanzânia”, disse.

“Moçambique é já um dos principais destinatários da ajuda pública portuguesa e temos de a reforçar tendo em conta a conjuntura porque é evidente que o que se está a passar terá consequências em todo o lado”, acrescentou.

O responsável disse ainda que a expectativa é que o programa de cooperação possa estar concluído até final do ano para ser assinado durante uma cimeira de alto nível entre Moçambique e Portugal.

João Ribeiro de Almeida disse ainda que a resposta à situação humanitária em Moçambique é prioritária para a Presidência Portuguesa da União Europeia, adiantando que será o assunto central da próxima reunião do Grupo de Ajuda Humanitária da União Europeia, marcada para 15 de abril.

Na reunião, disse João Ribeiro de Almeida, Portugal voltará a sensibilizar os Estados-membros, mas também a Comissão Europeia e as Nações Unidas, “para a gravidade e as necessidades humanitárias crescentes desta crise“.

Por outro lado, o presidente do Camões lembrou que a cooperação portuguesa não chegou agora a Moçambique e destacou as contribuições de Portugal para apoio aos esforços das Nações Unidas e da Cruz Vermelha Internacional no terreno, bem como um projeto de cooperação delegada da UE e gerido pelo Camões de promoção do emprego jovem em Cabo Delgado, além do trabalho de vários anos das organizações não governamentais portuguesas Oikos e Helpo, com projetos financiados pela cooperação portuguesa.

A violência desencadeada há mais de três anos na província de Cabo Delgado ganhou uma nova escalada há cerca de duas semanas, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, que está a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de gás natural.

Os ataques provocaram dezenas de mortos e obrigaram à fuga de milhares de residentes de Palma, agravando uma crise humanitária que atinge cerca de 700 mil pessoas na província, desde o início do conflito, de acordo com dados das Nações Unidas.