A polícia da Guiné Equatorial ocupou esta quarta-feira a Praça da Mulher, no centro da capital, para onde um grupo de jovens opositores tinha previsto uma homenagem às vítimas das explosões num quartel na cidade de Bata e para contestar a ação do governo.

Na semana passada, um grupo de jovens, intitulado Somos+, solicitou a realização de uma homenagem às vítimas das explosões do quartel Nkoantoma, há exatamente um mês, mas as autoridades recusaram o pedido e era visível a presença de um forte dispositivo policial na zona, disse um dos organizadores.

A homenagem incluía um concerto de hip-hop, um minuto de silêncio pelas vítimas e a atuação dos músicos Fausto Dougan, Alex Ikott e Nelida Karr. No pedido, a que a Lusa teve acesso, os organizadores comprometeram-se a usar máscaras e explicaram que o “objetivo desta homenagem era prestar condolências aos irmãos de Bata”, a maior cidade do país, localizada no continente.

A câmara de Malabo recusou a realização do evento, alegando que o pedido não cumpria os requisitos formais (uma associação legal e a identificação dos organizadores).

Em resposta, os promotores apresentaram um recurso, invocando a Lei de Liberdade de Reunião e Manifestação, de 6 de janeiro de 2020, e alegando que se tratava de um evento de homenagem e não um comício político, pelo que não era necessário ter uma associação formalizada ou o nome de todos os subscritores, bastando a assinatura de um deles, algo que, dizem, foi feito.

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Nós aqui não podemos falar em manifestações e temos dito que vamos fazer uma homenagem“, disse anteriormente à Lusa Paysa, um dos promotores do grupo Somos+, que pediu autorização para a realização de uma vigília na cidade de Malabo.

A Guiné Equatorial, governada por Teodoro Obiang Nguema desde 1979, é acusada de várias violações de direitos humanos por organizações internacionais. O país é membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde 2014.

Para os organizadores do evento, a explosão no quartel “não foi um acidente, foi uma tragédia anunciada“, porque o país é “um gigantesco arsenal militar” que o regime mantém com medo da revolta popular. “Um acidente é uma coisa fortuita, mas o que se passou em Bata era algo que se esperava”, afirmou Paysa, considerando que ao governo de Obiang falta autoridade moral para lidar com um acidente deste género.

No dia 7 de março, Bata foi palco de várias explosões com origem num quartel militar que causaram 107 mortes e seis centenas de feridos. O governo apontou o mau uso de munições e explosivos militares que estavam guardados no quartel como a causa do acidente, que motivou um pedido de ajuda internacional por parte das autoridades de Malabo.