O diretor adjunto do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, João Amador, defendeu esta sexta-feira que a implementação do plano nacional de recuperação e resiliência (PRR) é a “chavepara promover um crescimento sustentado da produtividade.

“Quanto a Portugal, é garantido um forte empenho na governação e na implementaçao do PRR”, sendo a “chave” para a “integração numa agenda mais profunda e mais longa, a fim de promover o crescimento sustentado da produtividade”, afirmou João Amador, que falava numa conferência virtual sobre o plano de recuperação europeu.

O economista do Banco de Portugal apontou que, antes da pandemia de Covid-19, o país já evidenciava um crescimento “limitado” de produtividade em comparação com os restantes países membros da União Europeia (UE), mas que, ainda assim, “eram visíveis progressos” em empresas devido à “internacionalização, a uma “melhor gestão”, a “maior inovação” e ao “crescimento das médias empresas”.

Ao nível da UE, João Amador frisou as necessidades de “evitar tensões intra-UE após a pandemia”, tendo em conta que terão de ser administradas “altas proporções de dívida“, e de “uma política de concorrência forte” que garanta “igualdade de condições“.

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O economista salientou, no entanto, que “o impulso para aumentar a economia estratégica da UE não pode ser uma desculpa para uma ação protecionista”.

Também presente na videoconferência, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, concordou com João Amador e sublinhou que um dos assuntos que deve ser explorado com o dinheiro do fundo de recuperação e resiliência é a “estagnação da produtividade”.

Nesse sentido, o governante chamou a atenção para tópicos “significativos que precisam de ser apoiados”, tais como “as competências da população, em que existem grandes lacunas“, e o “ambiente de negócios”.

Quanto às restrições fiscais no tratado orçamental da UE, que foram recentemente suspendidas até 2022, Pedro Siza Vieira assinalou que “a ideia é criar espaço às pessoas para discutir se o pacto de estabilidade deve ser mantido ou revisto, tendo em conta não apenas o impacto da pandemia, mas a capacidade de resposta”.

Quando olhamos para os Estados Unidos e para a sua resposta, percebemos que é uma boa ideia rever as regras do pacto de estabilidade e dar tempo de chegar a um acordo político”, disse.

Comparando os pacotes financeiros de resposta à pandemia da UE com os dos Estados Unidos, o economista Miguel Faria e Castro, da Divisão de Investigação do Banco da Reserva Federal de St. Louis, considerou “consensual” que a resposta europeia “não foi muito ambiciosa”.

A resposta foi mais larga nos EUA e acho que toda a gente na Europa concorda que mais podia ser feito“, criando-se “condições para os Estados-membros poderem gastar mais”, afirmou.

Porém, o economista ressalva que a “recuperação do gasto privado” e o “grande estímulo fiscal” nos Estados Unidos poderão conduzir a um “superaquecimento” da economia norte-americana, o que acontece quando uma economia se expande a um ritmo insustentável, com a capacidade produtiva a ser incapaz de acompanhar o crescimento da procura total.

Já o professor João César das Neves criticou a atuação da UE na resposta à crise provocada pela pandemia de Covid-19, pois “está a centrar-se nas poucas em que o vírus ajudou”, nomeadamente na descarbonização e na digitalização da economia.

Sobre o plano nacional de recuperação e resiliência, o professor catedrático da Universidade Católica de Lisboa considerou que, olhando para os “detalhes”, o programa propõe, “sobretudo, construção e burocracias” – o que “não é muito útil”.

João César das Neves admitiu, nesse sentido, que “não é uma surpresa que a Europa vá crescer metade do que os Estados Unidos vão crescer – e Portugal muito menos, provavelmente” —, pois “não se está a lidar com a questão em si, mas com outra coisa qualquer, algo que não é errado, mas não é a questão central“.

O exemplo “mais extremo” dessa situação, segundo o professor, é o investimento que o PRR português prevê para a criação do Banco Português de Fomento.

Porque todos sabemos que precisamos de um novo banco público. O primeiro é tão bom, gostamos tanto dele, que é melhor termos dois. Não consigo compreender porque é que isto é uma boa ideia”, concluiu.

Pedro Siza Vieira, Miguel Faria e Castro, João César das Neves e João Amador participaram numa videoconferência intitulada “A presidência portuguesa da UE e o Plano de Recuperação Europeu”, inserida na 6.ª edição do ciclo de conferências “Economia Viva” e organizada pela Representação da Comissão Europeia em Portugal e pela Nova Economics Club, em parceria com a Nova Student’s Union, da Nova School of Business and Economics.