Ursula Von der Leyen e Charles Michel reuniram-se esta segunda-feira pela primeira vez desde o incidente diplomático “Sofagate”, que motivou uma crise institucional dentro da União Europeia. No encontro, a presidente da Comissão Europeia passou uma mensagem clara ao seu homólogo no Conselho Europeu, advertindo que não vai tolerar que se volte a repetir episódio idêntico ao que aconteceu na passada quarta-feira em Ancara.
Na origem, esteve uma reunião com o Presidente turco, na qual Von der Leyen ficou sentada num sofá lateral, enquanto Charles Michel e Erdogan ficaram frente a frente, no centro da divisão. A presidente da Comissão Europeia ficou desagradada com o tratamento que lhe foi providenciado, interpretando-o como uma afronta ao seu poder.
Os dois líderes debateram pela primeira vez a polémica na reunião desta segunda-feira, que se desenvolveu de forma “construtiva”. Charles Michel terá argumentado que as normas comunitárias fixam que o presidente do Conselho está numa posição hierárquica superior à Comissão, o que poderá ter motivado o incidente. Ainda assim, Von der Leyen considera que tal não é desculpa para que haja uma diferença no protocolo. “Ambos são presidentes de uma instituição comunitária”, sinaliza uma fonte da Comissão ao El País.
Foi a primeira reação de Von der Leyen ao incidente, tendo-se mantido em silêncio até agora, ao contrário de Charles Michel, que se justificou ao longo da semana a vários meios de comunicação social europeus e chegou mesmo a publicar um esclarecimento na sua conta pessoal do Facebook de forma a “responder às provocações e interpretações” de que a reunião foi alvo. O presidente sublinhou que se tratava de um “importante momento do processo complexo nas relações entre a UE e a Turquia”, mas não ficou “indiferente” à situação, que afirmou estar “longe dos princípios que subscreve”. Ainda assim, decidiu não tomar uma atitude, de modo a não criar um problema diplomático entre Bruxelas e Ancara, focando-se mais na “substância da discussão política”.
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Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, culpou a equipa da União Europeia que terá sugerido “a disposição dos lugares”. Estas declarações surgiram após várias críticas iniciais endereçadas à Turquia, que acusavam o país de ter provocado intencionalmente o incidente e de sexismo. A ministra austríaca Karoline Edtstadler acusou Ancara de “provocação” e relacionou este incidente com a saída do país da Convenção de Istambul, que tem o objetivo de prevenir os maus-tratos às mulheres e de evitar a violência sexista.
Sofagate. Turquia culpa equipa da UE pela disposição dos lugares. Memes satirizam o episódio
Esta terça-feira, os dois líderes reúnem-se com David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu, para voltarem a discutir o incidente.