Quando Joachim Löw anunciou que deixar a seleção alemã logo depois do Euro 2020, no início do passado mês de março, a lista de prováveis sucessores depressa ficou reduzida a três nomes: Jürgen Klopp, treinador do Liverpool; Julian Nagelsmann, treinador do RB Leipzig; e Hansi Flick, treinador do Bayern Munique. Se Klopp e Nagelsmann descartaram desde logo a possibilidade de deixarem os respetivos dos clubes para assumirem a seleção, Flick não recusou por completo a ideia e limitou-se a dizer que ainda tem contrato com os bávaros. Agora, consumada a eliminação da Liga dos Campeões, os rumores adensam-se.
O Bayern Munique venceu o PSG esta terça-feira, em Paris, mas não conseguiu inverter a derrota sofrida há uma semana, em casa — ou seja, foi afastado da Liga dos Campeões nos quartos de final, falhando a defesa do título que conquistou em Lisboa em agosto do ano passado. Assim, e até ao final da época, o Bayern fica reduzido à Bundesliga, onde é líder com mais cinco pontos do que o RB Leipzig, já que também já foi eliminado da Taça da Alemanha. E com este cenário, a ideia de que Hansi Flick vai mesmo sair no fim da temporada e assumir o comando da seleção alemã é cada vez mais provável.
“Este foi o último jogo de Hansi Flick na Champions como treinador do Bayern. É a primeira escolha da DFB [Federação alemã] para suceder a Joachim Löw. Vai aceitar a oferta, no verão”, disse esta terça-feira Lothar Matthäus, de quem Flick foi adjunto no RB Salzburgo, em declarações à Sky Germany. No final do jogo com o PSG, na sala de imprensa do Parque dos Príncipes, o técnico recusou falar sobre o assunto mas voltou a não descartar a hipótese. “Tenho contrato com o Bayern, mas penso sempre no que poderá acontecer ou como as coisas podem continuar. A minha família apoia-me independentemente da decisão, mesmo que seja pela DFB”, disse, deixando desde logo perceber que o convite da Federação existe mesmo.
Além do óbvio desafio profissional, de passar a liderar uma das principais seleções a nível europeu e mundial, a saída do treinador do Bayern Munique está também ligada à difícil relação com Hasan Salihamidžić, o diretor desportivo do clube. A cooperação entre os dois nunca foi perfeita mas tornou-se progressivamente mais problemática ao longo da temporada, atingindo um novo pico nos últimos dias. Na passada sexta-feira, na antecâmara do jogo contra o Union Berlim, Hansi Flick acabou por criticar algumas das decisões tomadas no mercado de transferências, defendendo que a equipa era “mais forte” na época passada, mas recusou comentar quaisquer divergências com Salihamidžić. Na semana anterior, o diferendo tinha sido sobre Boateng: o diretor desportivo já confirmou que não será feita qualquer oferta de renovação ao central, cujo contrato expira do final da temporada, enquanto que o treinador já garantiu que quer continuar a contar com o internacional alemão. “Têm opiniões diferentes, especialmente sobre a equipa, e não acho que isso seja passível de remendar. As posições deles são demasiado distantes”, escreveu Matthäus na coluna que mantém no jornal Bild.
De recordar que Hansi Flick já tem experiência na seleção alemã. O treinador foi adjunto de Joachim Löw de 2006 a 2014 e fez parte da equipa técnica que conquistou o Mundial 2014, para além do segundo lugar no Euro 2008, do terceiro no Mundial 2010 e das meias-finais no Euro 2012. A partir do Mundial do Brasil, conquistado então pela Alemanha, Flick assumiu o cargo de diretor desportivo da Federação, que ocupou até janeiro de 2017. Em julho de 2019, aceitou o convite de Niko Kovac e tornou-se adjunto do Bayern Munique — quatro meses depois, Kovac deixou o clube por mútuo acordo e Flick foi promovido a técnico interino, tornando-se a solução efetiva mais de mês de meio depois.
De lá para cá, de já depois de assinar contrato até 2023 em abril do ano passado, foi o responsável por um dos períodos mais bem sucedidos do Bayern Munique nas últimas duas décadas: conquistou a Bundesliga, a Taça da Alemanha e a Liga dos Campeões, conduzindo o conjunto ao segundo triplete da própria história, e ainda acrescentou a Supertaça Europeia e o Mundial de Clubes já nesta temporada. A título individual, foi considerado o treinador alemão do ano pela revista kicker e também ganhou o prémio de Treinador do Ano da UEFA.