Era uma das peças que ia marcar a rentrée cultural de Santiago, capital chilena, mas um surto de Covid-19 levou a que seis membros da equipa técnica e dois atores ficassem infetados, um dos quais Tomás Vidiella, que acabou por morrer de complicações da doença, tal como o cabeleireiro Araya. O encenador da peça, Álvaro Viguera, garante, em entrevista ao El País, que foram seguidos todos os protocolos de segurança e não se arrepende de ter avançado com a peça de teatro.

Em dezembro, a melhoria da situação epidemiológica no Chile levou à reabertura de restaurantes, centros comerciais e até de salas de espetáculos. Álvaro Viguera achava que era o momento de encenar a grande produção “Orquestra das Senhoritas” do dramaturgo francês Jean Anouilh, no histórico Teatro Oriente, que celebrava 85 anos. O encenador lembra que “havia a possibilidade de voltar”, após um 2020 em que as artes cénicas foram “muito prejudicadas”. “Muitos ficaram sem trabalho”, recorda Álvaro Viguera.

Situada após a Segunda Guerra Mundial em Paris, a peça contava com um elenco de luxo com os atores Luis Gnecco e Tomás Vidiella, bem como o reputado cabeleireiro Araya. Álvaro Viguera não esquece o “entusiasmo” que a equipa sentiu por voltar ao teatro. E o público também demonstrava estar ansioso pela estreia: “Em três dias vendemos toda a temporada”. 

A peça estreou a 26 de fevereiro, tendo havido três sessões, todas esgotadas. A 2 de março, cai um “balde de água fria” sobre a equipa, quando o ator Cristián Campos testa positivo à Covid-19, apesar de o encenador ter garantido que se seguiram “todos os protocolos”. “Ensaiávamos de máscara, sempre com consciência de que havia pessoas idosas na equipa. Havia ainda uma quantidade determinada de público, que era muito pouco: há volta de 70 pessoas numa sala de 700, sendo que o teatro tinha umas luzes especiais para limpar o ambiente. E também medíamos a febre regularmente”, assinala o encenador.

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A equipa foi toda testada e oito membros deram positivo, sendo que as restantes sessões da peça foram imediatamente canceladas. “Tudo funcionou até ao minuto 90. Ou seja, foi como se num jogo de futebol se sofresse um golo no último minuto”, diz Álvaro Viguera. O caso acabou por fazer eco na na imprensa chilena e o encenador recorda que “foram muito afetados pelo sensacionalismo”. No entanto, apesar das críticas, Álvaro Viguera não “sente arrependimento” de ter levado avante a peça de teatro: “Voltava a fazer tudo outra vez”.

O Chile voltou a entrar em confinamento no final de mês de março, devido ao aumento de novos casos e de admissões hospitalares, embora seja um dos países com mais pessoas vacinadas contra a Covid-19.

Chile. Como um dos países com maior taxa de vacinação volta ao confinamento