Alegando ser já seguro o retorno à Síria, a Dinamarca tornou-se no primeiro país europeu a não renovar os pedidos de residência a 189 refugiados.
Desde o verão do ano passado que os refugiados têm assistido ao indeferimento dos seus pedidos de renovação de residência temporária na Dinamarca, uma decisão que tem sido justificada com a perspetiva de que houve uma significativa melhoria em termos de segurança em vários pontos da Síria, sendo expectável o retorno destes deslocados.
Neste momento, está a ser avaliada a situação de cerca de 500 pessoas, originárias de Damasco e áreas envolventes do território sírio, segundo o The Guardian.
O caso ganhou maior destaque desde que, no início do mês, uma jovem de 19 anos, Aya Abu-Daher, de Nyborg, expôs numa televisão nacional o seu quadro familiar, em lágrimas, enquanto questionava o que teria feito de errado para ter de sair do país.
A secretária geral do Conselho Dinamarquês de Refugiados considera estar-se perante um “tratamento indigno” aos refugiados sírios: “Discordamos da decisão que considerou áreas de Damasco e outras como seguras para o regresso dos refugiados. A ausência de violência não significa que as pessoas possam voltar em segurança para lá. Nem as Nações Unidas nem outros países assumem Damasco como um local seguro”, disse Charlotte Slente, citada pelo The Guardian.
O presidente Bashar al Assad, 10 anos depois do escalar da guerra, tem outra vez sob controlo a maioria do território sírio, estando as linhas da frente de combate limitadas ao norte do país. No entanto, um dos principais motivos da revolta da Primavera Árabe contra o regime de Assad mantém-se — a polícia secreta, que, de acordo com a organização não governamental “Human Rights Watch”, deteve, torturou ou fez desaparecer mais de 100 mil pessoas desde 2011.
Como explica o jornal britânico, mesmo as áreas sob a tutela e salvaguarda do regime, encontram-se instáveis. Não houve reforma de infraestruturas — dizimadas pela guerra —, a escassez de serviços básicos como eletricidade ou água é evidente, e o colapso da moeda síria levou à inflação em 230% no preço dos alimentos.