A União Europeia tem de adotar um “olhar abrangente e equilibrado” sobre a Ásia, vincou esta sexta-feira, numa conferência, o ministro dos Negócios Estrangeiros, sublinhando os “enormes desafios” colocados “pela triangulação” Estados Unidos-China-Rússia.

Na sessão de encerramento da conferência “UE-Ásia: desafios e futuro”, uma iniciativa do Fórum Futuro da Fundação Calouste Gulbenkian, Augusto Santos Silva defendeu que “é preciso ter em conta as diferentes dimensões de uma relação” que extravasam a perspetiva mercantil. Por exemplo, referiu, a Índia não pode ser procurada como parceira apenas para medicamentos e vacinas, nem o interesse na China se deve ficar pela exportação automóvel. Porém, “a UE ainda padece de uma certa autolimitação” no que respeita a desenvolver a “dimensão extraeconómica”, reconheceu.

A UE tem-se focado sobretudo na dimensão comercial ou então na cooperação para o desenvolvimento. “Essas duas faces são muito importantes, mas Janus [figura mitológica com duas frentes] não chega, precisamos de um poliedro“, defendeu o ministro.

Augusto Santos Silva considera que a UE deve ter “firmeza” na relação geopolítica com a Ásia e excluir a ideia de uma “deslocação do centro de interesse” para este continente. O ministro deixou um “não rotundo, claro”, à “tentação de replicar o raciocínio do pivô europeu para a Ásia”, contrapondo que “não se deve substituir, mas multiplicar” interlocutores.

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“Não se trata agora de nos deixarmos interessar tanto pela América Latina ou por África ou pela vizinhança próxima para nos interessarmos mais pela Ásia”, frisou. O ministro recusa ainda a ideia de “um século asiático ou do Pacífico”.

Realçando que “uma relação de tensão não tem de ser necessariamente de confrontação”, o chefe da diplomacia portuguesa considera que a UE “tem progredido” em termos de política externa comum e “política externa própria, que não seja apenas decalcada de outros Estados ou entidades”.

Agora, a UE tem de adotar “um olhar novo, mais próximo” sobre a Ásia, sempre acompanhando o aliado Estados Unidos, mas que seja “um olhar abrangente e equilibrado”.

É neste contexto, explicou, que Portugal, na presidência do Conselho da UE até final de junho, colocou nas prioridades uma cimeira com a Índia, para que as negociações económicas entre os dois blocos, na prática suspensas há oito anos, sejam retomadas. “É um evento fundamental para o equilíbrio geopolítico na nossa relação com a Ásia”, vincou. Para além da Índia, a UE deve “dar mais atenção à ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), acrescentou.

Antecipando a cimeira Portugal-Índia e a reunião de líderes UE-Índia, agendadas para 8 de maio, no Porto, no quadro da presidência portuguesa do Conselho da UE, a conferência que hoje juntou, ‘online’, vários especialistas, pretendeu “contribuir para o processo de análise e formulação da política externa da União Europeia nas suas relações com a Ásia em geral — e com a Índia em particular”.