A imagem, usada para simplificar o que foi conversado, é a da linha de produção de um refrigerante. “Imagino isto como uma receita: dizem–nos qual é a receita e enviam a vacina pré-cozinhada. É como a fórmula da Coca-Cola, por aquilo que entendo: há uma fórmula para o mundo inteiro que é igual.”

Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais explica, em entrevista ao semanário Sol, aquilo que durante a semana escreveu num artigo de opinião. Portugal pode entrar na linha de produção de vacinas contra a Covid-19. No imediato, diz, poderiam ser produzidas 400 milhões de doses de vacinas Sputnik V numa fábrica de Sintra. No entanto, e tal como o Observador escreveu, o autarca do PSD reconhece que não há atualmente capacidade para produzir a vacina em Portugal, do princípio ao fim e que o preparado inicial teria sempre de vir do estrangeiro.

A fábrica disponível para entrar na linha de produção da vacina é a Hikma, de capital jordano, e Carlos Carreiras detalha que nunca chegou “a esse pormenor em conversa com eles”, sobre qual seria exatamente o seu papel na produção de montagem.

“Tanto quanto percebi, há um concentrado que não consegue fazer, mas consegue ter as condições fabris para a fase de pré-enchimento e enchimento dos frasquinhos. Tem de vir um concentrado, com um pré-produto final, que leva um tratamento”, explica Carlos Carreiras ao semanário.

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Quanto ao negócio com a Rússia, não está fechado. “Há um princípio de acordo”, esclarece o autarca. “Eles estão na disposição de nos disponibilizar quer através da compra quer da patente. Acho que não se chama vender, mas sim ceder a patente” e, acrescenta ainda, o país produtor da Sputnik V tem interesse em conhecer a Hikma.

Só com uma fábrica nova a vacina Sputnik poderá ser fabricada em Portugal do princípio ao fim 

“Já identificámos a fábrica, a Hikma, em Terrugem, Sintra, que poderá produzir vacinas de imediato, 400 milhões de doses por ano. A Câmara de Cascais não faz negócios de vacinas, encontra os vários players. Foi-me dito que isto não prejudica em nada os compromissos normais que esta fábrica tem”, acrescenta Carlos Carreiras.

Quanto à cedência e pagamento da patente, que implicará custos elevados, lembra que isso é uma negociação que cabe ao Executivo de António Costa. “Esse processo envolverá o Governo, o local onde os frascos serão cheios com a vacina e o detentor da própria patente”.

Sobre o mal-estar que o seu anúncio da vacina causou entre os membros do Governo, uma vez que nem o Ministério da Saúde nem os organismos na sua dependência foram envolvidos na negociação, Carlos Carreiras defende que esse papel de avisar os interessados não lhe cabia a si. “Vamos lá ver: eu nunca falei com o Ministério [da Saúde], mas sim com o gabinete do senhor primeiro-ministro e não sou eu que tenho de dizer ‘Não se esqueça de falar com o ministro A, B ou C’.”

O que falta então, na opinião do autarca, para que Portugal possa entrar na produção da Sputnik, depois de o medicamento ser aprovado pela Agência Europeia do Medicamento? “Só o Infarmed pode fazer essa aquisição. É preciso envolver as autoridades em todo o processo e terá de ser estabelecida uma negociação entre o Governo, o laboratório Hikma, que vai produzir as vacinas, e a autoridade com a qual se estiver a negociar.”

Carlos Carreiras anuncia vacina portuguesa e causa mal-estar dentro do Governo

A partir daqui, Cascais sai de cena, até porque Carreiras volta a frisar que não há contratos assinados, há um princípio de acordo, rejeitando a ideia de que o Governo iria renegociar um contrato firmado de antemão com a autarquia. “Renegociar não, porque não houve negociação. Não há nenhum contrato assinado porque não o poderia fazer, estaria a violar as leis portuguesas”, explica. “A Câmara de Cascais, nesta matéria, foi um elemento facilitador.”