A dispensa de medicamentos para o tratamento tabagismo contendo nicotina de venda livre aumentou 0,8% em 2020 face ao ano anterior, enquanto o fármaco de vareniclina sujeito a receita médica e comparticipado sofreu uma quebra de 29%.

Os dados constam de uma análise feita pela Autoridade Nacional do Medicamento, sobre o uso destes medicamentos antitabágicos entre 2016 e 2020 publicada no boletim Infarmed Notícias, disponível esta terça-feira no site.

“O ano de 2020 foi marcado pela pandemia de Covid-19 e pelo período de confinamento mais acentuado entre março e maio”, sendo que durante este ano, a dispensa de medicamentos com nicotina aumentou 0,8% face ao ano de 2019, indica o estudo.

Contrariamente, adianta, “verificou-se uma diminuição do número de embalagens dispensadas de vareniclina de 29% face a 2019, um decréscimo que ocorreu nos meses de abril e maio, período coincidente com o confinamento, no qual se observou também uma diminuição generalizada da procura por cuidados médicos, incluindo consultas médicas”.

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Estes medicamentos contêm uma das duas substâncias ativas: nicotina, que existe em medicamentos não sujeitos a receita médica, de preço livre, e vareniclina, que existe num medicamento sujeito a receita médica e com um preço máximo definido.

“A comparticipação da vareniclina em janeiro de 2017, como medida de promoção da cessação tabágica, levou a um aumento da sua utilização, embora a nicotina permaneça como a substância mais utilizada”, um facto que pode ser explicado por serem de venda livre e o seu acesso por parte dos utentes mais fácil, refere o estudo.

Segundo a análise, a nicotina apresenta um aumento de embalagens dispensadas de ano para ano, não se verificando o mesmo com a vareniclina.

Após a sua comparticipação, em 2017, apenas se verificou um aumento de embalagens dispensadas em 2018. Nos últimos dois anos observou-se um decréscimo na procura deste medicamento, com uma redução de 29% em 2020 face a 2019″, sublinha.

Desagregando os dados por mês, observa-se que a dispensa de medicamentos antitabágicos em farmácia comunitária apresenta picos coincidentes com o início de cada ano.

“Sabendo que um dos fatores para a procura destes medicamentos é a motivação pessoal para deixar de fumar, atribui-se esta sazonalidade aos objetivos individuais definidos para o ano novo (resoluções de Ano Novo)”, sublinha o estudo.

O consumo de tabaco é um dos problemas mais graves de saúde pública à escala mundial. Constitui a principal causa evitável de doenças crónicas não transmissíveis e de mortalidade prematura na União Europeia, sendo responsável por cerca de 700 mil mortes por ano.

Estima-se que, em 2017, tenham ocorrido mais de 13 mil óbitos por doenças atribuíveis ao tabaco em Portugal: 28,1% dos óbitos por doença respiratória crónica, 19,6% por cancro, 8,7% por doenças cérebro-cardiovasculares e 9,8% dos óbitos por diabetes mellitus tipo 2.

Relativamente à prevalência do consumo de tabaco em Portugal, o estudo refere que, embora permaneça superior nos homens, existem cada vez mais mulheres a fumar (24,8% em 2016/2017 face a 17,6% em 2001).

O consumo distribui-se de modo desigual entre sexos e grupos etários, variando nos homens entre 45,6% (dos 25 aos 34 anos) e 10,8% (dos 65 aos 74 anos), e nas mulheres entre 25,1% (dos 25 aos 34 anos) e 2,5% (dos 65 aos 74 anos).