O sucesso das audiências ditou o interesse em bruto e a figura de Arsène Lupin voltou a ocupar montras de livrarias. Criada há mais de um século, voltou a despertar interesse através de uma adaptação televisiva a que Omar Sy deu corpo. Aqui, o ator interpreta Assane Diop, leitor e discípulo do herói de Leblanc. Mais do que procurar formas inventivas, originais e funcionais de fazer um assalto no Museu do Louvre, Diop segue um código de honra que lhe permita repor a justiça. A produção coetânea, com uma personagem coetânea, deixa a figura cavalheiresca da cartola e do monóculo e dá-nos um Omar Sy que é 88 quilos de músculo. Partindo dessa coetaneidade, a produção não caiu no erro de imitar Arsène Lupin, optando pela ação ao jeito de homenagem e inspiração.

Aqui, Assane é um imigrante senegalês cujo pai é incriminado pelo roubo de um colar valioso. Antes de ser preso, ainda deixa ao filho um livro de Leblanc, a partir do qual o miúdo, que vira homem, elabora o plano de vingança para com os patrões milionários que acusaram e instrumentalizaram um homem inocente para cavalgarem no lucro sem consequências. Imbuído da vontade de chegar à verdade, Assane deixa-nos entender que, afinal, a vingança é só o caminho para a justiça. E esse traço de crime como meio de a repor, e que passa por não ceder à ingenuidade de julgar haver outro caminho, já vai beber ao estilo de Lupin. Assim, o crime legal tem uma amnistia imoral que transforma o anti-herói em herói – claro que é fácil mandar a lei às urtigas e querer que tudo lhe corra de feição. Omar Sy atinge então a dimensão do charme necessária à incorporação de um Arsène Lupin: é cavalheiro porque é educado, é manipulador porque é virtuoso, é sedutor porque sabe instrumentalizar a simpatia, ou até simular um flirt quando é necessário.

[o trailer da série “Lupin”, disponível na Netflix:]

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