O Presidente russo, Vladimir Putin, avisou esta quarta-feira o Ocidente sobre as consequências de qualquer provocação que possa contrariar os interesses da Rússia, afirmando que, perante tal cenário, a resposta será “assimétrica, rápida e dura“.

Irão arrepender-se como há muito tempo não acontece“, declarou Putin no seu discurso anual sobre o Estado da Nação, num momento de crescentes tensões entre Moscovo e o Ocidente em vários dossiês. Na intervenção, o chefe de Estado russo pediu às potências ocidentais para não cruzarem uma “linha vermelha” com a Rússia.

Comportamo-nos em geral com moderação e de uma forma modesta, muitas vezes não respondendo nem mesmo a ações pouco amistosas ou mesmo de uma grosseria flagrante”, afirmou Putin, advertindo, porém, que “as boas intenções” do Kremlin (Presidência russa) não podem ser confundidas com “fraqueza”. “Que ninguém tenha a ideia de cruzar uma linha vermelha com a Rússia“, reforçou.

Sem especificar quais poderão ser os limites traçados por Moscovo, Vladimir Putin frisou que os atos hostis prosseguem, acrescentando que para certos países “culpar a Rússia por tudo e por nada tornou-se uma espécie de desporto“.

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Apesar destas considerações, Putin não fez durante a intervenção qualquer referência específica aos grandes diferendos que Moscovo mantém atualmente em particular com os Estados Unidos da América (EUA) e com a União Europeia (UE).

Vladimir Putin não disse, de forma explícita, uma única palavra sobre o destacamento de dezenas de milhares de tropas russas nas fronteiras da Ucrânia, sobre as acusações de espionagem e de ingerência eleitoral nos EUA ou sobre o recente escândalo envolvendo alegados agentes do serviço de inteligência militar russo (GRU) na República Checa e a recíproca expulsão de diplomatas. Também a situação do líder da oposição russa Alexei Navalny, detido e em perigo de vida segundo fontes próximas do opositor, ficou por referir.

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Tratamento contrário teve a situação na Bielorrússia, com o Presidente russo a denunciar o silêncio do Ocidente em relação ao que classificou como uma “tentativa de golpe de Estado” naquele país, poucos dias depois do Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, ter anunciado que uma tentativa de assassínio contra si e a sua família tinha sido impedida.

Em declarações feitas no sábado, Lukashenko afirmou que a tentativa “de golpe de Estado” e de “assassínio” tinha sido planeada pelos EUA.

No Ocidente “todos fingem que não está a acontecer nada“, disse Putin, um reconhecido aliado do Presidente bielorrusso, no poder desde 1994, que desde as eleições de agosto passado enfrenta uma vaga de protestos sem precedentes no país, contestação essa que tem sido reprimida com violência pelas forças de segurança bielorrussas.

A oposição bielorrussa denuncia a eleição (que atribuiu a Lukashenko um sexto mandato) como fraudulenta e reivindica a vitória nas presidenciais. A UE não reconhece os resultados das eleições bielorrussas de agosto e o Conselho Europeu decidiu prorrogar até fevereiro de 2022 as sanções aplicadas aos apoiantes do regime de Lukashenko.

“O que teria acontecido se a tentativa de golpe tivesse sido realmente concretizada? Quantas pessoas teriam sofrido?”, prosseguiu Putin, lamentando ainda a “prática de sanções ilegais por motivos políticos“.