As enxurradas provocadas pelas chuvas torrenciais de segunda-feira em Luanda representam problemas “graves” para a saúde pública, devido ao lixo e à contaminação das águas, alertou esta quinta-feira uma responsável da associação Kalu, que pediu melhor governação para a cidade.

Em declarações à Lusa, Cristina Pinto, representante da Kalu (Associação dos naturais, residentes e amigos de Luanda) lembrou que a capital angolana, que fez 445 anos em janeiro, cresceu com uma série de problemas de construção e de saneamento básico, bem como abastecimento de água e eletricidade, e outras infraestruturas para que não foi projetada com tantos habitantes.

Estamos agora entre oito e 10 milhões [de habitantes] e em 1975 tinha menos de um milhão“, afirmou Cristina Pinto, salientando que muitos angolanos fugiram do campo para a cidade em busca de melhores condições de vida, proteção e segurança levando a um crescimento anárquico nos bairros periféricos.

Pelo menos 24 pessoas morreram, três ficaram feridas e quase 12 mil ficaram desalojadas em consequência da chuva que deixou um rasto de destruição na capital angolana, deitando casas e pontes abaixo, e arrastando nas enxurradas toneladas de lixo que podem agravar as doenças endémicas, como a malária.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

 Imagine a quantidade de lixo que está a correr para o mar, imagine a contaminação das águas das redes, há todo um problema de saúde publica que é grave”, disse a ex-vice-presidente da Kalu, apontando o previsível aumento de doenças como a malária, a cólera, a febre tifoide e infeções urinárias.

“Há problemas de abastecimento de água nos hospitais, nas escolas, nas nossas casas onde usamos motobombas e tanques de água para suportar os problemas que se vão acumulando e aumentando”, notou Cristina Pinto. As prioridades, sublinhou, devem ser a recolha das águas paradas e as questões humanas.

Há muita gente sem casa neste momento, muita gente que tem filhos, crianças, muita gente com problemas de saúde como a malária a aumentar”, notou, apelando a que se repense a gestão da cidade com maior envolvimento da cidade civil na discussão das soluções.

Para Cristina Pinto, o acumular de lixo é uma consequência da má governação de Joana Lina, nomeada em maio de 2020, depois de dirigir o Huambo durante pouco mais de um ano e meio.

“Como é que termina em plena época festiva, como o Natal, quando há muito mais lixo do que o normal, os contratos com as empresas de lixo e ficamos este tempo todo à espera de que as coisas aconteçam? Há uma série de engrenagens a nível administrativo e de governação que deveriam ser bem pensadas e ponderadas”, destacou.

O Governo Provincial de Luanda suspendeu em dezembro os contratos com as empresas de recolha de resíduos, inundando a cidade de lixo ao longo dos últimos meses, situação ainda não resolvida, apesar de terem sido escolhidas sete empresas para assegurar a limpeza.

“Claro que temos de encontrar um culpado e, neste momento, quem está a governar é que tem a responsabilidade da má gestão e da má governação“, apontou a representante da Kalu, lamentando que quando os governantes são escolhidos não se saiba qual o seu currículo e capacidade para administrar uma cidade com oito milhões de habitantes.

“Neste momento quem tem a grande responsabilidade é o partido que está no poder, é o MPLA, tem de haver uma coisa bem estruturada para se saber quem vai administrar uma cidade com estes problemas todos”, reforçou.

Cristina Pinto admitiu que os problemas “existem há muito” em Luanda, mas quando há muitas horas de chuva intensa bloqueiam completamente a cidade. “As imagens que vimos nas redes sociais eram assustadoras”, acrescentou.