O ministro dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique disse esta quinta-feira que a petrolífera Total mantém “os contratos principais” do projeto de gás natural em Cabo Delgado, estando apenas a ser cancelados contratos com “empresas subcontratadas”.

Há várias empresas subcontratadas que estão a ser desmobilizadas, são, sobretudo, contratos de fácil remobilização, quando se decidir pela retoma [do projeto]”, afirmou Max Tonela.

O governante falava após o segundo e último dia da sessão de perguntas ao Governo na Assembleia da República. Os contratos principais com a multinacional francesa Total serão mantidos, acrescentou.

O ministro justificou o cancelamento dos contratos entre a Total e os fornecedores com a necessidade de reduzir custos resultantes da paralisação das obras de construção do empreendimento, devido ao recente ataque armado à vila de Palma, a quase seis quilómetros da área do projeto de exploração de gás natural liderado pela Total em Cabo Delgado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O momento de paragem [do empreendimento] acarreta custos elevados para o projeto“, afirmou.

Sobre a retoma das atividades da Total, enfatizou que vai depender do reestabelecimento da segurança. O ministro dos Recursos Minerais e Energia disse aos deputados que tudo está a ser feito para a restauração da segurança na área dos projetos de gás natural, avançando que as obras da Total estão “suspensas” e “não abandonadas“.

“Sobre o projeto da Total em Afungi, podemos garantir que o Governo está a trabalhar para a restauração da segurança nas zonas afetadas pelos ataques terroristas em Cabo Delgado“, declarou Max Tonela.

A agência de informação financeira Bloomberg noticiou que a petrolífera francesa Total está a cancelar contratos com empreiteiros e fornecedores locais do projeto de gás natural no norte de Moçambique, deixando as empresas em dificuldades e indiciando que o projeto pode parar durante meses.

Citando documentos trocados entre a petrolífera francesa e alguns fornecedores locais, a agência referiu que a Total está a cancelar os contratos com fornecedores locais como Júlio Sethi, um empresário nascido em Palma que investiu na compra de terrenos, uma pedreira e transporte em Pemba, a capital da província de Cabo Delgado.

É um desastre total, não sabemos o que vai acontecer a seguir“, disse o empresário, considerando pouco provável que a petrolífera francesa retome os trabalhos este ano, devido à insegurança que se vive na região, afetada por ataques desde 2017, o último dos quais em março, aumentando a crise humanitária na região.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo jihadista Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.

O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.