O presidente da Câmara de Viana do Castelo informou que, em colaboração com a Junta de Freguesia de São Romão de Neiva, vai reunir-se com os herdeiros do mosteiro milenar que ameaça ruir, para estudar a sua preservação.

“A Câmara Municipal de Viana do Castelo e a Junta de Freguesia de Neiva, sensibilizados com a vontade dos proprietários em evitar a ruína deste espaço, vão promover uma reunião com os proprietários durante a próxima semana para avaliar a situação e preparar um eventual projeto de consolidação e valorização do mosteiro”, afirmou à agência Lusa o socialista José Maria Costa.

Em causa está um mosteiro beneditino em São Romão de Neiva, na margem esquerda do rio Lima, em “avançado estado de degradação” que “guarda” vestígios históricos que atiram a sua origem para 1087, antes da fundação de Portugal.

O mosteiro tem cerca de 1.190 metros quadrados (m2) de área coberta, 40% dos quais em ruína, e cerca de 6.000 m2 de terreno.

Segundo o autarca, “a Câmara e a Junta de Freguesia têm estabelecido, há vários anos, contactos para encontrar uma plataforma de entendimento com os proprietários e familiares para preservar o espaço através da disponibilização dos serviços técnicos existentes nas autarquias para apoiar um projeto de recuperação”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Contactado esta quinta-feira pela agência Lusa, o presidente da Junta de Freguesia, Manuel Salgueiro, adiantou que a reunião com os herdeiros do mosteiro beneditino está marcada para a próxima terça-feira, às 16:00, na Câmara de Viana do Castelo.

“Já contactámos alguns dos herdeiros para se resolver o problema e tentar salvar um património muito valioso”, referiu o autarca.

Manuel Salgueiro adiantou que “o estado de degradação a que o imóvel chegou tem sido uma preocupação da autarquia e da junta de freguesia”.

“Havendo disponibilidade financeira, o ideal seria a aquisição do mosteiro e submeter uma candidatura a fundos comunitários para garantir a sua requalificação, porque aquele mosteiro é uma obra de arte”.

Manuel Salgueiro disse desconhecer “o montante que os herdeiros pedem pelo mosteiro, assunto que será debatido na reunião marcada para a próxima semana”.

O encontro foi agendado na sequência do apelo dos herdeiros que ainda residem na ala norte do mosteiro para que os ajudem a salvar um “diamante em bruto”.

“Esta casa acompanhou o nosso país. Quem vê por fora não se apercebe do diamante em bruto e dos segredos históricos que ainda pode vir a revelar”, afirmou à Lusa Charles Bertrand, nome francês, país de onde é natural e onde viveu até 1987, ano em que a mãe decidiu regressar a Viana do Castelo para cuidar dos pais.

Charles e a mãe são os únicos residentes da ala norte do mosteiro beneditino, “um dos primeiros”, diz, que a ordem religiosa terá construído em Portugal”.

Em vias de ser classificado como imóvel de interesse público pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) desde 1980, encontra-se “em avançado estado de degradação”, ao lado da igreja e do cemitério de São Romão do Neiva.

O mosteiro foi comprado pelo bisavô, Manuel Gomes da Costa Castanho, em 1916 ou 1917, e herdado por oito dos seus 12 filhos.

Castanho emigrou “pobre” de Vila Nova de Anha e regressou “rico” do Brasil. Comprou, “em leilão, por 33 contos [cerca de 165 euros]”, uma verdadeira fortuna na altura, o ‘pack’ completo que incluía o mosteiro, a igreja, hoje administrada pela diocese de Viana do Castelo, e o cemitério, entretanto entregue à Junta de Freguesia.