Tem 38 anos. Este ano leva 35 jogos. Desses 35, cumpriu os 90 minutos em 30. Num dos outros jogou 120 minutos, no épico prolongamento do FC Porto contra a Juventus. Só este mês leva seis jogos completos em pouco mais de 20 dias — ou seja, em três semanas. Pelo patrão Pepe não passa nem a veterania nem o cansaço. Esta quinta-feira, no Estádio do Dragão, o defesa-central azul e branco nem teve especial trabalho mas a sua serenidade foi mais importante do que parecerá à primeira vista.

A Estupiñan, avançado colombiano de 24 anos que apareceu subitamente na equipa principal do Vitória de Guimarães a meio da época — fora das opções, levava até dezembro apenas um jogo e um golo pela equipa B mas soma desde aí 18 jogos e 10 golos pelo primeiro conjunto —, o esteio da defesa portista não permitiu veleidades. Pepe viu Mbemba ser driblado logo no arranque pelo extremo vimaranense Marcus Edwards mas nunca abanou.

Os seus dados estatísticos nesta partida que permitiu ao FC Porto ficar a apenas quatro pontos da liderança do campeonato, revelados pelo agregador GoalPoint — que o elegeu como o melhor em campo na partida do Dragão —, não deixam margem para dúvidas.

Em processo atacante Pepe teve uma eficácia de passe de 93%, o que significa que acertou 93% dos passes que fez. Dos onze passes longos e de desequilíbrio que tentou, acertou sete. E ainda conseguiu dois passes para finalização e criou uma ocasião flagrante de golo, quando serviu Taremi e isolou o iraniano — que não conseguiu bater Bruno Varela naquela que foi a jogada mais perigosa dos dragões na primeira parte.

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A defender a segurança não foi menor, antes pelo contrário. Pepe recuperou a bola por 14 vezes e conseguiu quatro cortes. O bloco baixo do Vitória de Guimarães, que durante boa parte do jogo se remeteu à defesa para esporadicamente espreitar o contra-ataque, obrigou o central português a atuar mais adiantado no terreno, com muitos metros nas costas e a ter de recuar rapidamente quando a equipa perdia a posse da bola. Mas Pepe nunca tremeu e comandou a defesa portista do início ao fim.

Com seis jogos decisivos nesta ponta final de época à porta, Sérgio Conceição sabe que tem no experiente central um porto seguro. Pepe pode ter ao seu lado Mbemba, pode jogar com Diogo Leite à sua esquerda — o indiscutível é ele. É ele que lidera a equipa a partir de trás, que contagia os colegas com a experiência e a mentalidade vencedora que já exibira no FC Porto antes de rumar a Espanha para jogar dez temporadas no Real Madrid, passar pela Turquia e pelo Besiktas e regressar à casa onde se fez jogador.

Nos últimos anos os adeptos portugueses de futebol têm-se dedicado a tentar imaginar centrais minimamente jovens que possam vir a assegurar uma renovação no eixo defensivo da Seleção Nacional. Rúben Semedo chegou a ser promessa no Sporting, Ferro chegou a ser promessa no Benfica. Pedro Mendes tentou fazer pela vida em França, Tiago Djaló faz agora o mesmo e Domingos Duarte tenta fazer pela vida em Espanha. Os “Diogos” dos sub-21 — Queirós e Leite — vão sonhando com um lugar ao sol no futuro e Gonçalo Inácio e Eduardo Quaresma, do Sporting, também são promessas com muito futebol pela frente. Mas é por Pepe, aos 38 anos, que ainda passa o presente e o sucesso da Seleção Nacional, agora com um parceiro em boa forma como Rúben Dias (Manchester City) ao lado e com um título Europeu pela frente que a equipa das quinas tentará defender.

FC Porto v Vitoria Guimaraes SC - Liga NOS

Pepe fotografado esta quinta-feira, no jogo do FC Porto com o Vitória de Guimarães (@ Jose Manuel Alvarez/Quality Sport Images/Getty Images)

É no colega Otávio que se fala nos últimos dias para, naturalizado, poder ajudar a Seleção Nacional. Mas é Pepe, ainda e sempre, a alma do futebol do Futebol Clube do Porto e a experiência da equipa de Portugal. Quando renovou com os dragões até 2023, altura em que terá já 40 anos, houve quem franzisse o sobrolho, quem se perguntasse “não será demasiado tempo?”. Ou “e os miúdos?”. Tudo precipitações: só no bilhete de identidade é que Pepe pode ser chamado de veterano. Em campo, como se dizia em tempo de um outro ídolo dos dragões, o avançado Gomes, é ele e mais dez.