O número de novos casos de infeção com o coronavírus e mortes associadas que vão surgir nas próximas semanas depende sempre de vários fatores e nem todos podem ser incluídos nos modelos matemáticos, o que faz com que uns se venham a confirmar e outros estejam muito longe do que se verificou na realidade. Para compensar essa incerteza, o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo da Doença (ECDC) criou uma plataforma onde os vários modelos são conjugados de forma a traçar um cenário mais próximo da realidade.

O objetivo é criar a melhor previsão possível”, disse Sebastian Funk, professor de Dinâmica da Doença Infecciosa no Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres — parceira do projeto.

“Durante esta pandemia, muitas previsões foram produzidas, algumas muito precisas, outras nem tanto. Os cientistas e seus modelos precisam permanecer ágeis e flexíveis, especialmente devido à crescente complexidade da pandemia, incluindo mudanças no comportamento, fadiga pandémica, distribuição de vacinas e emergência de novas variantes”, lê-se no comunicado de imprensa do ECDC. “Alguns modelos consideram esses fatores em evolução menos do que outros, levando a previsões potencialmente enviesadas.”

Assim, a solução do centro europeu foi agrupar as várias previsões num conjunto delas para reduzir o enviesamento inerente aos diferentes modelos, “fornecendo previsões mais precisas e confiáveis do que um único modelo”.

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A agregação semanal de todas as nossas previsões num modelo conjunto, que supera consistentemente cada uma delas, é o exemplo perfeito de cooperação científica para o bem social”, disse José L. Aznarte, professor de Inteligência Artificial na Universidade Nacional de Educação à Distância de Madrid.

Para Portugal, o conjunto das previsões feito a 19 de abril aponta para 3.509 novos casos na semana que termina a 24 abril (num intervalo que podia ir de 2.083 a 5.416 novos casos). De facto, nos últimos sete dias (de 17 a 23 de abril) foi registado um total de 3.486 novos casos de infeção. Quando considerados os outros modelos, a pior previsão para Portugal apontava para 7.077 novos casos nessa semana.

Em relação ao número de mortes, que o ECDC assume ser mais fácil de prever, as estimativas apontavam 39 mortes no total de uma semana, até dia 24 de abril (com uma variação estimada de 16 a 81). Os números portugueses estão mais próximos da previsão mínima, com 20 mortes registadas entre 17 e 23 de abril. No pior dos cenários, Portugal teria nessa semana 55 mortes (num intervalo que pode ir de zero a 122).

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O ECDC reconhece, no entanto, a dificuldade e limitações de fazer previsões em tempo real no contexto de epidemias, sobretudo no caso da pandemia de Covid-19 em que as mudanças no ritmo de testagem, por exemplo, podem introduzir variações difíceis de prever e modelar. Ainda assim, o centro espera que os modelos possam ser usados para planear ações no futuro, mas de curto prazo. Apesar de fornecerem previsões de quatro semanas, o nível de precisão dos modelos diminui ao longo do tempo.

O projeto, criado pelo ECDC, conta com a participação do Centro de Modelação Matemática de Doenças Infecciosas (CMMID) da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, da Universidade de Massachusetts-Amherst (Estados Unidos), do Instituto de Tecnologia Karlsruhe e do Instituto Robert-Koch, ambos na Alemanha.