A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) reafirmou este sábado a solidariedade institucional ao antigo primeiro-ministro português José Sócrates, cujo processo comparou com o que envolve Lula da Silva, alvos de ‘guerra jurídica’ movida pelas autoridades judiciais.

“Nós sempre manifestamos a nossa solidariedade ao ex-[primeiro-]ministro Sócrates, nós vemos sim que há muita similaridade entre os dois casos” que envolvem o governante português e o ex-Presidente brasileiro Lula da Silva, afirmou Gleisi Hoffmann numa entrevista à agência.

Deputada federal na câmara baixa do Congresso brasileiro e presidente do PT, maior partido de oposição ao Governo de Jair Bolsonaro, Hoffmann considerou que os dois políticos foram alvo de ‘lawfare’ (termo em inglês designado para explicar o uso do direito como uma arma de guerra para destruir adversários políticos).

“Aliás, vi que ele [José Sócrates] foi agora, recentemente, que teve seus processos arquivados também, mostrando que [os acusadores] não tinham provas, que o que diziam contra ele não estava baseado nas provas nem em factos (…) Somos solidários e acho que tem muita relação [com o caso de Lula da Silva]”, afirmou, comentando a decisão do despacho de instrução.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ao ser confrontada com a decisão do juiz de instrução criminal Ivo Rosa, que decidiu pronunciar Sócrates e o empresário Carlos Santos Silva, por crimes económicos e financeiros, mas deixou cair as acusações de corrupção e fraude fiscal, a líder do PT disse acreditar que o antigo primeiro-ministro português não teve seus direitos respeitados durante as investigações da Operação Marques.

“Acredito que ele [José Sócrates] não teve o amplo direito de defesa e também foi uma operação ‘mediática’, por isto nós somos solidários a ele, pelo ‘lawfare’ da Operação Marques”, declarou.

“O que ele [José Sócrates] precisa, se tiver de julgá-lo, é de um processo baseado no devido processo legal, de justiça, das garantias da lei. Não pode haver julgamento político via judiciário”, resumiu Hoffmann.

A avaliação da presidente do PT segue a linha de argumentação de Sócrates e as teses do seu livro sobre o processo em que o antigo líder do PS traça um paralelismo entre a sua situação judicial e a do antigo Presidente do Brasil Lula da Silva, o que é assumido logo no prefácio, assinado por Dilma Rousseff, que sucedeu a Lula na chefia do estado brasileiro e foi depois afastada por um processo de destituição (‘impeachment’).

Na entrevista, a líder do maior partido de esquerda do Brasil também abordou as relações do seu país com Portugal.

“Portugal sempre foi muito importante nas nossas relações [externas] e sempre cuidamos muito de manter estas boas relações não só institucionais, de governo, mas também com o povo português, com as organizações representativas da população, com os partidos de esquerda, os partidos progressistas”, frisou.

Hoffmann lembrou que em relação a África, citando as medidas que foram tomadas no Governo do ex-presidente Lula da Silva, os avanços e as ações que o país sul-americano tomou também passaram pela relação com Portugal.

“Acho que é muito importante e sinto que, atualmente, neste Governo, Portugal não tem o devido respeito e nem consideração de relações que merece e que nós precisaríamos ter”, afirmou a líder do PT.

No seu entender, “o Presidente da República [Jair Bolsonaro] tem uma política dirigida preferencialmente para fazer relação com os norte-americanos e não articula, não conversa com os demais países”.