As mortes com Covid-19 que aconteceram nos lares são “uma tragédia mal contada – uma tragédia com foros de escândalo”, defende Rui Moreira, presidente da câmara do Porto, em entrevista ao semanário Nascer do Sol. Essa é uma história, diz Rui Moreira, “que um dia será contada”, mas na opinião do autarca houve uma estratégia errada por parte das autoridades de saúde. Se tivesse sido adotada a mesma abordagem que teve o Porto, “muitas mortes podiam ter sido evitadas”, diz.

Foi sobre esse tema que surgiu a primeira “discordância” que Rui Moreira teve com a Direção-Geral de Saúde, recorda o autarca. No Porto, diz, “a estratégia que montámos na altura foi mais vasta, não trouxemos só ventiladores. Também vieram da China testes. Testes esses que depositámos no Hospital de S. João – e a nossa estratégia foi cobrir muito rapidamente todos os lares da cidade”.

Foram cobertos “os lares formais e os informais, no sentido de testar toda aquela população porque sabíamos que eram as mais frágeis”. E, acrescenta o autarca, “a nossa estratégia era a da separação dessas pessoas imediatamente – e, nessa altura, houve uma grande resistência da Direção-Geral de Saúde” mas “acabou por ser implementada lentamente no país”.

Acho que a Direção-Geral de Saúde esteve mal. Por isso é que montámos em conjunto com a Ordem dos Médicos e também com o Hospital de Stº António, o pavilhão Rosa Mota para rapidamente separar as pessoas. E tivemos até há pouco tempo a Pousada da Juventude que o Governo nos cedeu mas foi operada por nós. Também para separar as pessoas. Teria sido muito importante que essas pessoas tivessem sido todas separadas. Porque deixar pessoas que ainda não estão contaminadas em contacto com pessoas que estão contaminadas e muitas vezes com pessoal que já está contaminado, levou a que provavelmente a taxa de contaminação tenha sido maior do que poderia ter sido se tivesse seguido o critério que defendemos e que implementámos, dentro das nossas possibilidades”, diz Rui Moreira.

Olhando para trás, Rui Moreira diz que Portugal deveria ter “seguido um modelo de testagem mais intenso do que aquilo que foi seguido”. “Recordo que o Porto foi a primeira cidade a fazer um drive-in, no Queimódromo. E isso teve um grande impacto. Testar, testar e testar era muito importante. E durante muito tempo a testagem foi muito lenta”, afirma o responsável, que ainda não oficializou a recandidatura à autarquia.

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Ó Rui, vocês vão fazer uma cerca sanitária no Porto’. Nós? Não, não sei de nada”.

Mais tarde, Rui Moreira recorda outra divergência com a Direção Geral de Saúde, que foi bem pública. “Foi quando a senhora diretora, baseando-se em números errados, estava a pensar fazer uma cerca sanitária no Porto. Compreende que o presidente da Câmara, não quer dizer que seja contra, deve ser informado”.

Rui Moreira recorda que foi à hora do almoço que Graça Freitas fez a conferência e tinha ido com a mulher ao supermercado. “De repente comecei a ver muita gente a chegar ao supermercado. E não percebi. Achei que aquilo era um afluxo anormal. Mas lá paguei a minha conta, fui para casa. E liga-me um conselheiro de Estado, António Lobo Xavier, a dizer mais ou menos isto: ‘Ó Rui, vocês vão fazer uma cerca sanitária no Porto’. Nós? Não, não sei de nada”.

“Eu não sabia o que se tinha passado”, diz Rui Moreira, ao Nascer do Sol, e por isso reagiu dizendo “à senhora diretora-geral de Saúde que se algum dia pensar fazer uma cerca sanitária – como foi feita em Ovar e muito bem a meu ver, e nos Açores, em Rabo de Peixe – isso deve ser pensado, ponderado, deve ser avaliado. E depois, falando com as autoridades locais, porque, para todo o efeito, estou à frente da Proteção Civil da cidade do Porto”. “Parece-me um desrespeito pelo poder autárquico, e foi por isso que reagi”, recorda Rui Moreira.