José Sócrates e Marcelo Rebelo de Sousa. No seu habitual espaço de comentário aos domingos à noite, no Jornal da Noite da SIC, Luís Marques Mendes centrou nestes dois personagens a sua análise à sessão solene de comemoração do 25 de Abril na Assembleia da República. No primeiro porque, apesar de não ter estado no Parlamento, conseguiu mobilizar e unir praticamente todos os partidos na luta contra um inimigo comum — a corrupção. No segundo porque, podendo ter escrito um discurso sobre “a espuma dos dias” escolheu aproveitar o 47.º aniversário da Revolução para conciliar os portugueses.

“Sócrates foi o ausente mais presente nestas comemorações. Não houve quase ninguém, com exceção do Presidente, talvez, que não tenha falado de justiça, de combate à corrupção, transparência… Ninguém quer ficar associado a este ativo tóxico, parece que há uma espécie de campeonato para saber qual é o partido que é mais anti-corrupção”, começou por dizer o comentador. “Se isto for um campeonato com alguma racionalidade até pode ser útil. Acho que este fenómeno anti-Sócrates e suspeitas relativamente à corrupção fizeram com que os partidos se unissem para tomar algumas decisões nesta matéria”, acrescentou depois, fazendo questão de recordar a proposta de lei da Associação Sindical dos Juízes sobre o enriquecimento ilícito que, diz, foi quem teve o grande mérito de “unir os partidos”.

Já sobre o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes só teve palavras de apreço e aplauso. “Surpreendeu, não na qualidade, porque ele não sabe fazer maus discursos, mas surpreendeu no conteúdo”, começou por dizer para depois esbanjar nos adjetivos: “excelente”, “bem feito”, “bem lido”, “bem pensado”, “bem fundamentado”.

“Surpreendeu porque não falou dos temas na atualidade, da conjuntura, da espuma dos dias, do trique-trique da política. Foi um discurso de unidade, de coesão, de tolerância, e, sobretudo, de reconciliação do País com a sua história, nomeadamente com a sua história colonial”, avaliou Marques Mendes, recordando as polémicas com os brasões da Praça do Império, o Padrão dos Descobrimentos e a morte de Marcelino da Mata que recentemente polarizaram a sociedade portuguesa e elogiando a iniciativa pacificadora de Marcelo Rebelo de Sousa.

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“O Presidente puxou dos seus galões e do seu papel de conciliador para tentar unir o mais possível estes dois países. E aparentemente conseguiu porque, da direita à esquerda, tirando o Chega, toda a gente aplaudiu”, analisou o comentador, para depois lembrar que “a nossa História tem altos e tem baixos, mas é a nossa História” e por muito que não tenha de ser aceite “de forma acrítica” tem de ser “respeitada”. “Há quem diga que deu uma aula de História. Acho que é mais uma aula de Política sobre a nossa História”, concluiu.

A propósito da pandemia, Marques Mendes analisou, como habitualmente, a situação de Portugal, no contexto europeu, e congratulou-se com o facto de, cinco semanas após o início do desconfinamento, os sinais continuarem a ser positivos. Avisou ainda assim os portugueses para “não embandeirarem em arco” e continuarem a observar os cuidados em vigor enquanto os níveis da população vacinada não forem francamente mais elevados.

Sobre este tema, o comentador fez ainda questão de dizer o que pensa sobre a polémica que esta semana subiu de tom entre o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. “Não há razão nenhuma para estar a discriminar professores e funcionários do Ensino Superior. Eles são professores e eles são funcionários. A maior parte dos professores foi vacinado, teve uma prioridade — se não foram todos foi a esmagadora maioria — e ficaram de fora os professores do Ensino Superior, julgo que são aí à volta de 35 mil. É uma questão de injustiça. Não pode haver aqui dois pesos e duas medidas, professores de primeira e professores de segunda”, disse Marques Mendes, defendendo que o Ministério da Saúde tem de “resolver rapidamente” o assunto.