Wembley, 25 de abril de 2021. Esta era a data aguardada há muito pelos adeptos do Tottenham, esta era a data aguardada há muito por José Mourinho. Quando foi contratado pelo presidente dos londrinos, Daniel Levy, para suceder a Mauricio Pochettino, o português apontava para aquilo que os spurs falhavam desde 2008: títulos. No entanto, e a seis dias de poder discutir esse troféu, acabou por ser despedido. O técnico com um historial de mais de uma década frente a Pep Guardiola tinha até uma estatística positiva frente ao espanhol em duelos contra o Manchester City, somando duas vitórias sem sofrer golos em três encontros, mas não aguentou para chegar a esse quarto jogo numa queda que terá começado de forma mais acentuada na palestra ao intervalo da partida da Premier League no Etihad Stadium, quando a equipa perdia por 1-0 antes de sair derrotada no final por 3-0.

Caiu mais uma bomba no Tottenham: Mourinho despedido a menos de uma semana de disputar final da Taça da Liga

Assim, e depois de uma estreia a ganhar frente ao Southampton no Campeonato, era em Ryan Mason, treinador interino que se tornou o mais novo de sempre a orientar um jogo da Premier League (29 anos), que recaía esse desafio de quebrar um jejum de 13 anos sem títulos. Ainda assim, e como se percebeu na antecâmara da final, ainda era de José Mourinho que se falava. “Para mim foi uma surpresa, sinceramente. Quando cheguei de manhã nesse dia devo ter sabido uns cinco ou dez minutos antes de ser anunciado”, assumiu Harry Kane.

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A palestra no jogo com o City foi a viragem de algo que estava mal, dos treinos às conferências: os bastidores da saída de Mourinho

“Grande parte do nosso foco estava na final da Taça da Liga e na preparação para esse jogo mas é futebol… Já estou aqui desde que alguns treinadores foram dispensados e, como jogador, nunca estás à espera que o boss seja despedido mas faz parte do jogo, temos de lidar com isso. Eu tinha uma grande relação com José [Mourinho], só lhe posso desejar o melhor qualquer que seja o seu próximo desafio, mas ele sabe como nós que o futebol pode ser assim, temos de olhar em frente. Temos uma grande final para preparar e é para isso que devemos olhar agora. O Ryan [Mason] tem sido fantástico, óbvio que para ele também foi um pouco estranho, mas está a lidar com a situação e a vitória com o Southampton foi um grande momento”, sublinhou à Sky Sports, depois de quatro horas de despedida do plantel onde o português terá dito “muitas verdades a alguns jogadores”, como foi descrito pelo The Telegraph após o anúncio da saída do treinador antes do encontro decisivo.

Era neste contexto que o Manchester City, que na semana passada foi afastado nas meias da Taça de Inglaterra frente ao Chelsea, entrava naquele que poderia ser o primeiro troféu de Rúben Dias desde que chegou ao clube. E era nesse foco que o central se mostrava concentrado, até mesmo perante a hipótese de poder vir a ganhar o prémio de Melhor Jogador do Ano. “As nomeações ainda não saíram, ser falado em algo desse género é um enorme privilégio para mim mas diz-me essencialmente que a equipa está a jogar bem. Sendo defesa, estando nessa lista, só pode significar que a equipa teve sucesso. Se me disseres que no primeiro ano na Premier League vou ganhar esse prémio é fantástico mas, meu amigo, aquilo que quero no primeiro ano é ganhar a Premier League. Esse seria o meu maior feito”, comentou o internacional português às plataformas do clube.

O primeiro título do central já está, naquele que foi também o nono de Bernardo Silva pelos ingleses num jogo onde João Cancelo voltou a estar em grande destaque no flanco esquerdo da defesa. E entre a justiça da vitória que pecou apenas por escassa, ficou a imagem de um Tottenham ainda mais curto e frágil sem José Mourinho, que poderia fazer história e tornar-se o técnico com mais triunfos na competição. Ao invés, foi Guardiola que fez a festa, igualando em épocas seguidas as quatro conquistas da Taça da Liga do português, de Alex Ferguson e de Brain Clough no dia em que 8.000 espectadores deram outra cor e vida ao mítico estádio de Wembley.

Com Fernandinho mais fixo no meio-campo à frente dos centrais tendo Kevin de Bruyne e Gündogan como os outros médios e um trio móvel na frente com Mahrez, Phil Foden e Sterling (Bernardo Silva começou no banco), o Manchester City ligou a versão rolo compressor logo desde início e remeteu praticamente toda a primeira parte ao meio-campo do Tottenham, com três boas oportunidades apenas em 15 minutos: após uma grande jogada de Sterling na esquerda que começou num toque de classe de João Cancelo, Phil Foden rematou na área contra a muralha defensiva dos londrinos (7′); Sterling desviou de cabeça ao lado após cruzamento de Mahrez (8′); e de novo Sterling, numa jogada que começou num lançamento lateral na esquerda, apareceu com espaço e tempo sozinho na área mas o remate acabou por ficar nas pernas de Eric Dier (13′). Só dava Manchester City.

A estratégia de Ryan Mason não funcionava em termos ofensivos porque nem Lucas Moura e Son tinham bola para conseguirem desequilibrar nas transições, nem Harry Winks, a novidade na formação inicial ao lado de Lo Celso e Höjberg, conseguiu dar outro critério na primeira fase de construção. Assim, e à exceção de um remate de Alderweireld no seguimento de uma bola parada que saiu muito ao lado, o Tottenham mais não fez do que tentar aguentar o empate quase sem posse (chegou a estar nos 30%) entre mais dez remates dos citizens e mais algumas chances flagrantes como uma bola no poste por Phil Foden após desvio em Alderweireld (25′), dois tiros de Mahrez de pé esquerdo que saíram muito perto da baliza (36′ e 37′) e um remate colocado de João Cancelo de fora da área travado por Hugo Lloris para canto (45+1′). Apesar do domínio, mantinha-se o nulo.

Logo no segundo minuto após o reatamento, e numa jogada onde o adversário estendeu uma passadeira à frente da área, Giovani Lo Celso teve a melhor chance do Tottenham ao longo de todo o encontro com um remate em jeito de pé esquerdo travado com uma grande intervenção pelo norte-americano Zack Steffen, titular no lugar de Ederson (47′). Estava deixado um aviso que condicionou os minutos seguintes do Manchester City mas que seria uma exceção à regra que continuaria a marcar o encontro: mais posse, mais remates, mais oportunidades e mais domínio do Manchester City, que foi pecando na finalização por demérito próprio (remate de Gündogan aos lado aos 72′ após assistência de Sterling) ou por mérito de Hugo Lloris, a travar da melhor forma um cabeceamento de Fernandinho (70′) e a ter uma excecional defesa num transição rápida com remate de Mahrez (73′). A bola não entrava em jogo organização, em jogo posicional e em transições, entrou numa bola parada: De Bruyne marcou um livre lateral na esquerda e Laporte apareceu ao segundo poste para desviar de cabeça para o 1-0 (82′).