Alterações inéditas nos locais e no formato da cerimónia de entrega (que este ano será transmitida pela RTP, no domingo), uma maioria de filmes nomeados que não foram vistos nos cinemas e são provenientes das várias plataformas de “streaming”, uma politização cada vez mais visível. Os Óscares 2021 estão condicionados pelas medidas sanitárias decorrentes da pandemia e também pela agenda ativista a todo o custo que domina Hollywood. Este ano fomos, mais uma vez, buscar as 12 principais categorias e, além dos nomeados cuja vitória parece mais ou menos clara, propomos os vencedores alternativos, quando for caso disso.

Melhor Filme e Melhor Realizador

Quem vai ganhar: “Nomadland-Sobreviver na América” e Chloé Zhao
Quem devia ganhar: “Mank” e David Fincher

Os sinais enviados pelos prémios da indústria e da crítica parecem apontar para a vitória nestas duas categorias do sobrevalorizado filme de Chloé Zhao sobre uma viúva que perde tudo na crise financeira de 2007 e se junta aos muitos americanos que vivem na estrada. Mas “Mank”, de David Fincher, não só tem muito mais cinema e substância dramática do que o superficial e difuso “Nomadland — Sobreviver na América”, como também fala de um episódio lendário da história de Hollywood, a atribuição da autoria do argumento de “O Mundo a Seus Pés”: Herman “Mank” Mankiewicz ou Orson Welles?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Melhor Ator

Quem vai ganhar: Chadwick Boseman
Quem devia ganhar: Anthony Hopkins

Não importa que “Ma Rainey: A Mãe do Blues” seja um filme medianíssimo. Chadwick Boseman, que dá corpo a um músico de jazz insatisfeito e rebelde, morreu depois de o fazer e era o mais destacado ator negro da sua geração, dois argumentos fortíssimos para que este Óscar lhe seja atribuído postumamente. Mesmo que a melhor interpretação desta categoria seja a de Anthony Hopkins, portentoso num octogenário que sofre de demência em “O Pai”, filmado do ponto de vista da personagem principal.

Melhor Atriz

Quem vai ganhar: Frances McDormand
Quem devia ganhar: Vanessa Kirby

Frances McDormand tem contra si o já ter ganho duas vezes este Óscar, a última das quais em 2018, por “Três Cartazes à Beira da Estrada”, e por isso pode ser que Andra Day tenha uma forte oportunidade pela sua interpretação de Billie Holiday em “Estados Unidos Vs. Billie Holiday”. Mas a estatueta ficaria mesmo bem era a Vanessa Kirby, pelo seu papel cheio de cambiantes emocionais e psicológicos  de uma jovem mãe que perde o filho num parto caseiro em “Pieces of a Woman”, de Kornél Mundruczó.

Melhor Actor Secundário

Quem vai ganhar: Daniel Kaluuya
Quem devia ganhar: Leslie Odom, Jr.

Numa categoria em que os dois nomeados por “Judas and the Black Messiah” são na realidade ambos atores principais do filme, e em que quatro dos cinco papéis têm uma pesada componente socio-política, Daniel Kaluuya deverá arrebatar a estatueta pela composição de Fred Hampton, o líder dos Panteras Negras. Embora Leslie Odom, Jr. tenha feito por merecer o Óscar pelo seu intenso retrato do cantor Sam Cooke em “One Night in Miami”.

Melhor Atriz Secundária

Quem vai e merece ganhar: Yuh-Jung Yun

A consagrada atriz sul-coreana que interpreta a extraordinária avó da família que se instala no interior dos EUA para tentar ganhar a vida numa quinta em “Minari”, merece inteiramente este Óscar. Isto embora a Academia possa ser “caseira” e possa preferir Glenn Close, que também personifica uma avó dedicadíssima aos seus, e sobretudo a um dos netos, em “Hillbilly Elegy”. Mas há ainda Amanda Seyfried na loura Marion Davis em “Mank”…

Melhor Argumento Original

Quem vai ganhar: “Os 7 de Chicago”
Quem devia ganhar: “Minari”

Tendo em conta o predomínio dos argumentos políticos e “militantes” nesta categoria, Aaron Sorkin deverá sair vencedor pelo seu trabalho em “Os 7 de Chicago”, mesmo apesar de tomar bastantes liberdades com os acontecimentos retratados. Emerald Fennel também é uma forte hipótese no raivosamente feminista “Uma Miúda com Potencial”. Por isso, o trabalho sensível e caloroso de Lee Isaac Chung em “Minari” não parece ter hipótese.

Melhor Argumento Adaptado

Quem vai ganhar: “Nomadland-Sobreviver na América”
Quem devia ganhar: “O Tigre Branco”

Como várias outras este ano, esta é uma categoria de muito difícil previsão. Se o argumento de “Nomadland — Sobreviver na América”, baseado no livro de reportagem de Jessica Bruder, parece ter mais peso do que os seus quatro concorrentes, o de “O Tigre Branco”, tirado do romance de Aravind Adiga, junta as peripécias romanescas de sabor dickensiano a um retrato impiedoso da sociedade de castas da Índia. E “O Pai”, de Florian Zeller e Christopher Hampton, extraído da peça do primeiro, também está ali a espreitar.

Melhor Filme Internacional

Quem vai e merece ganhar: “Mais uma Rodada”, de Thomas Vinterberg (Dinamarca)

A colheita internacional deste ano dos Óscares é mesmo muito boa, mas arriscamos a aposta na tragicomédia de Thomas Vinterberg sobre um grupo de amigos, todos professores liceais, que decidem fazer uma experiência coletiva controlada sobre consumo de bebidas alcoólicas, com resultados muito díspares no plano pessoal, profissional e familiar. E se não for para “Mais uma Rodada”, este Óscar também será bem entregue a “Better Days” (Hong Kong”) ou “Collective” (Roménia).

Melhor Fotografia

Quem vai e merece ganhar: Eric Messerschmidt, por “Mank”

Entre a câmara e o computador, Eric Messerschmidt consegue que a personalidade visual semi-fantasmagórica de “Mank”, de David Fincher, rodado a preto e branco, esteja assombrosamente próxima da das fitas que se rodavam nos anos 30 em que a ação se passa. Só mesmo o céu aberto e as estradas a perder de vista de Joshua James Richards (“Nomadland — Sobreviver na América”) o podem ameaçar.

Melhor Documentário de Longa-Metragem

Quem vai ganhar: “Time”
Quem devia ganhar: “A Sabedoria do Polvo”

O trabalho da realizadora Garrett Bradley sobre o caso policial e jurídico que mudou dramaticamente a vida dos membros de uma família negra do Sul dos EUA, tem todos os ingredientes para triunfar nesta categoria (tal como, aliás, “Crip Camp”, que revisita um pioneiro campo de férias para deficientes fundado nos anos 70). Mas o impressionante filme de Pippa Ehrlich e James Reed sobre o laço estabelecido entre um homem e um polvo, que revela as peculiaridades e a inteligência destes animais, estava mesmo a pedir este prémio.

Melhor Animação de Longa-Metragem

Quem vai ganhar: “Soul — Uma Aventura com Alma”
Quem devia ganhar: “Wolfwalkers”

O mais certo é a Disney/Pixar, habitual papa-Óscares das categorias de animação, arrebatar de novo este ano esta estatueta, embora com um “Soul — Uma Aventura com Alma” mais ambicioso do que conseguido, sobretudo no aspeto narrativo. Mas como era bom que os irlandeses da Cartoon Saloon lho “roubassem” com o deslumbrante “Wolfwalkers”, realizado com técnicas tradicionais e exibindo uma história que mergulha em profundidade no manancial do fantástico celta.