A disciplina favorita é matemática, gosta de andar de bicicleta e de jogar computador, é fã da saga Harry Potter, dos The Weeknd e dos Maroon 5, adora gelado de baunilha com chocolate e granulado colorido, é cinturão roxo em taekwondo e tem um cão esquimó americano chamado Cream.

Podia ser a descrição de qualquer criança, mas Alan S. Kim, que fez nove anos na sexta-feira, é especial: bastou o primeiro papel no cinema, em “Minari” de Lee Isaac Chung (que estava nomeado para as principais categorias, incluindo Melhor Filme), para conquistar um lugar na cerimónia dos Óscares. Antes de desfilar na passadeira vermelha, já tinha ganhado um BAFTA e um Critics’ Choice Award.

O sobrenome que Alan Kim encurta para um simples “S.” é o nome sul-coreano do rapaz: “Sun”, que significa “gentil”, e é mesmo assim que os norte-americanos o descrevem depois de se ter desfeito em lágrimas ao receber o Critics’ Choice Award: “Isto é um sonho?”, questionou. Depois comeu pizza com a família para celebrar.

Nascido em Chicago, criado na Califórnia, Alan Kim interpreta o papel de David Yi, filho norte-americano de emigrantes sul-coreanos, que vive em Arkansas com a família e se debate com um problema cardíaco. Foi a mãe que o encaminhou durante os 25 dias de gravações, ajudando-o a decorar o guião.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A minha mãe trabalhou comigo e ajudou-me a memorizar as falas”, partilhou o jovem ator. Quando teimava em esquecer-se de determinadas palavras, a mãe gesticulava para puxar pela memória visual. E se a cena exigisse uma atuação mais emotiva, seguia o conselho da progenitora: “Lembra-te do filme mais triste que viste”.

A verdade é que a família de Alan Kim é experiente nestas andanças. A irmã do rapaz, Alyssa Kim, é atriz de teatro e interpretava a jovem versão de Elsa, do filme “Frozen” da Disney, num musical antes de o espetáculo ter sido suspenso à conta da pandemia.

Mas Alan não estava especialmente interessado na sétima arte: até à participação em “Minari”, limitava-se a protagonizar anúncios publicitários. E podia ter-se ficado por aí, não fosse a interpretação que realmente conquistou o realizador durante os castings: aquela em que Alan finge tomar medicamentos que sabem pessimamente.

A candura do pequeno ator transpareceu no próprio filme, relata Alan: numa ocasião, estava tão cansado dos quentes dias de gravação, que acabou mesmo por adormecer numa cena que envolvia uma viagem de carro. Acordou atordoado e o realizador decidiu manter o momento no filme.

Mas nem por isso Alan Kim era tratado como uma mera criança pela restante equipa de “Minari”. O próprio Lee Isaac Chung contou que estabeleceu uma regra ao fim de dois dias de gravação: “Ninguém pode falar com ele como se fosse um bebé ou celebrar demais o que ele faz. Tratem-no como profissional e ele vai atuar como um“.

Agora, Alan Kim prepara-se para um novo papel em “Latchey Kids” e olha para o futuro com todas as possibilidades em aberto — até uma em que nem sequer se torna ator profissional. Mas vê-se a fazer de tudo no cinema. Bem, quase tudo: dispensa filmes de terror e detesta romances.