Apenas 25% dos idosos que participaram num estudo de efetividade do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) das vacinas contra a Covid-19 desenvolveram anticorpos contra o SARS-CoV-2 com a primeira dose. A percentagem subiu para 95% após a administração da segunda dose, mas cinco em cada 100 voluntários ficaram sem proteção contra a Covid-19 depois de terem concluído o esquema vacinal.

Os resultados preliminares desta análise reforçam a importância de não aligeirar as medidas de contenção e de proteção individual que a Covid-19 exige há um ano, defende o IGC, como o cumprimento do distanciamento físico, a desinfeção regular das mãos e a utilização de máscaras como uma regra de higiene respiratória. Mais: pode ser preciso “ajustar as políticas de vacinação” ou investir numa “possível revacinação”.

Mas administrar a segunda dose da vacina a todos os idosos, mesmo que já tenham tido Covid-19, não é necessariamente uma solução. Carlos Penha Gonçalves, investigador da Gulbenkian e co-organizador do estudo, explica que outros estudos já demonstraram que as pessoas infetadas têm nível de anticorpos “apreciáveis” e que, ao fim de uma dose da vacina, ficam com uma proteção semelhante à conferida pelo esquema vacinal completo.

Esta questão não foi endereçada neste estudo, mas o facto de os casos de reinfeção serem raros sustenta estes resultados. Carlos Penha Gonçalves acredita que, à medida que as vacinas contra a Covid-19 disponíveis se tornam mais abundantes, haverá espaço para se poder vacinar quem neste momento não era elegível para receber a segunda dose.

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O estudou envolveu a participação de 191 idosos, todos eles com mais de 70 anos, residentes em quatro lares de Almeirim (São José, Centro Paroquial, ACRAS e Vila Campo) e vacinados com a Pfizer/BioNTech. As medições dos anticorpos contra o SARS-CoV-2 ocorreram antes da vacinação, três a quatro semanas após a administração da primeira dose e novamente três semanas após a segunda dose.

Constatou-se que a segunda dose da vacina é essencial para o desenvolvimento de uma resposta imunitária contra o vírus, uma vez que a maioria das pessoas nesta faixa etária não desenvolveu anticorpos apenas com uma dose da vacina e, por isso, continuou desprotegida contra o vírus no período entre as duas administrações. Ou seja, a resposta à primeira dose é muito mais ténue nas faixas etárias mais avançadas.

Isso não surpreendeu Carlos Penha Gonçalves, porque o sistema imunitário das pessoas mais velhas não responde a infeções e às vacinas com a mesma robustez que as pessoas mais jovens. No entanto, importa apurar porquê e que impacto poderá isso ter no alcance da imunidade de grupo, defendeu a outra organizadora do estudo, a imunologista Jocelyne Demongeot.

Telmo Nunes, investigador da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa envolvido no projeto, não encontrou um padrão que justifique porque é, mesmo após a segunda dose, 5% dos vacinados não ficam protegidos contra a Covid-19: os cientistas não encontraram relação com o intervalo entre as duas doses, nenhum dos indivíduos estava em tratamento imunossupressor e só um deles era doente oncológico.

Este estudo decorreu no concelho de Almeirim, que na segunda-feira recorreu às redes sociais para alertar que havia 400 pessoas com mais de 65 anos por vacinar contra a Covid-19. Em conferência de imprensa na apresentação do estudo, Pedro Ribeiro, presidente da Câmara, explicou que estes problemas estavam relacionados com a desatualização de dados.

Desde a publicação desse apelo, muitas destas pessoas já contactaram as autoridades de saúde e já marcaram a vacinação contra a Covid-19. O estudo junta-se a este esforço da autarquia, considera Pedro Ribeiro: “Este estudo é importante também para quem as pessoas percebam a importância da vacinação“, respondeu o autarca, que se definiu como “um defensor da ciência”, ao Observador.